Cartazes de campanha de Manuela Castañeiras em Buenos Aires (Rafael Balago/Exame)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 18h35.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 18h37.
Buenos Aires - No centro de Buenos Aires, perto do Obelisco, vários cartazes divulgam a candidatura de Manuela Castañeira às eleições legislativas, acompanhados de uma promessa: um salário mínimo de 2 milhões de pesos.
Nos últimos dez anos, o peso argentno sofreu sucessivas desvalorizações e teve seu poder de compra corroído pela inflação. Em outubro de 2015, por exemplo, cada dólar era vendido por cerca de 10 pesos. Hoje, dez anos depois, a cotação é de 1 para 1.500.
Com isso, 2 milhões de pesos equivalem a R$ 7.460 na cotação desta quarta-feira, 30.
Dados do Indec, órgão de estatísticas do governo argentino, apontam que, em setembro, era preciso ter ao menos 936.000 pesos por mês para manter uma casa com três pessoas e atender às suas necessidades básicas de alimentação, saúde e transporte.
Desde julho, o salário mínimo na Argentina é de 317.800 pesos (R$ 1.184). No Brasil, o valor atual é de R$ 1.518.
A inflação na Argentina caiu de 211% ao ano, em 2024, para 30% ao ano. Assim, um eventual aumento forte do salário mínimo não garantiria poder de compra mantido por muito tempo, além de aumentar os efeitos inflacionários.
O governo do presidente Javier Milei tem reduzido os percentuais de aumento do salário mínimo. Em agosto de 2025, a alta acumulada em 12 meses foi de 25%. Em 2023 e 2024, essa taxa estava acima de 100% ao ano, bem como a inflação dos preços.
"Minha intenção é chegar ao Congresso e fazer um escândalo nacional em defesa do salário", disse Castañeira, ao jornal La Nación, antes da eleição.
"Como trabalhadora da Universidade General San Martín, perdi 40% do meu salário com o governo Milei, e também o governo de Alberto Fernández congelou nossos", afirmou.
"É um drama. A conversa cotidiana é quantos trabalhos têm para chegar ao fim do mês, o pânico que há quando chega um boleto. E estamos falando de gastos fixos, não de salários para comprar uma casa, um carro ou viajar", disse.
Em sua visão, ao forçar as empresas a pagar salários mais altos, as grandes empresas deixariam de enviar dinheiro para fora do país e o consumo interno aumentaria. Para aumentar os pagamentos de aposentadorias, ela também defende que haja mais impostos sobre as grandes corporações.
Castañeira, de 40 anos, é socióloga e faz parte do partido MAS (Movimento ao Socialismo). Ela se define como anticapitalista e foi pré-candidata à Presidência por três vezes, mas não conseguiu passar da etapa de primárias.
Em 2025, ela disputou o cargo de deputada federal pela cidade de Buenos Aires, mas não se elegeu nas eleições de 26 de outubro. Segundo ela, seu partido obteve apenas 100 mil votos em todo o país.
Após a eleição, Castañeira fez críticas também ao Força Pátria, o principal bloco de oposição ao governo de Javier Milei.
"A principal conclusão é que o peronismo deu de presente a eleição ao governo. Fizeram uma campanha focada em frear Milei e sem propostas, e só o que frearam foram os processos de luta contra este governo cruel", disse ela, em postagem no X.