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Aumenta pressão de empresas dos EUA que importam produtos brasileiros contra tarifaço de Trump

Governo brasileiro, contudo, precisa avançar na busca de diálogo constante com o governo americano, dizem especialistas

Donald Trump, presidente dos EUA, em evento de assinatura de documentos nesta quarta-feira, 30 (Anna Moneymaker/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, em evento de assinatura de documentos nesta quarta-feira, 30 (Anna Moneymaker/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 1 de agosto de 2025 às 07h44.

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Com tensões políticas e comerciais misturadas na publicação do decreto anunciado pela Casa Branca impondo tarifa de 50% a importações do Brasil, especialistas apontam que a negociação com os Estados Unidos por meio das empresas é a estratégia que tem se mostrado mais bem-sucedida. Afirmam, contudo, que o governo brasileiro não pode se furtar da tarefa de buscar diálogo comercial, se fazer mais presente em Washington e buscar brechas para aliviar a taxação.

Marcos Jank, professor sênior de agronegócio global do Insper, destaca que essa articulação via setor privado passa especificamente pelas empresas americanas, citando o exemplo do suco de laranja, que consta da lista de 700 produtos excluídos do decreto de taxação.

A Johanna Foods, uma das principais distribuidoras de bebidas e laticínios da Costa Leste dos EUA, foi à Justiça questionar a tarifa sobre o suco brasileiro.

— Como se distribui o suco de laranja concentrado importado do Brasil? A importadora repassa para grandes empresas como a Minute Maid, da Coca-Cola, distribuírem. Foram elas que conseguiram pressionar. Na celulose, por exemplo, as brasileiras têm joint-ventures com companhias americanas. Isso ajuda — diz.

Destacando haver motivação política de Trump no caso do Brasil, Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre e professora da Uerj, faz coro com Jank:

— Quando chega a um produto que é de interesse das empresas e do consumidor americanos, Trump recua. Ele opera com base no medo. Ele deixa o “inimigo” com medo, depois “alivia”.

Ainda assim, o entendimento é que o caminho da negociação comercial diplomática tem de ser encampado pelo governo brasileiro.

— O Lula não fala com o Trump. É preciso haver uma conversa constante, mais presença em Washington. Outros países fizeram isso — pondera Jank. — A situação é de nova ordem internacional. Não sabemos bem como funciona, mas temos de nos adaptar.

Ele reconhece que as motivações políticas para as decisões tarifárias são uma trava a negociações, mas explica que Trump tem agendas paralelas. No caso do Brasil, diz ele, é político-ideológica.

— Trump vai usando a tarifa como balão de pressão sobre governos desalinhados com os EUA. Por trás da atitude contra o Brasil está a tentativa de conter a proximidade da China com a América Latina.

Brasil precisa oferecer alternativas para os EUA; prazo é curto

É consenso entre especialistas que o Brasil tem de oferecer opções aos EUA. Este é um dos desafios para avançar no diálogo porque o prazo para um acordo é curto. As tarifas estão previstas para entrar em vigor em meados da próxima semana.

Na visão de Fernando Ribeiro, coordenador de estudos em comércio internacional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esse prazo é para o governo brasileiro assimilar a sanção imposta ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, e, eventualmente, até para apresentação de uma contraproposta.

— Não vejo muito o que o Brasil possa colocar na mesa de negociação nesse prazo tão curto de uma semana e que seja capaz de sensibilizar Trump a mudar de ideia ou a expandir a lista de exceções que ele já apresentou para o Brasil — resume.

Para Ribeiro, o mais viável é dialogar sobre temas de interesse estratégico dos EUA, como terras-raras. Ele lembra que o Brasil possui reservas relevantes, num momento em que os Estados Unidos tentam reduzir a dependência da China.

— O Brasil teria que estruturar uma política e regras específicas para atender ao interesse estratégico de longo prazo. Não é algo que se resolva rapidamente.

Outro item com potencial é o etanol, já mencionado pelo Brasil na carta enviada em maio, mas ignorada pelo governo Trump.

Governo prevê negociação dura com Estados Unidos, mesmo após flexibilização de tarifaço

A ideia de aliviar a taxação sobre big techs poderia vir à tona, mas esbarra nas dificuldades de tramitação legislativa e na necessidade de consenso no Congresso.

Do lado político, a sanção de Moraes no mesmo dia da publicação do decreto de taxação ao Brasil é vista como estratégia de Trump para não receber, mais uma vez, a alcunha de Taco (Trump always chickens out, em inglês), sendo chamado de “amarelão” em bom português.

Isso desviaria o foco da lista de exceções de quase 700 itens, diz Leonardo Paz Neves, pesquisador da FGV e professor do Ibmec Rio:

— Essas centenas de exceções foram feitas por pressão, lobby das empresas americanas. Trump precisa fazer alguma coisa para tirar um pouco o foco das isenções. E acaba usando essa medida contra o Alexandre de Moraes, com a Lei Magnitsky, que supostamente é o mais duro que pode fazer em relação à pessoa privada, para tentar aliviar a percepção negativa de que acabou afinando mais uma vez.

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