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Às vésperas da Assembleia da ONU, visto brasileiro pode virar alvo de mais restrições dos EUA

Depois do fim da isenção de entrevistas, governo Trump planeja "operação tartaruga" para atrasar vistos da delegação, estratégia já usada com russos e iranianos

Sede da ONU, em Nova Yorque, onde em 23 de setembro acontece a 80º Assembleia Geral. (Leandro Fonseca/Exame)

Sede da ONU, em Nova Yorque, onde em 23 de setembro acontece a 80º Assembleia Geral. (Leandro Fonseca/Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 7 de setembro de 2025 às 13h33.

Além do já anunciado fim da isenção de entrevistas para brasileiros que buscam vistos americanos a partir de setembro, o país enfrenta agora a perspectiva de barreiras adicionais e inéditas a autoridades que podem ser impostas pela administração do presidente Donald Trump.

De acordo com um memorando interno obtido pela Associated Press, o Brasil permanece na mira em um plano que pretende dificultar a entrada de sua delegação oficial na Assembleia Geral da ONU, marcada para 23 de setembro em Nova York.

Este movimento afetaria não apenas diplomatas, mas também outros visitantes, observadores e até mesmo empresários.

A medida faz parte de um pacote mais amplo de restrições a nações consideradas "problemáticas" por Washington, como Irã, Sudão e Zimbábue, e reflete o agravamento das tensões bilaterais.

As novas regras, que devem ser anunciadas nas próximas semanas, podem culminar em um cenário de insegurança jurídica e obstáculos burocráticos para qualquer cidadão brasileiro que pretenda viajar aos Estados Unidos, independentemente do motivo.

A justificativa pública para o endurecimento é, nas palavras do governo americano, a "integridade do visto", razão que também serviu de pretexto para a criação de uma nova taxa de US$ 250 a ser cobrada dos brasileiros a partir de outubro de 2025, elevando o custo total do documento para mais de US$ 459.

Escalada da estratégia

Tradicionalmente, o presidente do Brasil é o primeiro líder mundial a discursar perante as autoridades reunidas no dia de abertura da sessão. E, também pela tradição, o presidente dos EUA é o segundo orador.

Conforme apurado pela Associated Press e confirmado por fontes diplomáticas brasileiras ao UOL, a estratégia americana vai além da simples negativa de vistos.

O plano envolveria instituir o que os diplomatas chamam de "operação tartaruga": retardar ao máximo a análise e emissão dos documentos para concedê-los apenas na véspera ou mesmo horas antes do voo da delegação.

A tática, já utilizada com russos e iranianos, tem o objetivo implícito de inviabilizar a viagem de assessores, técnicos e especialistas que dão suporte aos principais representantes do governo, esvaziando e enfraquecendo a capacidade de atuação do país no fórum internacional.

O acordo de sede da ONU de 1947 obriga os EUA a conceder vistos às delegações, mas não estabelece um prazo máximo para isso, brecha explorada pela administração atual.

O cerco ao Brasil ganhou força após as críticas públicas do presidente Donald Trump aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Trump comenta caso

Neste sábado, 6, durante assinatura de decretos na Casa Branca, Trump foi questionado por uma jornalista sobre as informações divulgadas a partir do memorando obtido pela Associated Press.

O presidente americano aparentou surpresa com a informação, mas respondeu: "Bem, estamos conversando sobre coisas. Estamos muito chateados com o Brasil. Nós os tarifamos muito alto porque eles estão fazendo algo que, você sabe, é muito infeliz."

Trump ainda afirmou que ama o povo brasileiro, "com quem tem um grande relacionamento". "Mas o governo do Brasil mudou radicalmente, ficou muito de esquerda e isso está prejudicando muito o país", completou, sem confirmar ou negar a intenção de dificultar a aprovação de vistos.

Impacto global

A imposição de restrições de viagem pode alterar a dinâmica da Assembleia Geral da ONU de 2025. Adicionalmente, a medida pode levantar questões sobre os princípios mais amplos de imunidade diplomática e o livre intercâmbio de ideias em instituições multilaterais.

Enquanto aguarda a definição final das regras, o governo brasileiro parece se preparar para um cenário de embaraços e atrasos, com a ordem de protocolar todos os pedidos de visto da delegação com a máxima antecedência possível.

A expectativa é que o episódio transforme a Assembleia Geral deste ano, que celebra os 80 anos da ONU, em um palco de tensão que testará os limites da diplomacia e a resistência das instituições multilaterais.

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