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Argentina encerra comissão investigadora de suposta fraude envolvendo Milei

Escândalo estourou depois que o presidente argentino promoveu o lançamento da $LIBRA em suas redes sociais

Javier Milei, presidente da Argentina, ao votar nas eleições de domingo, 18 de maio
 (Emiliano Lasalvia/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, ao votar nas eleições de domingo, 18 de maio (Emiliano Lasalvia/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 20 de maio de 2025 às 18h25.

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O governo argentino dissolveu nesta terça-feira uma comissão responsável por investigar o suposto esquema de fraude com a criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente Javier Milei pouco antes de gerar perdas milionárias.

A comissão havia sido criada em fevereiro por iniciativa do próprio Poder Executivo, quando o escândalo estourou depois que Milei promoveu o lançamento da $LIBRA em suas redes sociais.

A criptomoeda, que estava avaliada em US$ 0,01 (R$0,057 na cotação atual), foi negociada a cerca de US$ 5 (R$ 28) após a mensagem do presidente, e entrou em colapso após vendas generalizadas horas depois. A suspeita é que alguns investidores podem ter tido informações privilegiadas para liquidar suas participações na $LIBRA antes da queda da moeda virtual.

Segundo o decreto publicado no Diário Oficial nesta terça-feira, o governo eliminou a comissão investigativa "por ter cumprido a tarefa que lhe foi encomendada". Tal atribuição incluiu a coleta de relatórios da Comissão Nacional de Valores, do Banco Central e de outras agências e escritórios oficiais para serem encaminhados ao Ministério Público Fiscal.

A comissão dissolvida era presidida pela chefe de assessores do Ministério da Justiça e operava no âmbito do Executivo, o que causou polêmica visto que o presidente estava envolvido no caso.

— Não tenho nada a esconder (...) Eu não promovi, eu difundi — declarou Milei à imprensa na época, a fim de elucidar suas responsabilidades.

Ele acrescentou que "não estava ciente dos detalhes do projeto" da criptomoeda.

O caso desencadeou uma denúncia judicial e também está sendo investigado pela Justiça dos Estados Unidos.

Como parte da queixa, a juíza María Servini ordenou na semana passada que o Banco Central fornecesse informações sobre as operações realizadas pelo presidente e sua irmã, a secretária presidencial Karina Milei. Ela também solicitou relatórios sobre operações bancárias e do mercado de ações de empresários ligados à criptomoeda.

O Congresso formou uma comissão parlamentar investigadora e convocou o chefe de Gabinete, Guillermo Francos, para explicar o caso.

Francos, que respondeu às perguntas dos legisladores em 29 de abril, negou que o caso fosse uma fraude e pediu que se aguardasse o andamento da investigação judicial.

O ministro da Economia, Luis Caputo, o ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, e o chefe da Comissão Nacional de Valores, Roberto Silva, também foram convocados pelo Congresso, mas apresentaram um pedido de desculpas por escrito.

Roubo de US$ 107 milhões?

A $LIBRA, uma memecoin sem base na economia real e que estava quase totalmente vinculada a apenas cinco carteiras digitais, saiu de um valor inicial de US$ 0,30 e atingiu um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512) após a promoção do presidente, e perdeu uma capitalização de mercado de cerca de US$ 4 bilhões em cinco horas — com investidores mais antigos se desfazendo de suas cotas. O jornal Página 12, citando consultorias que analisaram as transações, informou que esses investidores embolsaram cerca de US$ 107 milhões (R$ 610 milhões).

De acordo com a revista The Kobeissi Letter, especializada no mercado de capitais, quase 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucos detentores antes do apoio de Milei.

— O que aconteceu é o que no mundo dos títulos negociáveis ​​é chamado de "tapete puxado" — disse à AFP Javier Smaldone, especialista em informática e renomado influenciador digital dedicado a expor esquemas de pirâmide. — Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, é dada liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e então uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada para atrair pessoas.

O especialista detalhou que, à medida que "as pessoas vão comprando, o valor daquele ativo vai subindo (...) até que chega um momento em que aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro, e a coisa entra em colapso".

Segundo Smaldone, toda a operação durou "cerca de duas horas" e envolveu um volume de aproximadamente US$ 4,4 bilhões.

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