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Após primeiro-ministro renunciar, o que esperar da sucessão no Japão — para a política e a economia?

Expectativas sobre possíveis mudanças fiscais animam investidores

Bandeira do Japão: política do país vive nova reviravolta após renúncia do primeiro-ministro (Mark Thompson/Getty Images)

Bandeira do Japão: política do país vive nova reviravolta após renúncia do primeiro-ministro (Mark Thompson/Getty Images)

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 06h01.

O primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba anunciou, neste domingo, 7, sua renúncia ao cargo, após diversas perdas parlamentares sofridas por sua coalizão em meio a altos níveis de insatisfação dos japoneses, estimulada sobretudo pelo elevado custos de vida no país.

Após pressões constantes, Ishiba se negava a renunciar e alegava buscar melhores acordos econômicos com os Estados Unidos, a fim de baixar as altas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a exportação japonesa de automóveis.

Após conseguir baixar as tarifas dos originais 27,5% para 15%, o primeiro-ministro rapidamente anunciou sua desistência do cargo.

“Com o Japão tendo assinado o acordo comercial, e o presidente [Trump], a ordem executiva, superamos um importante desafio”, disse Ishiba a repórteres. “Gostaria de passar a tocha para a próxima geração.”

A renúncia de Ishiba, que ocorre em um momento de instabilidade geopolítica, levantou fortes dúvidas em relação ao investimento no país, já que a incerteza política no Japão levou a grandes vendas de títulos e liquidação de Ienes, cujo resultado se refletiu em uma desvalorização da moeda em relação ao dólar.

Com o Partido Liberal Democrático japonês (LDP) — que vem governando o país pela maior parte das últimas oito décadas — fragmentado após inúmeras perdas em ambas as casas da Dieta nacional (o Congresso japonês), investidores agem com cautela, e esperam que as eleições subsequentes tragam políticas fiscais e monetárias mais favoráveis.

“Com o LDP sem uma maioria clara, os investidores ficarão cautelosos até que um sucessor seja confirmado, mantendo a volatilidade elevada no iene, títulos e ações”, disse à Reuters Charu Chanana, estrategista chefe de investimentos da Saxo, banco dinamarquês.

Os nomes que lideram

Dos mais prováveis sucessores, destacam-se a veterana da LDP Sanae Takaichi, crítica das escolhas do Banco do Japão (BOJ) e defensora de políticas fiscais expansionistas.

A integrante do partido Sanae Takaichi fala antes de um segundo turno durante a eleição para a liderança do Partido Liberal Democrata (PLD) em 27 de setembro de 2024, em Tóquio, Japão. O vencedor da eleição do PLD se tornará o próximo primeiro-ministro do Japão em 1º de outubro, após a renúncia de Kishida Fumio como líder do partido. (Foto de Hiro Komae – Pool/Getty Images)

Sanae Takaichi (na foto): veterana é cotada como sucessora de Ishiba (Hiro Komae/Getty Images)

Também lidera as especulações o conservador Shinjiro Koizumi, que fez seu nome como ministro da fazenda de Ishiba, quando foi responsável por implementar políticas visando o controle de altos preços.

TÓQUIO, JAPÃO – 27 DE OUTUBRO: O ex-ministro do Meio Ambiente Shinjiro Koizumi fala na sede do Partido Liberal Democrata (PLD) em 27 de outubro de 2024, em Tóquio, Japão. Pesquisas de boca de urna indicaram que o governista PLD não conseguiria formar um governo de maioria absoluta sozinho nas eleições antecipadas convocadas pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba. (Foto de Takashi Aoyama/Getty Images)

Shinjiro Koizumi: ex-ministro da Fazenda de Ishiba é cotado para substituí-lo (Takashi Aoyama/Divulgação)

No entanto, por causa da separação do partido e da perda de cadeiras parlamentares, ainda é incerto que o vencedor das próximas eleições ao cargo da presidência do LDP consiga o cargo de primeiro-ministro japonês.

A influência reduzida e fragilidade política por parte da LDP deram mais espaço a membros da oposição.

A situação política no Japão

Seguindo grandes derrotas em julho, o partido perdeu cadeiras parlamentares na Câmara dos Conselheiros, apresentando um total de 47 cadeiras, perdendo a maioria que exige no mínimo 50.

Enquanto isso, sua principal oposição, o Partido Constitucional Democrático (CDP), adquiriu 5 cadeiras, terminando com um total de 22.

Mais surpreendente é a grande vitória do novo partido de extrema-direita Sanseito, que ganhou tração política trazendo fortes pautas contra a imigração, e adicionou 14 novas cadeiras à sua única, totalizando 15.

“Mudanças constantes significam instabilidade”, disse Yoshikazu Kato, diretor da firma de consultoria geopolítica Trans Pacific Group, baseada em Tóquio, à revista Time, em referência aos curtos mandatos dos primeiros-ministros japoneses, muitos dos quais renunciam.

No contexto geopolítico da Ásia, as tensões escalam. Recentemente, o ápice desse movimento foi a parada militar da China, quando Xi Jinping recebeu o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, numa demonstração forte união entre os líderes -- e de força de Pequim.

Reflexo na bolsa japonesa

Apesar da incerteza política, as ações japonesas viram alta após a renúncia do primeiro-ministro. Com o iene enfraquecido, e perspectivas positivas para uma possível mudança de políticas fiscais, investidores compraram ações principalmente nas indústrias de maquinário e eletrônica japonesas, que são fortemente orientadas para a exportação, visando lucro ao serem repatriadas.

O Nikkei 225, índice que analisa o mercado com base no desempenho de 225 grandes empresas japonesas de capital aberto, subiu 1.45%, e o TOPIX, índice semelhante baseado no desempenho de estatais, viu alta de 1.06% após Ishiba renunciar.

“Ações subiram já que a renúncia do Sr. Ishiba aumenta expectativas para expansão fiscal,” disse Masahiro Ichikawa, estrategista de marketing chefe da companhia de gestão de ativos Sumitomo Mitsui DS, à Reuters.

Ainda assim, o analista alerta que as ações de Tóquio “teriam dificuldades em continuar crescendo somente nessas expectativas”.

Ele também aponta que a LDP, agora uma minoria, teria que encontrar em seu novo líder a habilidade de balancear membros da oposição que buscam expansão fiscal e membros importantes da coalizão de Ishiba, ainda no poder, que estão cautelosos em cortar impostos sobre o consumo.

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