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Chanceler da Colômbia pede demissão do governo Petro após 'diferenças' com o presidente

Aliada de primeira hora do mandatário, ministra teria deixado o cargo por discordâncias sobre contrato para emissão de passaportes

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e a então chanceler Laura Sarabia durante reunião com representantes do governo da Suécia, em janeiro de 2025  (Reprodução/X)

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e a então chanceler Laura Sarabia durante reunião com representantes do governo da Suécia, em janeiro de 2025 (Reprodução/X)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 3 de julho de 2025 às 12h54.

Última atualização em 3 de julho de 2025 às 13h08.

A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Laura Sarabia, renunciou nesta quinta-feira, 3, após um embate com o presidente Gustavo Petro envolvendo um contrato milionário para a emissão de passaportes.

A saída da chanceler, considerada uma das figuras mais próximas e influentes do mandatário, amplia a crise dentro do primeiro governo de esquerda do país, que já contabiliza mais de 50 mudanças ministeriais em três anos.

Em carta dirigida a Petro e divulgada em suas redes sociais, Sarabia justificou a renúncia citando “decisões que não compartilho”, afirmando que não poderia mais acompanhar o projeto governista por “coerência pessoal e respeito institucional”: “Não se trata de diferenças menores nem de quem tem razão. Trata-se de um rumo que, com todo o afeto e respeito que lhe tenho, já não me é possível executar”, escreveu.

Nos últimos meses, a relação entre Sarabia e o presidente vinha se deteriorando devido a uma série de desacordos, incluindo a entrada no governo do atual ministro do Interior, Armando Benedetti — a quem Sarabia denunciou criminalmente por suposto assédio.

E, embora ela não tenha detalhado quais decisões motivaram sua saída, sabe-se que a ex-chanceler teve um forte desentendimento com a Presidência nesta semana sobre a renovação de um contrato com a empresa privada Thomas Greg & Sons, responsável pela emissão de passaportes no país.

A então ministra defendia a prorrogação do contrato com a empresa, argumentando que a Imprensa Nacional — estatal que Petro deseja encarregar da emissão a partir de setembro — ainda não estaria pronta para assumir a operação.

No entanto, tanto o presidente quanto seu novo secretário privado, o líder cristão Alfredo Saade, insistiram em manter o plano original de romper com a Thomas Greg & Sons.

A divergência se tornou o mais recente capítulo de uma disputa interna que já derrubou dois dos três chanceleres da atual administração. O antecessor de Sarabia, Álvaro Leyva, foi suspenso do cargo depois de ser acusado de irregularidades justamente por não conceder o contrato à Thomas Greg & Sons. Desde o início do governo, Petro tem reiterado sua oposição a licitações com “oferentes únicos”, classificando-as como práticas que favorecem interesses privados.

Sarabia expressou publicamente sua preocupação com a ausência de um acordo formal com Portugal que assegure a construção de uma gráfica e a transferência de tecnologia necessária para a produção de passaportes.

Segundo a ex-ministra, a transição não está pronta para ser executada. Saade, por sua vez, declarou na quarta-feira que o governo colombiano firmará um contrato com a Casa da Moeda de Portugal para produzir os passaportes a partir de 1º de setembro:

"A Colômbia não corre nenhum risco de ficar sem passaportes", garantiu ele em entrevista à Blu Radio.

Com apenas 31 anos, Laura Sarabia teve uma ascensão meteórica no governo Petro. Chegou ao círculo mais próximo do presidente durante a campanha presidencial de 2022 e, após a vitória dele na disputa, ocupou cargos estratégicos na administração, atuando como chefe de Gabinete, diretora do Departamento Administrativo da Presidência (Dapre) e do Departamento para a Prosperidade Social (DPS), até ser nomeada chanceler em janeiro deste ano, assumindo um dos cargos mais cobiçados da política colombiana.

Sua influência direta junto a Petro, porém, incomodava aliados e integrantes do próprio Gabinete, que a viam como uma figura externa ao partido e desconfiavam de seu poder de articulação.

Apesar das críticas à sua juventude e à falta de experiência diplomática, Sarabia era reconhecida até por opositores pela capacidade de gestão em meio a um governo marcado por improvisos e disputas internas.

Sua saída ocorre em um momento de fragilidade para o governo, que enfrenta resistência do Congresso, questionamentos sobre o andamento das reformas estruturais e crescente desgaste político.

O episódio dos passaportes, embora aparentemente técnico, expõe as fraturas cada vez mais visíveis dentro da coalizão petrista.

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