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Carne bovina pode repetir alta dos ovos e pressionar inflação nos EUA

Tarifa de 40% imposta por Trump ao Brasil pressiona mercado americano

Agência o Globo
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Publicado em 13 de setembro de 2025 às 14h02.

Os ovos foram o símbolo da inflação dos alimentos no inverno passado nos Estados Unidos. Agora, os hambúrgueres podem ser o próximo.

Os preços da carne bovina nos EUA estão prestes a continuar sua alta, atingindo novos recordes nos próximos meses, com as restrições às importações brasileiras pressionando ainda mais um abastecimento doméstico já apertado, segundo a comerciante global de carnes Parker-Migliorini International LLC.

"Podemos ver uma escassez no mercado. Os preços da carne bovina poderiam se tornar o problema dos ovos da administração Biden, por causa dos aumentos de preços extremos que teriam que ocorrer", disse Darin Parker, presidente da PMI Foods.

Alta contínua nos preços

Os ovos se tornaram um símbolo dos altos preços de supermercado no fim do mandato do presidente Joe Biden, após um surto de gripe aviária que elevou os custos no inverno passado. Os preços disparados dos ovos e as prateleiras vazias nos supermercados chamaram atenção geral — inclusive do presidente Donald Trump, que repetidamente citou o caso ao criticar o histórico econômico de seu antecessor.

Agora, a carne bovina está no centro das atenções. Os preços aumentaram por oito meses consecutivos na base não ajustada sazonalmente, sendo que agosto registrou a maior alta mensal em quase quatro anos, segundo os dados mais recentes do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS, na sigla em inglês).

Baixo fornecimento de gado

O aumento é impulsionado pelo baixo fornecimento de gado no maior produtor de carne bovina do mundo. O número de vacas processadas semanalmente por frigoríficos dos EUA, incluindo Tyson Foods e JBS, caiu quase 9% em relação ao mesmo período do ano passado neste trimestre, atingindo níveis vistos pela última vez em 2016. A pressão reflete o menor rebanho dos EUA em décadas e uma recente proibição de compras de animais do México devido a preocupações sanitárias.

Impacto das importações brasileiras

O impacto sobre os consumidores dos EUA até agora tem sido amenizado por um aumento nas importações neste ano, com as compras do Brasil, o maior exportador de carne bovina do mundo, quase dobrando até julho. Os aparas de carne magra brasileira são normalmente misturados com carne mais gordurosa dos EUA para produzir carne moída e hambúrgueres.
Mas, nas últimas semanas, os embarques chegaram à beira da paralisação, depois que Trump, em agosto, impôs uma tarifa adicional de 40% sobre os produtos da nação sul-americana.

"O Brasil está meio fora do jogo para fornecimento de aparas neste estágio, porque ninguém realmente consegue arcar com essa tarifa", disse Parker, que também integra o comitê executivo da U.S. Meat Export Federation, um grupo do setor.

Após as tarifas retaliatórias, as exportações de carne bovina do Brasil agora estão sujeitas a um imposto total de 76,4% para entrar no mercado dos EUA:

"Há um deslocamento".

A Austrália ganha espaço

A pressão sobre os preços da carne bovina nos EUA tende a se intensificar à medida que os estoques acumulados antes das tarifas de 6 de agosto forem reduzidos nos próximos meses, dando a outros fornecedores mais poder de negociação diante da menor concorrência do Brasil, disse Parker.
A Austrália — onde a produção de carne bovina está projetada para atingir um recorde em 2025, e cujas exportações para os EUA enfrentam apenas a tarifa básica de 10% segundo os acordos comerciais existentes — deve ser a maior beneficiária. Os embarques do segundo maior fornecedor dos EUA aumentaram 22% neste ano até agosto, segundo dados do governo australiano.
Os EUA também registraram aumento de embarques de países como Uruguai e Argentina, que agora estão sujeitos a uma tarifa de 36,4% para volumes que excedem uma pequena cota de comércio livre de impostos. Parker também espera que o México importe mais carne do Brasil como parte de esforços para exportar mais de seu próprio produto para os EUA.

"Todo mundo tem saído comprando produtos e tentando se antecipar a isso. Mas eu simplesmente não acredito que haja volume suficiente para satisfazer a demanda", acrescentou Parker. "A única pessoa que realmente sai prejudicada em tudo isso é o consumidor americano."

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