O general do Exército da Guiné-Bissau, Horta N'Tam, posa após tomar posse como líder da transição e líder do Alto Comando em Bissau (PATRICK MEINHARDT / AFP/Getty Images)
Repórter
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 17h41.
Os militares de Guiné-Bissau anunciaram, nesta quinta-feira, 27, a nomeação de um general como presidente interino do país, um dia após o golpe que resultou na prisão do presidente em exercício e na suspensão do processo eleitoral em andamento.
O general Horta N'Tam foi designado para o cargo de presidente e chefe da junta militar, com mandato de um ano, conforme explicaram os militares em uma coletiva de imprensa realizada em Bissau.
Esse golpe junta-se a uma série de acontecimentos semelhantes que têm ocorrido na região desde 2020, incluindo nos países vizinhos Mali, Burkina Faso, Níger e Guiné.
"Acabo de ser investido para liderar o Alto Comando", declarou o general Horta N'Tam, até agora chefe do Estado-Maior do Exército de terra, após prestar juramento no quartel-general das Forças Armadas, segundo jornalistas da agência AFP.
E acrescentou: "Guiné-Bissau atravessa um período muito difícil da sua história. As medidas que se impõem são urgentes e importantes, e requerem a participação de todos".
O golpe aconteceu na véspera da divulgação dos resultados provisórios das eleições presidenciais e legislativas, que ocorreram no último domingo. Tanto o presidente em fim de mandato, Umaro Sissoco Embaló, quanto o opositor Fernando Dias de Costa, haviam declarado a vitória nas eleições.
Na sua primeira declaração na quarta-feira, os militares afirmaram ter assumido "o controle total do país", anunciando também a prisão de Embaló e a paralisação do processo eleitoral em andamento.
"O que nos levou a fazer isso (o golpe) foi o desejo de garantir a segurança a nível nacional e restabelecer a ordem", declarou à imprensa o general Denis N'Canha, chefe do gabinete militar da presidência.
O general justificou a ação ao afirmar que os serviços de inteligência haviam identificado “um plano para desestabilizar o país, envolvendo figuras-chave do tráfico de drogas”. De acordo com ele, o plano visava a introdução de armas no território com o objetivo de “alterar a ordem constitucional”.
Guiné-Bissau, um país empobrecido com uma população de apenas 2,2 milhões de habitantes, enfrenta graves problemas de corrupção e é amplamente conhecido por ser um ponto de trânsito crucial para o tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa, um problema que é agravado pela sua instabilidade política contínua.
O presidente Embaló, detido pelos militares na quarta-feira, estava sendo "adequadamente" tratado, conforme informou uma fonte militar.
Também foi preso na quarta-feira, de acordo com duas fontes próximas, o líder opositor Domingos Simões Pereira, que havia sido barrado pelo Supremo Tribunal de concorrer à presidência.
Desde a sua independência de Portugal, em 1974, Guiné-Bissau já sofreu quatro golpes de Estado, além de várias tentativas frustradas de golpe.
Nesta quinta-feira, eram visíveis vários postos de controle militar nas principais avenidas da capital, Bissau. Os soldados inspecionavam os veículos de maneira rigorosa e monitoravam atentamente a área em torno do palácio presidencial, onde a população havia se mostrado alarmada no dia anterior ao ouvir disparos no início do golpe.
A circulação era reduzida e a maioria dos comércios permanecia fechada.
(Com informações da agência AFP)