'Alligator Alcatraz': conheça o novo centro de detenção dos EUA para migrantes (Freepik/ Montagem EXAME)
Redação Exame
Publicado em 1 de julho de 2025 às 16h53.
Os pântanos de Everglades, área de 20.000 quilômetros quadrados no sul da Flórida que abriga a maior população de jacarés e crocodilos do mundo em temperaturas extremas e mata densa, são conhecidos como santuário de preservação natural — e também como um dos locais mais inóspitos dos Estados Unidos. Para Donald Trump, no entanto, o cenário é perfeito para abrigar um centro de detenção para imigrantes.
O presidente dos Estados Unidos, acompanhado do governador da Flórida, Ron DeSantis, inaugurou nesta terça-feira, 1º, o "Alligator Alcatraz", novo centro de detenção para migrantes no estado, localizado na área. A instalação, cujo objetivo é acelerar o processo de deportações, contará com juízes de imigração no local e promete uma segurança natural para se tornar "impenetrável" — isto é, os crocodilos e animais selvagens que habitam na região.
"Estamos oferecendo a nossa Guarda Nacional e outros membros da Flórida como voluntários para atuarem como juízes de imigração. Estamos trabalhando com o Departamento de Justiça para obter aprovações", disse DeSantis à imprensa norte-americana nesta terça.
O "Alligator Alcatraz" será patrulhado pela Guarda Nacional da Flórida, e a operação, com custo inicial estimado em US$ 450 milhões, está sendo financiada com o apoio do governo do estado — que pretende pedir reembolsos ao governo federal.
Antiga pista de aeroporto Dadelier Training Transition Airport, no coração dos Everglades (Google Earth/ Reprodução)
Inicialmente, o centro de detenção terá capacidade para 5 mil migrantes. Foi construído, propositalmente, em uma área de difícil acesso, cercada por zonas úmidas e fauna rica.
Estima-se que entre 1.500 e 2.000 exemplares adultos de crocodilos ocupe toda a Flórida, espécie ainda considerada ameaçada, mas em recuperação — e o pântano concentra a maior parte desses animais. Por lá, também existem pítons birmanesas e outras espécies selvagens perigosas.
"Temos muitos guarda-costas e muitos policiais na forma de jacarés. Não é preciso pagar muito a eles", comentou Trump durante a inauguração do espaço.
A instalação foi erguida em tempo recorde de oito dias, com estruturas temporárias — como tendas e trailers —, acima de uma antiga pista de aeroporto chamada Dadelier Training Transition Airport, no coração dos Everglades. O terreno ocupa cerca de 100 km² e conta com apenas uma estrada de entrada e saída. No futuro, espera abrigar cerca de 10 mil migrantes.
A localização gerou polêmica entre ambientalistas, que alegam que as autoridades violaram leis ambientais para acelerar a construção.
Manifestantes protestam contra a visita do presidente dos EUA, Donald Trump, a um centro de detenção de migrantes, apelidado de "Alligator Alcatraz", localizado no local do Aeroporto de Treinamento e Transição Dade-Collier, em Ochopee, Flórida (Giorgio VIERA / AFP)
A área dos Everglades é um dos mais importantes ecossistemas do planeta, reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO, e grupos como Friends of the Everglades e Center for Biological Diversity chegaram a entrar com uma ação na Justiça para impedir a obra, devido à falta de estudos ambientais obrigatórios.
Para além do impacto ambiental, a proposta de DeSantis e Trump de usar o local para abrigar migrantes tem gerado forte reação de políticos e defensores dos direitos humanos. Maxwell Frost, ativista e representante do Congresso da Flórida, classificou o centro como "um espetáculo cruel" e afirmou que a instalação é uma forma de "tortura física e psicológica para imigrantes".
Apesar da controvérsia, DeSantis defende que a instalação é necessária para a segurança do país e que as condições, embora temporárias, irão fornecer o mínimo necessário para o bem-estar dos detidos.
Presidente Donald Trump explica detalhes sobre a 'Alligator Alcatraz' durante inauguração do espaço (ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)
Uma das maiores promessas de campanha de Trump era a deportação de imigrantes ilegais nos Estados Unidos — fator que tem motivado uma série de protestos no país, sobretudo na Califórnia. O presidente chegou, inclusive, a oferecer US$ 1 mil, financiados pelo Governo dos EUA, para que essas pessoas se "autodeportassem".
Até junho, segundo reportagem da revista Time, a gestão Trump confirmou ter deportado 207 mil pessoas do país. Como efeito de comparação, 271 mil haviam sido deportadas de setembro de 2023 a 2024, data que marca o calendário fiscal dos EUA.
Para fazer frente a esse desafio, entre janeiro e maio de 2025, houve aumento de 50% nos gastos federais com empresas privadas que operam centros de detenção e transporte de deportados, segundo apuração do The Wall Street Jornal.
No primeiro mandato de Trump (2017-2020), foram deportados cerca de 935 mil imigrantes — 226 mil em 2017, 256 mil em 2018, 267 mil em 2019 e 185 mil em 2020.