Agência de notícias
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 09h01.
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, nesta quarta-feira, que deixou 17 mortos, reacendeu a memória de um episódio semelhante ocorrido em 7 de maio de 2018. Naquele ano, o histórico elevador também saiu dos trilhos, no entanto, sem causar vítimas, mas já levantando dúvidas sobre a segurança do transporte, de acordo com o jornal local SiC Notícias.
Na ocasião, a carruagem não tombou, mas ficou apoiada sobre a calçada. O acidente forçou a paralisação do serviço por cerca de um mês. A Carris, empresa responsável pela operação, classificou o problema como uma “anomalia técnica” e assegurou que, após manutenção, o veículo voltaria a circular em “perfeitas condições de segurança” por dois anos.
Especialistas, porém, viam no episódio sinais claros de falhas estruturais. António Carloto, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC), afirmou ao jornal Público em 2018:
"Descarrilou e desta vez não houve consequências. Da próxima poderá não ser assim. É claro que houve aqui incúria".
Naquele período, o desgaste das rodas que encaixam nos trilhos — essenciais para evitar descarrilamentos — já era visível. O problema teria provocado a saída do ascensor dos carris. Inaugurado em 1885 e operado pela Carris desde 1926, o Elevador da Glória sempre foi visto como um ícone turístico de Lisboa, ligando a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto.
Especialistas explicam que o sistema do tradicional ascensor, que liga o Largo dos Restauradores ao Bairro Alto, combina tração elétrica e um cabo responsável pelo contrapeso entre as duas cabines. Em entrevista à SIC, Fernando Nunes da Silva, especialista em engenharia e ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa, disse que uma possível causa para o acidente teria sido o rompimento de um dos cabos de tração, o que fez com que o elevador perdesse o controle.
O presidente da Carris, responsável pela gestão do elevador, garantiu que a transportadora tem “protocolos excelentes” de segurança e anunciou a abertura de “um inquérito” interno para apurar as causas do incidente.
"É um dia de consternação. No que diz respeito à manutenção, o protocolo foi cumprido. Há 14 anos a manutenção é feita pela mesma empresa", disse.
Testemunhas relataram que, instantes antes da colisão, uma das cabines do bonde teria descido cerca de um metro, até que a outra, em alta velocidade, atingiu um prédio em uma curva da calçada.
"Pelo que se consegue ver pelas imagens, o mais provável é que se tenha quebrado um cabo de tração, e ao quebrar não funcionou os freios que normalmente deviam funcionar numa situação destas", explicou Silva.