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Publicado em 16 de julho de 2025 às 12h11.
O aumento da inflação nos Estados Unidos começa a gerar preocupações no governo Trump, à medida que o impacto das tarifas impostas pelo presidente se reflete nos preços e ameaça pressionar sua agenda econômica e política.
A inflação dos EUA subiu 2,7% em junho na comparação anual, o maior ritmo desde fevereiro. Produtos como eletrodomésticos subiram 1,9%, enquanto móveis e roupas ficaram mais caros em 1% e 0,4%, respectivamente. A alta está ligada diretamente às tarifas impostas por Trump em abril sobre importações de vários países, numa estratégia que, segundo economistas, pode afetar ainda mais o aumento dos preços.
“O relatório divulgado pelo Bureau of Labor Statistics não foi imediatamente ‘devastador’ para o governo Trump”, afirmou Padhraic Garvey, do ING, ao The New York Times. “Mas a tendência não é positiva para a Casa Branca e vai se tornando mais difícil para Trump negar que suas políticas estejam afetando os preços.”
Mesmo após uma trégua de 90 dias, o presidente não conseguiu firmar os acordos comerciais que esperava e voltou a ameaçar novas tarifas, que devem entrar em vigor em 1º de agosto. O Brasil, por exemplo, está entre os mais afetados, com tarifa prevista de 50%. Canadá, União Europeia e México devem enfrentar aumentos de até 35%, enquanto Japão, Coreia do Sul e Tailândia também foram incluídos na nova rodada de taxas.
Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon, alertou que a tarifa média pode subir para cerca de 21% após agosto, o que representa “um grande risco para a economia”. “Enquanto as tarifas não forem retiradas, o risco é de que a inflação siga subindo, prejudicando o consumo e a confiança dos investidores”, afirmou Daco ao NYT.
Analistas do Goldman Sachs também projetam que, caso as tarifas de Trump sejam totalmente implementadas, a inflação poderia ficar até um ponto percentual mais alta até o fim do ano.
O governo tenta minimizar os efeitos, mas há crescente desconforto político. Trump insiste em culpar o Federal Reserve (Fed) pela alta de preços, pressionando o banco central a reduzir os juros. “Os números foram muito bons, ficaram totalmente dentro da margem”, disse Trump a jornalistas. “Então, não tivemos inflação. Tudo o que temos é que estamos ganhando uma fortuna.”
No entanto, o republicano ignorou dados que mostram que consumidores e empresas já estão sentindo os efeitos das tarifas nos preços. “Até este relatório, podia-se argumentar que a inflação estava em uma trajetória de queda. Agora, estamos em uma trajetória de alta,” disse Garvey ao New York Times.
Na terça-feira, Trump voltou a atacar Jerome Powell, presidente do Fed, o acusando de fazer um “trabalho terrível” e exigindo juros mais baixos. Mais cedo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que a Casa Branca já iniciou o processo para identificar um possível substituto para Powell, embora o mandato do presidente do Fed termine apenas em maio de 2026. Segundo o jornal, o próprio Bessent é um dos cotados ao cargo.
Mesmo alguns aliados de Trump admitem preocupação com o cenário. “É preciso ter atenção para garantir que a inflação não suba para 3% ou 4%, ou as pessoas vão começar a pensar que essas políticas fracassaram”, afirmou Stephen Moore, ex-assessor econômico de Trump.
Alan Detmeister, ex-economista do Fed, prevê que a inflação pode chegar a 3,4% sem tarifas adicionais, mas pode ultrapassar 4% caso as novas medidas de Trump sejam implementadas, elevando o risco político para a Casa Branca.