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Casal é preso na Argentina após mostrar quadro roubado por nazista em anúncio na internet

Pintura havia sido levada da Holanda na época da Segunda Guerra e ficou desaparecida por décadas

Quadro encontrado em casa de filha de oficial nazista, sob guarda das autoridades da Argentina
 (Suprema Corte da Argentina/EFE)

Quadro encontrado em casa de filha de oficial nazista, sob guarda das autoridades da Argentina (Suprema Corte da Argentina/EFE)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 11h40.

O encontro de um quadro desaparecido virou notícia na Argentina e na Holanda nas últimas semanas. Um casal, que vivia em Mar del Plata, no litoral argentino, foi preso por ter em casa um quadro que supostamente foi roubado por um oficial nazista, na época da Segunda Guerra Mundial, e o ter trazido para a América do Sul.

O quadro em questão foi identificado inicialmente como sendo o “Retrato de uma Dama”, do pintor italiano Giuseppe Ghislandi (1655-1743), e descoberto de modo curioso. A obra foi identificada em uma foto publicada em um anúncio de uma casa à venda em um site de uma imobiliária, em Mar del Plata. Ele estava em uma foto de uma sala, cima de um sofá.

Jornalistas holandeses, do jornal Algemeen Dagblad, encontraram o quadro. Eles investigavam o destino de obras de arte roubadas pelos nazistas de famílias judias do país. Após a Segunda Guerra, muitos oficiais nazistas fugiram para a América do Sul e trouxeram quadros e outras obras de arte que haviam tomado de judeus, perseguidos pelo governo de Adolf Hitler.

A obra de arte fazia parte da coleção do comerciante judeu Jacques Goudstikker. Ele vivia em Amsterdã e tinha mais de 1.000 peças. Elas foram vendidas à força, a preços baixos, para oficiais do governo de Hitler quando a Alemanha invadiu a Holanda e se apossou das propriedades dos judeus.

Nas últimas décadas, a família Goudstikker faz uma campanha para tentar recuperar os quadros da coleção, que foram espalhados pelo mundo. Cerca de 200 foram encontrados.

Imagem do anúncio imobiliário que exibia quadro sob suspeita de ter sido levado por nazistas (Reprodução)

O quadro achado na Argentina teria sido levado pela família de Friedrich Kadgien, um oficial da polícia secreta alemã, considerado o "mago das finanças nazistas", que se refugiou na Argentina após a derrota de Hitler. Kadgien teria se apropriado de dinheiro do governo nazista, mantido em contas secretas na Suíça e, depois, abriu negócios na Argentina e no Brasil. Ele morreu em 1978.

Após a denúncia, a polícia argentina foi até a casa e, inicialmente, não achou o quadro. Patrícia Kadgien, filha do oficial nazista, e seu marido disseram não saber nada sobre o caso. Quando os guardas chegaram na casa, em vez do quadro, havia um tapete na parede da sala.

As autoridades, no entanto, não acreditaram e determinaram a prisão domiciliar do casal, por três dias, por obstruir a investigação. Depois disso, eles revelaram que estavam com o quadro, e o entregaram, no final de agosto.

O casal foi processado por roubo e acobertamento, agravado pelo contexto de genocídio, e proibido de sair da Argentina por seis meses. Eles disseram que o quadro foi comprado legalmente em 1943 e mantido pela família desde então.

O quadro foi deixado sob guarda da Suprema Corte da Argentina, que decidirá o que fazer com a obra. Ela poderá ser devolvida à família Goudstikker, da Holanda, ou enviada ao Museu do Holocausto da Argentina.

Dúvidas sobre a autoria do quadro

No entanto, dias depois, houve uma reviravolta. Inicialmente, o quadro foi atribuído ao pintor Giuseppe Ghislandi (1655-1743), conhecido como Fra'Galgario, e traria um retrato da condessa Colleoni, membro de uma família de Bérgamo, na Itália, do século 15.

Porém, especialistas da Itália, procurados pelo jornal Clarín, disseram nesta semana que o quadro encontrado não foi feito por Fra'Galgario, mas sim por outro pintor, Giácomo Ceruti, conhecido como "il Pitocchetto" (o pequeno mendigo), um grande pintor italiano do século 18.

Mesmo que o quadro não seja aquele que se pensava inicialmente, o caso pode abrir caminho para mais descobertas sobre como os nazistas trouxeram quadros e outras riquezas para a América do Sul e como elas ficaram escondidas por tantas décadas.

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