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Brasil e países europeus pedem ratificação do pacto Mercosul-UE diante de guerra comercial

Expectativa é de que acordo possa ser assinado em dezembro, em Brasília

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (Vyacheslav Oseledko/AFP)

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (Vyacheslav Oseledko/AFP)

EFE
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Agência de Notícias

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 18h24.

O acordo entre Mercosul e União Europeia, pendente de ratificação pelo Conselho Europeu, assume uma importância estratégica ainda maior na visão do Brasil e de vários países do bloco europeu como resposta à guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

As vozes que clamam pela rápida ratificação do acordo comercial se multiplicaram, além do Brasil, em países como Alemanha, Espanha e Uruguai, que esperam poder assiná-lo em dezembro, durante a cúpula do Mercosul em Brasília.

O acordo foi fechado em 2024, após duas décadas de discussões e, uma vez em vigor, dará origem a uma zona de livre comércio para mais de 700 milhões de pessoas, com um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 22 trilhões.

“O Brasil e a UE têm uma relação estratégica e, após as tarifas (dos EUA), ela ganhou ainda mais centralidade. A UE passou a desempenhar, para diversos setores, o papel de contrapeso natural na diversificação de mercados”, destacou em entrevista à Agência EFE o chefe de Assuntos Estratégicos do Escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em Bruxelas, o ex-ministro Aloysio Nunes.

Para o Brasil, as tarifas têm sido especialmente duras. Desde agosto, cerca de 34,9% dos produtos brasileiros enfrentam uma taxa de 50% do seu valor nas alfândegas dos EUA.

A maioria dos produtos originários da UE recebeu uma tarifa mínima de 15% para entrar nos EUA. No entanto, sobre o aço, o alumínio e o cobre, a tarifa chega a 50%.

Diante desse cenário, Nunes considera vital que blocos como Mercosul e UE, “que compartilham valores comuns”, continuem buscando novos caminhos de cooperação diante das pressões externas.

Aliados estratégicos

A aliança entre Mercosul e UE foi validada em setembro pela Comissão Europeia, o que abriu caminho para sua ratificação pelo Conselho Europeu, algo que o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, avaliou de forma positiva.

O ex-governador do Acre e ex-senador destacou à EFE que o tratado tem a capacidade de “mudar a geografia econômica internacional”, com uma zona de livre comércio birregional com mais de 700 milhões de pessoas.

Para Viana, essa plataforma de cooperação estratégica entre economias que, juntas, representam 25% do PIB global, com a eliminação de tarifas para 97% dos bens industriais e 77% dos agrícolas, tem o potencial de ampliar em até US$ 7 bilhões as exportações do Brasil para a UE no curto prazo.

Ele lembrou ainda que a ApexBrasil identificou 6.740 oportunidades de exportação para o Brasil em direção ao terceiro maior parceiro comercial do país.

“Se as medidas protecionistas em um determinado país persistirem, podem surgir oportunidades em outros, onde um nível tarifário mais baixo torne os produtos brasileiros mais competitivos”, afirmou.

A embaixadora da UE no Brasil, Marian Schuegraf, destacou à EFE que, “em tempos de turbulência geopolítica, são necessários parceiros confiáveis”.

“Diante do crescente nacionalismo e protecionismo em todo o mundo, vamos mostrar que vale a pena cooperar construtivamente além de nossas próprias fronteiras e regiões”, afirmou.

Duro golpe dos EUA

O acordo Mercosul-UE enfrentava a oposição de vários países europeus, liderados pela França, onde continuam os protestos dos agricultores contra o pacto.

Para tranquilizar a França, a Comissão Europeia propôs, no início de setembro, a criação de novas cláusulas de salvaguarda em caso de aumento repentino das importações ou queda dos preços, especialmente de produtos agrícolas sensíveis.

A guerra tarifária iniciada por Trump contribuiu para amenizar algumas resistências no governo francês.

Schuegraf frisou que o acordo “ampliará os fluxos recíprocos de investimentos e dará à indústria do Mercosul tempo para se modernizar, crescer e competir”.

Segundo a embaixadora, a aliança também destaca o “compromisso compartilhado com o desenvolvimento sustentável” e a criação de mecanismos institucionais para que o comércio possa “contribuir para a transição verde”.

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