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Após polêmica com Dinamarca, vice de Trump anuncia viagem para Groenlândia

A visita de uma comitiva americana já estava prevista para sexta-feira, mas sem a participação de J.D. Vance; primeira-ministra dinamarquesa fala em 'pressão inaceitável'

Visita de J.D. Vance à Groenlândia: tensões aumentam com Dinamarca e Groenlândia em meio à crescente rivalidade geopolítica no Ártico (Odd Andersen/AFP)

Visita de J.D. Vance à Groenlândia: tensões aumentam com Dinamarca e Groenlândia em meio à crescente rivalidade geopolítica no Ártico (Odd Andersen/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 25 de março de 2025 às 18h52.

Última atualização em 25 de março de 2025 às 19h13.

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O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, anunciou nesta terça-feira que acompanhará sua esposa, Usha, em uma viagem para a Groenlândia, um território autônomo dinamarquês cobiçado pelo presidente Donald Trump. O anúncio veio poucas horas após a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, classificar como uma “pressão inaceitável” a visita de autoridades americanas a essa ilha gelada apelidada de "tesouro do Ártico" devido às suas riquezas minerais.

Vance, que se tornou o cão de ataque de Trump em questões de política externa, disse que visitaria os membros da Força Espacial dos EUA baseados na ilha, mas também “verificaria o que está acontecendo com a segurança” da Groenlândia.

— Havia tanta expectativa para a visita de Usha à Groenlândia nesta sexta-feira que eu decidi que não queria que ela se divertisse sozinha, então eu a acompanharei — disse Vance em um vídeo publicado no X.

O anúncio foi feito poucas horas após a crítica de Frederiksen sobre a visita da esposa do vice-presidente dos EUA, considerando a pressão sobre o território dinamarquês como “inaceitável”. A Casa Branca havia previamente anunciado que Usha Vance visitaria a Groenlândia de quinta a sábado para participar da corrida nacional de trenós puxados por cães em Sisimiut, na costa noroeste.

Interesse dos EUA na Groenlândia e reação política local

Desde que voltou ao poder em janeiro, Trump tem insistido que quer que os EUA assumam o controle da Groenlândia para fins de segurança nacional e tem se recusado a descartar o uso da força.

Em seu anúncio, Vance disse que outros países tentaram usar o território para “ameaçar os Estados Unidos, ameaçar o Canadá e, é claro, ameaçar o povo da Groenlândia”.

— Falando em nome do presidente Trump, queremos revigorar a segurança do povo da Groenlândia — acrescentou Vance. — [Os líderes dos EUA e da Dinamarca] ignoraram a Groenlândia por tempo demais. Achamos que podemos levar as coisas em uma direção diferente.

Reações locais e críticas ao envolvimento dos EUA

A visita ocorre em meio a um período de transição política na Groenlândia, que aguarda a formação de um novo governo após as eleições legislativas realizadas em 11 de março. A corrida de trenós puxados por cães foi amplamente patrocinada pelo consulado dos EUA em Nuuk, informou a mídia da Groenlândia. Mas as visitas irritaram os políticos dinamarqueses e groenlandeses.

— Não se pode organizar uma visita particular com representantes oficiais de outro país — disse Frederiksen aos repórteres nesta terça-feira. — Quando você organiza uma visita como esta e os líderes políticos da Groenlândia dizem que não a querem, não pode ser interpretado como um sinal de respeito.

O primeiro-ministro interino da Groenlândia, Mute Egede, declarou que “não haverá nenhuma reunião” com a delegação dos EUA, pois "os americanos foram claramente informados que só poderá haver [encontros oficiais] após a posse do novo governo".

A Groenlândia e o interesse estratégico dos EUA

Um território dinamarquês autônomo que está tentando se emancipar de Copenhague, a Groenlândia possui enormes reservas inexploradas de minerais e petróleo. Ela também está estrategicamente localizada entre a América do Norte e a Europa em um momento de crescente interesse dos EUA, da China e da Rússia no Ártico, onde as rotas marítimas se abriram devido às mudanças climáticas.

A visita, segundo Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, tem como objetivo “construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica”.

— Os EUA têm um interesse de segurança investido na região do Ártico, e não deveria ser uma surpresa que o conselheiro de Segurança Nacional e o secretário de Energia estejam visitando uma base espacial dos EUA para obter informações em primeira mão de nossos membros de serviço no solo — afirmou Hughes.

Histórico de presença militar dos EUA na Groenlândia

Desde a década de 1950, os Estados Unidos mantêm presença militar na Groenlândia, especialmente na Base Especial de Pituffik, que será visitada pela delegação nesta semana. O governo Trump já manifestou interesse em explorar recursos minerais estratégicos da ilha, como terras raras, essenciais para a indústria tecnológica e para a transição energética.

A Groenlândia, com população de cerca de 57 mil habitantes — quase 90% de origem inuíte —, continua a reforçar sua autonomia. Desde 2009, o território administra seus próprios recursos naturais e sistema de Justiça, embora a Dinamarca, que governou o país como uma colônia até 1953, ainda detenha controle sobre defesa e política externa.

Em janeiro deste ano, uma pesquisa encomendada por jornais dinamarqueses e groenlandeses mostrou que 85% da população da Groenlândia rejeitam a ideia de se tornarem parte dos EUA.

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