Agência de Notícias
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 18h59.
Foi aberto nesta segunda-feira, em Paris, o processo de apelação no qual Airbus e Air France voltaram a rejeitar sua responsabilidade pelo acidente com o voo A330 entre Rio de Janeiro e Paris que matou 228 pessoas há 16 anos.
A nova etapa na justiça ocorre dois anos após o veredicto em primeira instância que absolveu as empresas do setor aéreo.
Apesar do tempo decorrido, o início do julgamento foi marcado pela emoção da lembrança quando foram lidos os nomes dos 216 passageiros e 12 membros da tripulação que morreram, de 33 nacionalidades, com maioria de franceses (72), brasileiros (58) e alemães (26).
Nos rostos de familiares também se viu indignação quando os CEOs de Air France e Airbus, Anne Rigail e Guillaume Faury, respectivamente, tomaram a palavra pela primeira e única vez durante o processo, que durará até o final de novembro, para expressar condolências, mas rejeitar qualquer responsabilidade criminal.
“Um discurso ditado, sem qualquer humanidade”, afirmou o advogado da principal associação de vítimas, Alain Jakubowicz, refletindo assim a decepção que invade os familiares das vítimas.
Os executivos das duas gigantes do setor aéreo se amparam nos mesmos argumentos que em 2022 pesaram para as companhias serem absolvidas em primeira instância, diante da falta de vínculo direto entre possíveis negligências e o acidente.
A conclusão não convence os parentes das vítimas, como declarou à Agência EFE o vice-presidente da principal associação que os representa, Philippe Linguet, que se recusa a acreditar que, após o drama em que perdeu um irmão, não haja nenhum responsável.
Os numerosos relatórios periciais reconhecem uma falha nas sondas de velocidade do A330 e que os pilotos não souberam aplicar os protocolos para este tipo de eventualidades que, nos dois anos anteriores, tinham sido muito comuns.
Linguet acredita que a justiça “tem que ser corajosa” e ir um pouco além no que ele descreve como “uma luta de Davi contra Golias”, e ressaltou que nunca antes as três sondas de uma mesma aeronave haviam falhado ao mesmo tempo.
“A Airbus não deu atenção à sucessão de problemas que vinham ocorrendo nessas sondas. E a Air France não havia treinado adequadamente seus pilotos para lidar com eles”, acrescentou.
Faury e Rigail não concordaram com a análise e rejeitaram qualquer responsabilidade criminal em um caso em que suas empresas são acusadas de homicídio culposo.
“A Air France sustenta que não cometeu nenhum crime penal”, afirmou Rigail, enquanto Faury acrescentou que a segurança aérea é “uma obsessão” de sua empresa e que acidentes como o que ocorreu em 1º de junho de 2009 nas águas do Atlântico devem servir de lição para melhorar a segurança aérea.
“O acidente foi por azar?”, questionou ironicamente o advogado Jakubowicz, que diante do tribunal confrontou os dois executivos e os repreendeu por, “16 anos após o acidente, dois pilares da indústria francesa serem incapazes de saber o que aconteceu naquela noite”.
Os fatos foram lidos com parcimônia pela presidente do tribunal, que relatou que o avião decolou sem problemas do Rio de Janeiro e, quatro horas depois, caiu nas águas do Atlântico, sem deixar sobreviventes, devido a uma sucessão de decisões erradas dos pilotos induzidas pela leitura incorreta proveniente das sondas congeladas.
“Os pilotos lutaram até o fim, fizeram tudo o que puderam”, declarou a presidente do tribunal, ignorando o roteiro do relatório anterior, mas sem dar esperanças às vítimas sobre qual será o veredicto.
“Estamos aqui para descobrir a verdade, não para procurar culpados. Ao longo do julgamento, veremos se alguém cometeu erros”, declarou.
Será uma nova oportunidade para reabrir o caso do maior acidente da aviação francesa, que continua muito vivo entre os familiares que querem lutar até o fim para saber o que aconteceu.