Agência de notícias
Publicado em 1 de abril de 2025 às 14h10.
Última atualização em 1 de abril de 2025 às 14h54.
A chanceler da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou diante do Parlamento Europeu nesta terça-feira, 1º de abril, que existem "evidências esmagadoras" de crimes de guerra em Bucha, região da Ucrânia ocupada pelas tropas da Rússia em 2022, onde foram encontrados centenas de corpos quando foi retomada pelos ucranianos.
A denúncia sobre o massacre em Bucha ocorre em meio à estagnação da tentativa de mediação de um acordo lançada pelos EUA, em um momento em que a guerra no front continua com novos ganhos territoriais russos e ataques que deixaram mais de 40 mil pessoas sem energia elétrica na Ucrânia.
— Em Bucha, as evidências são esmagadoras [...] e sabemos exatamente quem foram os autores — disse Kallas. — Com a tecnologia que temos atualmente ao alcance da nossa mão, a impunidade para crimes de guerra é, francamente, impossível.
As tropas russas são acusadas de massacrar centenas de civis em Bucha em 2022, embora os corpos tenham sido encontrados meses depois, quando os soldados de Moscou deixaram a região. Muitos tinham indícios de execução, como mãos amarradas às costas. Segundo Kallas, há evidências sobre os crimes em "fotos e registros com telefones celulares" e mesmo "instruções decodificadas usadas por comandantes militares em canais russos de rádio".
O massacre de Bucha é o mais conhecido do conflito ucraniano, mas não é a única atrocidade pela qual os militares russos são acusados. As autoridades ucranianas abriram quase 128 mil apurações por crimes de guerra, enquanto o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, por seu papel no envio "ilegal" de crianças ucranianas para a Rússia.
A UE, que desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca discute maneiras de se defender e manter a posição pró-Ucrânia de forma independente, vem apoiando a criação de um um tribunal especial para responsabilizar a Rússia pelo crime de agressão — o que ainda não avançou de fato — e, em paralelo, o trabalho do procurador-geral ucraniano, buscando fortalecer a capacidade de investigação de crimes internacionais, inclusive com uma missão de assessoria civil da UE.
Trump demonstrou irritação com Putin e com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pela demora em evoluir com as negociações de paz. No domingo, ele disse à NBC que estava "muito irritado" com Putin por questionar a credibilidade de Zelensky para negociar e por pedir uma mudança de governo na Ucrânia, chegando a ameaçar impor tarifas às empresas que comercializam petróleo russo. Ele também advertiu o líder ucraniano, dizendo que Kiev teria "grandes problemas" se recuasse em um acordo para ceder direitos de mineração a Washington.
Do outro lado do Atlântico, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que Putin estava fugindo das negociações sobre um cessar-fogo na Ucrânia, afirmando que ele não é confiável em uma mesa que busque a paz.
— Ele está evitando negociações, continuando sua guerra ilegal de agressão e intensificando seus ataques brutais — disse Baerbock em uma entrevista coletiva em Kiev.
Ao lado da representante alemã, o chanceler ucraniano, Andrii Sybiga, disse que Kiev quer chegar a um acordo de minerais "mutuamente aceitável" com os EUA, depois que o último rascunho apresentado por Washington foi criticado pela mídia e pelos políticos como altamente desfavorável ao país do Leste Europeu.
— É sempre importante fortalecer a presença de empresas americanas na Ucrânia, então esse processo está em andamento, e trabalharemos com nossos colegas americanos para chegar a um texto mutuamente aceitável para assinatura — disse.
O Kremlin afirmou na segunda-feira que Putin continua aberto a conversar com Trump, mas não há nenhuma ligação telefônica programada entre os dois líderes.
No campo de batalha, o cotidiano segue acirrado sem nenhum acordo diplomático. Kiev informou nesta terça-feira que dezenas de milhares de pessoas no sul da Ucrânia ficaram sem energia após ataques russos, apesar das alegações do Kremlin de que não está lançando ataques à infraestrutura energética. Moscou afirma ter conquistado novas partes do território ucraniano.
— Esta manhã, outro ataque russo danificou uma instalação de energia em Kherson, deixando 45 mil moradores sem eletricidade — disse Sybiga.
Moscou também acusou Kiev de atacar locais de energia russos e na terça-feira disse que houve novos ataques na região russa de Belgorod e na região ucraniana de Zaporijia. Contudo, os militares afirmaram também ter feito novos avanços em Donetsk.
O Ministério da Defesa afirmou em um comunicado que suas forças capturaram Rolziv, uma cidade com cerca de mil habitantes antes do conflito, a apenas alguns quilômetros de Dnipropetrovsk, uma região no centro do país onde as forças de Moscou nunca penetraram.