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Assembleia Geral da ONU é marcada por proximidade e distância de Lula e Trump

Presidentes, que não tiveram nenhuma conversa direta, estarão no mesmo local e farão discursos em sequência

Montagem com imagens dos presidentes Lula e Donald Trump (AFP)

Montagem com imagens dos presidentes Lula e Donald Trump (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 06h01.

Última atualização em 23 de setembro de 2025 às 07h06.

Nesta terça-feira, 23, os presidentes Luiz Inacio Lula da Silva e Donald Trump estarão no mesmo espaço pela primeira vez neste ano, em que Brasil e Estados Unidos vivem sua maior crise na relação bilateral. Os dois farão discursos em sequência, no mesmo púlpito, o que abriria espaço para um possível encontro.

Os dois presidentes poderão ficar na mesma sala antes de irem discursar, mas podem usar caminhos diferentes para não se cruzarem, se um deles assim desejar.

Na véspera do evento, no entanto, a chance de os dois aproveitarem esta chance para uma primeira conversa direta é mínima, e ficou ainda menor depois de o governo Trump anunciar novas sanções, agora contra Viviane de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e contra uma empresa da família.

Ao anunciar as novas sanções, o governo americano buscou deixar claro que outras medidas poderão ser tomadas contra autoridades brasileiras, como forma de tentar forçar a Justiça brasileira a desistir do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado.

“A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará a ir atrás de indivíduos que fornecem apoio material a Moraes enquanto ele viola os direitos humanos", afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, em comunicado.

Rapidamente, o governo brasileiro rebateu. Em nota, o Itamaraty disse que recebeu as novas sanções com "profunda indignação".

"Esse novo ataque à soberania brasileira não logrará seu objetivo de beneficiar aqueles que lideraram a tentativa frustrada de golpe de Estado, alguns dos quais já foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. O Brasil não se curvará a mais essa agressão", diz o comunicado.

Além das sanções, Trump impôs uma tarifa de 50% contra produtos brasileiros, que entrou em vigor em 6 de agosto. Ele disse que a medida era uma resposta às ações do Brasil contra Bolsonaro e a processos judiciais brasileiros contra empresas americanas, entre outras razões.

Desde então, o governo brasileiro busca negociar com a gestão Trump, mas enfrenta dificuldades e não conseguiu estabelecer uma mesa de negociação.

Discursos diferentes

Em seus discursos, Lula e Trump deverão também debater ideias opostas em várias frentes. O Brasil defende o multilateralismo, o combate às mudanças climáticas e o direito dos palestinos a um Estado.

Do outro lado, Trump tem buscado esvaziar os órgãos multilaterais, incluindo a própria ONU, retirou os EUA do Acordo de Paris, principal tratado de controle do aquecimento global, e oferece apoio quase incondicional a Israel.

Os dois presidentes devem aproveitar a Assembleia Geral da ONU, que reúne os líderes de quase todos os países do mundo em Nova York, para buscarem avançar as pautas que defendem e se aproximarem de aliados.

Assim, Lula participou na segunda de um encontro de alto nível sobre a Palestina, organizado por França e Arábia Saudita. O evento ocorreu após o Reino Unido, o Canadá e a Austrália anunciarem o reconhecimento oficial do Estado palestino.

A legitimação do Estado Palestino é apoiada, atualmente, por 147 nações. O Brasil já reconhece oficialmente a Palestina como país desde 2010.

Na tarde da terça-feira, o governo brasileiro anuncia oficialmente a formalização do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um mecanismo financeiro inovador que promete mobilizar US$ 125 bilhões para distribuir US$ 4 bilhões anuais a países com florestas tropicais.

Outro momento decisivo na pauta de clima ocorre na quarta-feira, 24, quando Lula divide com o secretário-geral António Guterres a copresidência da Cúpula de Alto Nível sobre Mudança Climática. A reunião contará com representantes de 109 países, incluindo 50 chefes de Estado e governo.

A agenda de Trump

Já Trump terá reuniões bilaterais com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, da Argentina, Javier Milei, e uma conversa multilateral com os líderes de Qatar, Arábia Saudita, Indonésia, Turquia, Paquistão, Egito e Emirados Árabes, segundo a Casa Branca.

O líder americano buscará, assim, tentar avançar nas conversas para resolver a Guerra da Ucrânia, a crise na Palestina e dar apoio à Milei, que enfrenta uma corrida ao dólar na Argentina.

Nesta terça, Trump fará seu primeiro discurso do seu segundo mandato na Assembleia da ONU e deverá usar sua fala para reafirmar sua visão de mundo. Como o noticiário intenso deste ano mostrou, ele cada vez mais tem colocado suas palavras em prática, e vale a pena prestar atenção.

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