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Chanceler de Lula pede protagonismo global dos países em desenvolvimento no Brics

Ministro das Relações Exteriores diz que nações emergentes devem ser “arquitetos ativos” do futuro global

Mauro Vieira: chanceler defende protagonismo do Brics e critica protecionismo (AFP/AFP)

Mauro Vieira: chanceler defende protagonismo do Brics e critica protecionismo (AFP/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 16h01.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2025 às 16h03.

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Ao abrir, nesta terça-feira, 25, a reunião de sherpas (enviados especiais de seus países) do Brics, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez um discurso em defesa do multilateralismo. Segundo ele, a ordem internacional passa por mudanças significativas, com o aprofundamento das tensões geopolíticas, o aumento das desigualdades e as rápidas transformações tecnológicas e econômicas que desafiam as estruturas tradicionais de governança.

A resposta mais eficaz à crise do multilateralismo é mais multilateralismo — mais forte e mais inclusivo em todas as esferas”, afirmou o chanceler do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desafios do Brics e a governança global

Um dos grandes desafios do Brics é ganhar uma importância maior nos grandes debates mundiais, afirmou Vieira. Ele acrescentou que, com base nesse princípio, é preciso fazer uma reforma da governança global, tanto das instituições financeiras multilaterais quanto do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“As instituições mundiais devem evoluir para acomodar perspectivas diversas, garantindo que as nações em desenvolvimento não sejam meros espectadores, mas sim arquitetos ativos do futuro. O Brics representa uma nova visão de governança global, que prioriza inclusão, equidade e cooperação em detrimento da hegemonia, injustiça, desigualdade e unilateralismo”, afirmou.

O Brics tem 11 países membros (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã) e nove nações parceiras (Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão). A segunda categoria participa das reuniões, mas não tem direito a voto.

Comércio global e resistência ao protecionismo

Sem citar nomes, mas em uma referência velada ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, Mauro Vieira disse que o mundo testemunha, hoje, um processo de "desglobalização", com políticas protecionistas, fragmentação comercial, barreiras não econômicas e a reconfiguração das cadeias de suprimentos.

Nesse contexto, Vieira defendeu que o Brics deve resistir a essa realidade e advogar por um sistema de comércio multilateral, aberto, justo e equilibrado. Além disso, reiterou que a presidência brasileira do Brics — que terá como ponto forte uma reunião de líderes do bloco em julho deste ano — se concentrará em duas áreas centrais:

  • Cooperação do Sul Global;
  • Parceria para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental.

O chanceler ressaltou que o Brasil tem seis prioridades na presidência do bloco:

  • Cooperação em saúde global
  • Comércio, investimento e finanças
  • Combate à mudança do clima
  • Governança da inteligência artificial
  • Reforma do sistema multilateral de paz e segurança
  • Desenvolvimento institucional do Brics

Reformas econômicas e justiça climática

O chanceler reiterou a posição do Brasil em busca de soluções para melhorar o comércio entre os países do bloco. Uma das propostas é a criação de um sistema de pagamentos em moedas locais, o que levou o presidente dos EUA a ameaçar o bloco, temendo a redução do dólar nas transações.

“Nossa presidência se concentrará em maneiras de aumentar os fluxos comerciais, tanto explorando medidas de facilitação de comércio quanto estimulando instrumentos de pagamento em moedas locais”, disse Vieira.

Ele também afirmou que a crise climática é o maior desafio da atualidade. Disse que, embora as nações do Brics tenham assumido compromissos importantes em prol da sustentabilidade, há um grande déficit de financiamento que prejudica os esforços de adaptação e mitigação dos efeitos do aquecimento global nos países em desenvolvimento.

“Apesar de contribuir pouco para as emissões históricas de gases de efeito estufa, o Sul Global é o que mais sofre com as consequências da mudança do clima — de eventos climáticos extremos à elevação do nível do mar e perda de biodiversidade. [Enfrentar essa crise exige não apenas ambição, mas também justiça.] A justiça climática deve estar no centro das discussões internacionais, garantindo que as nações em desenvolvimento tenham tanto a autonomia quanto os recursos necessários para realizar a transição rumo a economias de baixo carbono, sem abrir mão de seus objetivos de desenvolvimento.”

A reunião de sherpas termina nesta quarta-feira. É esperada a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento do evento.

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