Agência de notícias
Publicado em 17 de julho de 2025 às 14h59.
O Reino Unido e a Alemanha assinaram um tratado de defesa mútua nesta quinta-feira, uma medida que evidencia como os líderes europeus estão se unindo para enfrentar um cenário de segurança abalado pela política externa do "America First", do presidente Donald Trump, e pela guerra na Ucrânia.
O acordo anglo-alemão, assinado pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e pelo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, durante sua visita a Londres, abrange energia, cooperação econômica e migração, além de defesa. Ele se baseia em um acordo assinado em outubro do ano passado, segundo o qual os dois países concordaram em cooperar em defesa mútua, com exercícios militares conjuntos e desenvolvimento de armas sofisticadas.
O tratado inclui o compromisso de ambos os países de considerar uma ameaça contra um como uma ameaça contra o outro, declarando que "ajudarão um ao outro, inclusive por meios militares, em caso de um ataque armado". Essa linguagem ecoou a adotada pelo Reino Unido e pela França, que se comprometeram, na semana passada, a coordenar mais estreitamente seus arsenais nucleares em resposta a ameaças contra aliados europeus.
Merz, líder de centro-direita que assumiu o poder em maio, emergiu rapidamente como um pilar fundamental no esforço da Europa para construir um papel mais independente em sua segurança desde o retorno de Trump à Casa Branca. Já Starmer também tentou posicionar o Reino Unido como um ator-chave no apoio europeu à Ucrânia.
A Alemanha não possui armas nucleares, mas é o terceiro maior fornecedor de equipamentos militares para a Ucrânia, depois dos Estados Unidos e do Reino Unido, segundo o Instituto Kiel para a Economia Mundial. Sob o comando de Merz, a Alemanha concordou em aumentar seus gastos militares para 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2029, seu rearmamento mais ambicioso desde o fim da Guerra Fria.
O Reino Unido e a Alemanha fizeram progressos nos últimos anos no fortalecimento da cooperação em segurança e outras relações com a França, disse Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores, uma organização de pesquisa. Mas a relação britânico-alemã tem evoluído mais lentamente.
— A assinatura deste tratado realmente é um grande passo — afirmou Leonard.
Georgina Wright, pesquisadora sênior do Fundo Marshall Alemão em Paris, disse que o tratado foi, em certo sentido, uma "vitória fácil" para os países, já que o Reino Unido e a Alemanha não possuíam uma estrutura institucional que formalizasse sua cooperação em defesa.
— Tratava-se de preencher uma lacuna muito clara — disse ela.
Autoridades alemãs disseram a repórteres esta semana que o acordo, ao qual se referem como um "contrato de amizade", é o mais recente esforço para aproximar os dois países em um momento de maiores preocupações com a segurança e para reduzir as divisões que foram abertas pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Em um momento de estagnação econômica no Reino Unido e na Alemanha, o "acordo de amizade" inclui medidas para fortalecer os laços comerciais, desde uma parceria em pesquisa científica até a melhoria das conexões ferroviárias. Além disso, também inclui diversas medidas relacionadas à migração.
Trata-se de uma nova cooperação para combater o tráfico de pessoas e esforços mais direcionados para facilitar a visita de cidadãos britânicos ou alemães aos países uns dos outros após o Brexit — como passagem mais fácil para britânicos em aeroportos alemães e requisitos mais simples para estudantes alemães que visitam Londres.
A migração foi o tema central da visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Reino Unido. Ele e Starmer concordaram com um programa piloto, apelidado de "um entra, um sai", segundo o qual o Reino Unido enviaria de volta à França cerca de 50 pessoas por semana que tivessem feito travessias arriscadas do Canal da Mancha em pequenos barcos. Em troca, aceitaria um número comparável de migrantes com pedidos de asilo processados no Reino Unido.
Por razões de protocolo diplomático, a visita de Merz será mais modesta e formal do que a de Macron, que participou de um passeio de carruagem e de um banquete no Castelo de Windsor. Ao contrário do presidente francês, Merz não é um chefe de Estado (a Alemanha tem um presidente em grande parte cerimonial). Starmer é o anfitrião do chanceler, enquanto o Rei Carlos III convidou Macron, retribuindo sua própria visita de Estado à França em 2023.
Quando Trump fizer a esperada e rara segunda visita de Estado ao Reino Unido em meados de setembro, ele, assim como Macron, receberá todo o requinte e ostentação. Ainda neste mês, o republicano fará uma visita semiprivada aos seus dois clubes de golfe na Escócia. Espera-se que ele se encontre com Starmer, embora não com o rei, enquanto estiver lá.
Ainda assim, a falta de pompa e ostentação do Sr. Merz diz pouco sobre a importância do relacionamento entre ele e o Sr. Starmer. Ambos são líderes centristas, lutando para governar em sistemas políticos polarizados.
Ambos também são relativamente novos, o que significa que podem trabalhar juntos por anos. Starmer acaba de completar um ano de mandato; Macron, por outro lado, está no crepúsculo de sua presidência, com eleições na França marcadas para 2027.