Mundo

Brasil não é prioridade para os EUA, mas Brics pode gerar tensões, diz diretora do Atlantic Council

Apesar da importância dos EUA como parceiro comercial, o Brasil não será prioridade para Trump, que busca conter a influência chinesa na América Latina

Donald Trump, presidente dos EUA, durante entrevista coletiva na Casa Branca (Jim Watson/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, durante entrevista coletiva na Casa Branca (Jim Watson/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 9 de fevereiro de 2025 às 08h00.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2025 às 08h16.

O Brasil, apesar de ter os Estados Unidos como seu segundo maior parceiro comercial, não deverá ser uma grande prioridade para o governo de Donald Trump. Uma das razões para isso é que os americanos possuem superávit comercial com o país. Mesmo assim, poderá haver atritos devido ao grupo Brics, pois Trump planeja, de forma firme, conter a influência chinesa na América Latina.

A avaliação é de Valentina Sader, vice-diretora do centro de América Latina do think tank Atlantic Council, baseado em Washington. Em conversa com a EXAME, por email, ela fez uma análise de como a América Latina já está sendo impactada pelas medidas de Trump.

Neste ano, o Brasil preside o Brics, grupo que reúne também Rússia, Índia, China, África do Sul e que está integrando mais países. O bloco é considerado um espaço para a China tentar ampliar sua área de influência. Veja a seguir os principais pontos da conversa.

Como o Brasil e outros países da América Latina podem se posicionar em meio ao começo do governo Trump?

Com o Brasil, os EUA têm um superávit comercial e, entre os países da região, o Brasil não é uma prioridade máxima. Sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos são um aliado importante. Mas, em meio às crescentes tensões entre EUA e China, o Brasil terá que navegar em um cenário geopolítico complexo, no qual a diversificação de parceiros comerciais e diplomáticos será importante. O Brasil também pode ter a oportunidade de se destacar como um parceiro comercial confiável para outros países das Américas e do mundo.

O Brasil está presidindo os Brics este ano. Qual papel o bloco pode desempenhar para lidar com as medidas protecionistas de Trump?

O presidente Trump busca garantir a força contínua do dólar e a liderança dos EUA globalmente, e os Brics podem acabar se tornando um ponto de tensão. Considerando que o presidente Trump vem do setor empresarial e sua abordagem de negociação é voltada para fechar acordos, como vimos recentemente no caso dos imigrantes colombianos detidos enviados de volta dos Estados Unidos, acho difícil acreditar que ele permitirá espaço para a crescente influência da China nas Américas ou no resto do mundo. Assim, os Brics podem ser uma área de preocupação.

Quais foram os primeiros efeitos do governo Trump para a região?

A América Latina e o Caribe estiveram no centro da agenda de política externa do presidente Trump. A preocupação bipartidária nos EUA sobre a crescente influência e presença da China na região continuará durante esta administração, como se observa nos comentários do presidente Trump em relação ao Canal do Panamá. Mas além de ser um vizinho, a América Latina e o Caribe são de importância estratégica para os Estados Unidos, como demonstrado pela primeira viagem oficial do Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ao Panamá, El Salvador, República Dominicana, Guatemala e Costa Rica [realizada no começo de fevereiro] – países-chave para a agenda de política externa do presidente Trump, especialmente no que diz respeito à migração. O Trump 2.0 já está tendo implicações para a América Latina e o Caribe.

Quais são essas implicações?

Alguns exemplos são as expectativas de renegociações do USMCA [acordo comercial entre EUA, Canadá e México] começando já este ano. A Colômbia – um dos aliados mais próximos dos EUA na região – esteve à beira de receber e impor tarifas aos Estados Unidos. Houve um novo engajamento dos EUA em relação ao Canal do Panamá e as operações lá podem ser revistas, com base em preocupações de segurança nacional.

Como os países latino-americanos poderão lidar com este novo momento?

Para alguns países da América Latina e do Caribe, o pragmatismo será a palavra-chave para navegar nesse novo governo dos EUA, enquanto podemos ver um maior alinhamento com alguns líderes de direita, como o presidente argentino Javier Milei, e Santiago Peña, do Paraguai.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpAmérica Latina

Mais de Mundo

Prefeita de Los Angeles demite chefe dos bombeiros por gestão de incêndios

Juiz adia julgamento de prefeito de Nova York por corrupção, mas rejeita arquivar o caso

Homem é gravemente ferido após ser atacado no memorial do Holocausto em Berlim

Procuradoria rejeita denúncia de Evo Morales sobre suposto 'atentado' na Bolívia