O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, convocou duas reuniões de seu gabinete na quinta para aprovar o acordo. A primeira delas será às 17h na hora local (11h em Brasília), com o gabinete de segurança. O órgão é formado pelos principais ministros das pastas de Defesa, Segurança, Relações Exteriores e Justiça e decide sobre os passos a serem dados na ofensiva em Gaza.
Depois, haverá uma reunião geral com os demais ministros, às 18h (12h em Brasília). Assim que o governo israelense ratificar o plano, as Forças de Defesa de Israel (FDI) terão um prazo de 24 horas para se retirar de Gaza e recuarem até a "linha amarela" estipulada no acordo.
Apesar da sinalização de Netanyahu, que defendeu o acordo, o ministro da Fazenda, Bezalel Smotrich, e seu partido já anunciaram que votarão contra a proposta, segundo o jornal The Times of Israel.
O que acontece agora?
Trump, em seu perfil no TruthSocial, afirmou que Israel e o Hamas concordaram com a primeira fase de um plano de paz de 20 pontos que ele apresentou no final de setembro.
O acordo ainda precisa ser assinado pelos dois lados, e há a expectativa de que Trump poderá viajar ao Oriente Médio para participar do evento, que poderá ocorrer na sexta-feira, 10.
Após a aprovação formal, haverá a liberação de 48 reféns israelenses e de 2.ooo prisioneiros palestinos em até 72 horas. O aumento da ajuda humanitária também deve ser uma das prioridades, com o envio de alimentos, medicamentos e água para aliviar a crise em Gaza.
As negociações sobre a governança futura do enclave palestino, o desarmamento do Hamas e o papel de outros grupos na região continuam sendo questões pendentes que precisarão ser abordadas nas próximas etapas do processo de paz.
Qual é o plano de Trump?
O plano de cessar-fogo foi apresentado por Trump durante uma reunião na Casa Branca com Netanyahu no final de setembro.
O plano inclui uma série de medidas que visam não apenas encerrar a guerra, mas também estabelecer um novo governo em Gaza.
Entre as condições, está a desmilitarização do Hamas e sua exclusão da governança da Faixa de Gaza. Segundo o acordo sugerido por Trump, o Hamas, que governa Gaza desde 2007, seria substituído por um "comitê palestino tecnocrático e apolítico", supervisionado por um "Conselho de Paz", com Trump atuando como presidente e Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico, desempenhando um papel de liderança.
O plano também estipula que Gaza se tornaria uma "zona desradicalizada, livre de terrorismo, que não representa ameaça para seus vizinhos", e seria reformada para o benefício do povo de Gaza.
Para isso, o Conselho de Paz criaria um plano para a reconstrução de Gaza, incluindo o financiamento da reconstrução por um período determinado, enquanto a Autoridade Palestina passaria por um programa de "reforma" para garantir que pudesse retomar o controle seguro e eficaz de Gaza.
A Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia ocupada por Israel, tem sido acusada de corrupção e falta de eficiência por opositores internos e organizações internacionais.
Como seria a governança em Gaza, segundo o plano de Trump?
O Conselho de Paz seria responsável por estabelecer uma governança moderna e eficiente, que atendesse às necessidades da população de Gaza e atraísse investimentos.
O plano também prevê a criação de uma zona econômica especial, com tarifas preferenciais e condições de acesso negociadas com países participantes.
O plano de Trump também afirma que ninguém será forçado a deixar Gaza. Aqueles que desejarem sair poderão fazê-lo, mas também terão a liberdade de retornar. A proposta menciona que haverá esforços para encorajar os palestinos a permanecer e contribuir para a construção de uma Gaza melhor.
A proposta também inclui uma colaboração com parceiros regionais do Oriente Médio para garantir que o Hamas cumpra suas obrigações.
Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para criar uma "Força Internacional de Estabilização", que seria enviada para Gaza imediatamente. Essa força teria a missão de treinar e apoiar as forças policiais palestinas em Gaza, trabalhando junto com Israel e Egito para garantir a segurança nas áreas fronteiriças.
A Força de Estabilização também ajudaria a implementar um sistema de segurança em Gaza, com a supervisão das forças policiais treinadas, visando reduzir o risco de atividades terroristas no território. O cessar-fogo sugerido por Trump estabelece que Israel não ocupará nem anexará Gaza, uma medida que contrasta com a posição de membros da extrema-direita do governo israelense, que advogam pela anexação da região.
O que o plano não garante?
Apesar de ser um plano abrangente, ele não garante a criação imediata de um Estado palestino. Atualmente, cerca de 150 países reconhecem o Estado da Palestina.
O documento afirma apenas que, à medida que o processo de reconstrução de Gaza avance e as reformas da Autoridade Palestina sejam implementadas, "as condições poderão finalmente estar em vigor para um caminho credível em direção à autodeterminação e à criação de um Estado palestino, o que reconhecemos como a aspiração do povo palestino".
Gaza: palestinos aguardam que o cessar-fogo acordado entre em vigor (Foto de Ali Jadallah/Anadolu via Getty Images) (Anadolu / Colaborador/Getty Images)
Reação internacional
Líderes de diversos países ao redor do mundo expressaram apoio ao acordo entre Israel e Hamas.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, chamou o acordo de “um momento de alívio profundo”, que será sentido “em todo o mundo”, e destacou que o país apoiaria a próxima fase das negociações, visando garantir uma paz duradoura e restaurar o fluxo de ajuda humanitária para Gaza.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também comemorou o acordo, chamando-o de “grande esperança para os reféns e suas famílias, para os palestinos em Gaza e para toda a região.” Ele afirmou que o acordo deveria marcar o fim da guerra e o início de uma solução política baseada na solução de dois Estados.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, que ajudou a mediar o acordo, elogiou a contribuição de Trump e destacou que seu país monitoraria de perto a implementação do tratado, “palavra por palavra”.
O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, cuja nação foi sede das negociações, falou sobre o acordo como um “momento histórico que representa o triunfo da vontade pela paz sobre a lógica da guerra.”
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também saudou o acordo, expressando esperança de que ele leve a uma solução política duradoura, que ponha fim à ocupação israelense e estabeleça um Estado palestino independente nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital.
A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do secretário-geral António Guterres, declarou total apoio ao acordo, comprometendo-se a ajudar na implementação de suas componentes humanitárias. Guterres também enfatizou que todos os reféns devem ser libertados de forma digna e que um cessar-fogo permanente precisa ser garantido.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também expressou apoio, ressaltando que todas as partes envolvidas devem cumprir integralmente os termos do acordo, considerando a oportunidade como um momento a ser aproveitado.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, descreveu o acordo como um “avanço” e disse que, com a liberação dos reféns e a possibilidade de um cessar-fogo, a paz finalmente está ao alcance.
Com EFE.