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Bolívia definirá presidente em 2º turno entre dois candidatos de direita

As eleições marcaram o fim de 20 anos de governos do Movimento Ao Socialismo (MAS), liderados por Evo Morales e depois pelo presidente Luis Arce, que entregará o poder em novembro

Bolívia: o que esperar das próximas eleições no país? (Freepik)

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AFP
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Agência de notícias

Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06h41.

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A Bolívia definirá o presidente em um segundo turno entre Rodrigo Paz, um senador de centro-direita, que se tornou a surpresa do primeiro turno, e o ex-presidente de direita Jorge "Tuto" Quiroga, segundo os resultados preliminares oficiais que confirmam o declínio da esquerda que governou o país por 20 anos.

Paz, 57 anos, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), registra 32,1% dos votos com 92% das urnas apuradas, de acordo com o resultado preliminar do Tribunal Supremo Eleitoral.

O senador da cidade de Tarija e candidato do Partido Democrata Cristão (PDC) superou todas as previsões. Nenhuma pesquisa havia antecipado sua passagem para o segundo turno.

Paz enfrentará Quiroga, 65 anos, em 19 de outubro, em um duelo inédito da direita. Quiroga recebeu 26,8% dos votos.

O senador, que nasceu na Espanha e cresceu no exílio devido à perseguição que seus pais sofreram durante as ditaduras militares, superou o grande favorito das pesquisas, Samuel Doria Medina (19,85% dos votos).

As eleições marcaram o fim de 20 anos de governos do Movimento Ao Socialismo (MAS), liderados por Evo Morales e depois pelo presidente Luis Arce, que entregará o poder em novembro.

"Além do MAS, quero parabenizar o povo boliviano, porque disse: 'quero mudar, e este é um sinal de mudança", destacou Paz diante de centenas de simpatizantes que o aguardavam na entrada da sede de sua campanha em La Paz.

Crise econômica na Bolívia

Os bolivianos votaram no momento de pior crise econômica em décadas devido à escassez de dólares, combustíveis e alguns produtos básicos, além de uma inflação anual de quase 25%, a maior em 17 anos.

Durante a administração de Arce, a Bolívia, antes um rico produtor de gás e com importantes recursos de lítio por explorar, quase esgotou suas reservas em divisas devido aos subsídios aos combustíveis que chegam aos 11,3 milhões de habitantes.

Alba Luz Arratia, de 18 anos e prestes a ingressar na universidade, votou confiante na mudança. "Estamos em uma situação muito difícil, mas sim temos esperança de que tudo saia bem", afirmou após votar pela primeira vez.

Mais de 7,9 milhões de bolivianos também votaram para renovar o Congresso de 166 membros.

O inesperado

Rodrigo Paz Pereira, economista de 57 anos, é filho do ex-presidente social-democrata Jaime Paz Zamora (1989-1993). Sua vitória no primeiro turno foi inesperada - uma semana antes da eleição as pesquisas o apontavam entre o terceiro e o quinto lugar.

Além de senador por Tarija, um departamento do sul da Bolívia, foi deputado e prefeito da capital da região próxima à fronteira com a Argentina.

"Quero felicitar o povo boliviano, porque disse: 'quero mudar, e este é um sinal de mudança", afirmou Paz diante de centenas de simpatizantes que o aguardavam na entrada da sede de sua campanha em La Paz.

Ele nasceu em Santiago de Compostela, Espanha, quando sua família estava no exílio devido à perseguição da ditadura militar. Ele tem a nacionalidade boliviana devido à origem de seu pai. Sua mãe é espanhola.

Distante das polêmicas entre Quiroga e o milionário Samuel Doria Medina, que dominavam os telejornais como favoritos, Paz fez uma campanha discreta e austera à frente do Partido Democrata Cristão.

O candidato prometeu a incorporação das classes médias e baixas à vida econômica do país com créditos acessíveis, livre importação de produtos e uma reforma tributária para incentivar a indústria nacional.

Um grande ativo de sua campanha foi seu candidato a vice-presidente Edman Lara, um capitão da polícia que durante anos construiu uma imagem de homem que luta contra a corrupção dentro de sua instituição.

Herdeiro de um ex-ditador

Jorge Quiroga é um engenheiro de 65 anos, formado na Universidade A&M do Texas, ex-funcionário da multinacional americana IBM e hoje candidato da aliança política Livre.

Há alguns meses, ele ainda integrava um bloco de oposição, ao lado de Doria Medina, que se comprometeu a ter apenas um candidato à presidência. Porém, devido às divergências sobre a escolha do postulante, Quiroga deixou o bloco.

Mais conhecido como "Tuto", apelido que adicionou ao seu nome oficial, foi vice-presidente do militar Hugo Banzer, um ex-ditador que, no final da década 1990, alcançou a presidência pela via democrática. Substituiu Banzer após sua renúncia devido a um câncer em 2001 e 2002.

Também buscou a presidência em 2005 e 2015, mas nunca teve tantas possibilidades como agora. Ele se denomina liberal, mas também atrai os votos mais conservadores.

"Vou me dedicar a salvar a economia da Bolívia, a trazer investimentos, a abrir mercados. Vou fazer acordos de livre comércio com China, Coreia, Japão, Europa", disse à AFP.

Promete uma "mudança sísmica": reduzir o déficit fiscal, reduzir o Estado, privatizar todas as empresas públicas deficitárias e promover uma nova Constituição com mudanças "radicais".

"A crise não vai diminuir. Vai piorar, vai ficar mais dura, mais difícil. É o maior desafio institucional, econômico, moral da nossa história. E vamos enfrentar todos juntos", disse no domingo, após o anúncio dos resultados do primeiro turno.

Novo horizonte

Quase de maneira unânime, os candidatos prometeram uma mudança diante do desencanto da maioria com a esquerda liderada por Morales.

Paz tem uma ampla trajetória política. Foi deputado e prefeito e agora é senador por Tarija. Seu plano de governo prevê o corte do que ele chama de "gastos supérfluos" no Estado, a luta contra a corrupção e um salário universal para as mulheres.

O candidato afirmou que, em caso de vitória no segundo turno, pretende mudar o modelo econômico imposto pela esquerda nos últimos 20 anos na Bolívia. "Espero que o Parlamento nos ajude a mudar este modelo econômico que trabalha para o Estado e não para os bolivianos", disse.

Após o anúncio dos resultados, Quiroga insistiu em sua promessa de estabilizar a economia, "interromper a crise, recuperar a confiança, esmagar a inflação".

"A crise não vai diminuir. Vai piorar, vai ficar mais dura, mais difícil. É o maior desafio institucional, econômico, moral da nossa história. E vamos enfrentar todos juntos", disse aos seus eleitores.

Paz e Quiroga concordam que Evo Morales deve prestar contas à Justiça.

"Sem legitimidade"

Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, que governou entre 2006 e 2019, tentou concorrer nesta eleição a um quarto mandato.

Uma decisão judicial o impediu de apresentar a candidatura ao proibir a reeleição por mais de uma vez. Além disso, enfrenta uma ordem de prisão pela suposta exploração de uma menor quando era presidente, acusação que ele nega.

O líder cocaleiro, de 65 anos, que durante sua gestão conseguiu reduzir a pobreza e triplicar o PIB com seu plano de nacionalizações, rompeu de forma irreconciliável com Arce, o que implodiu o MAS.

Desde outubro, ele permanece resguardado em um pequeno povoado no centro da Bolívia, onde simpatizantes o protegem para evitar sua detenção. Desvinculado do MAS, fez campanha pelo voto nulo.

No domingo, ele saiu de seu refúgio para votar. "Esta votação vai demonstrar que é uma eleição sem legitimidade", disse. Segundo a apuração preliminar, 19,2% dos eleitores anularam o voto.

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