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China anuncia estímulos à economia antes de negociações sobre tarifas

Às vésperas de reunião na Suíça para debater tarifaço, medidas do país asiático devem injetar o equivalente a R$ 1,6 trilhão na economia chinesa

China e EUA: negociações sobre tarifas começam no sábado (NHAC NGUYEN / POOL / AFP/AFP)

China e EUA: negociações sobre tarifas começam no sábado (NHAC NGUYEN / POOL / AFP/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 7 de maio de 2025 às 12h35.

O governo do presidente Xi Jinping deu um impulso à economia da China antes de negociações comerciais históricas com os EUA, com autoridades anunciando uma série de políticas destinadas a fortalecer a posição de Pequim nas negociações.

Horas depois de confirmar que o vice-primeiro-ministro He Lifeng viajará para a famosa nação neutra da Suíça para reuniões neste fim de semana com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e o representante de Comércio, Jamieson Greer, alguns dos principais responsáveis econômicos da China anunciaram medidas abrangentes para estabilizar os mercados, impulsionar a inovação tecnológica e proteger pequenas empresas.

Em uma coletiva de imprensa convocada às pressas em Pequim na quarta-feira, o presidente do banco central, Pan Gongsheng, anunciou cortes generalizados nas taxas de juros juntamente com outras medidas que podem injetar 2,1 trilhões de yuans (cerca de R$ 1,66 trilhão) na economia.

Isso representou o mais significativo alívio monetário promovido pela China desde que as tarifas “recíprocas” de Donald Trump desencadearam uma guerra comercial que está desestabilizando a ordem econômica global e perturbando os mercados.

Ambos os lados entrarão nas negociações do fim de semana, que começam no sábado, projetando confiança de que detêm a vantagem. Trump disse recentemente em entrevista à NBC que “a China está sendo destruída neste momento”, enquanto Bessent chamou a tarifa de 145% imposta por seu país de “insustentável” para uma China dependente das exportações.

Por sua vez, Pequim enquadrou as conversas como sendo iniciadas pelos EUA, enquanto repetidamente afirma que não terá medo de “lutar até o fim”, se necessário.

Embora ainda não esteja claro quais concessões ambos os países podem oferecer nas conversas que o Goldman Sachs chamou de “quebra-gelo”, o fato de negociações de alto nível estarem ocorrendo gerou otimismo, elevando as ações na China e impulsionando os futuros dos índices acionários nos EUA.

— Você não coloca o secretário Bessent e Jamieson Greer num avião para atravessar o Atlântico até a Europa para esse tipo de conversa, apenas para o resultado ser basicamente nada — disse Sean Stein, presidente do Conselho Empresarial EUA-China, à Bloomberg TV na quarta-feira.

— Ambos os lados tomaram uma decisão política realmente corajosa de se encontrarem, mas agora as expectativas estão altas. Se eles não conseguirem entregar, acho que veremos uma reação negativa forte nos mercados — acrescentou.

A grande questão agora é se Trump aceitará reduzir imediatamente as tarifas, e em que medida.

Um possível desfecho seria a equipe do presidente oferecer a Pequim uma pausa de 90 dias em todas as tarifas punitivas, exceto aquelas relacionadas ao fentanil, reduzindo a alíquota para 20%. Isso espelharia a abordagem de Trump com outros países e se aproximaria do pedido de Pequim para que Washington suspenda todas as tarifas unilaterais enquanto durarem as negociações.

Nem todos são tão otimistas. Economistas do HSBC preveem que os EUA reduzirão as tarifas para 50%, enquanto Robin Xing, do Morgan Stanley, disse que uma “abordagem gradual” é mais provável.

Tarifas nesses níveis ainda ameaçariam eliminar a maior parte do comércio EUA-China, exigindo que o governo de Xi adote mais estímulos monetários e fiscais ao longo do ano para atingir uma meta de crescimento em torno de 5%.

A situação atual “é um cenário de perda para todos os envolvidos”, escreveram economistas do banco americano Citi, incluindo Xiangrong Yu, em um relatório divulgado na quarta-feira, embora ainda prevejam que tarifas proibitivamente altas permanecerão em vigor por seis a doze meses.

Um ponto positivo das negociações é que elas deram à China um representante claro para as tratativas — algo que Pequim desejava e que pode abrir caminho para um eventual telefonema entre Trump e Xi, buscado pelo líder americano desde sua posse em janeiro.

A reunião também dará uma primeira ideia de quem está no grupo de He. Um dos membros da delegação chinesa provavelmente foi indicado no mês passado, quando Li Chenggang foi nomeado vice-ministro do Comércio e enviado comercial.

A dificuldade para os negociadores chineses é que Trump continuará sendo o principal “decisor” de qualquer acordo, segundo Deborah Elms, chefe de política comercial da Fundação Hinrich.

— Eu manteria as expectativas modestas. Pode ser que você passe dias, semanas ou meses negociando intensamente com pessoas como Greer ou Bessent — e, no fim, Trump mude os parâmetros — disse ela.

Para os analistas Chang Shu e Eric Zhu, do braço de análises da Bloomberg, as negociações comerciais entre os EUA e a China abrem uma oportunidade para reduzir as tensões globais:

“O degelo diplomático coincide com as mais recentes medidas de afrouxamento monetário de Pequim. Juntas, essas ações podem sustentar os mercados e ajudar a reforçar a economia chinesa em desaceleração. Mas não esperamos um alívio significativo nas tarifas de forma rápida ou fácil", escreveram.

Chegar a um acordo que satisfaça o objetivo de Trump de reequilibrar o comércio entre China e EUA provavelmente levará meses, o que significa que a economia chinesa enfrentará um período prolongado de dificuldades, mesmo com os formuladores de políticas fazendo mais para compensar a perda de demanda externa.

O momento das medidas anunciadas nesta quarta-feira sinaliza que Pequim está cada vez mais determinada a estimular a economia doméstica — especialmente à medida que um yuan mais resiliente permite ao banco central focar no afrouxamento monetário, em vez de defender a moeda para evitar fuga de capitais.

Diferente de episódios anteriores, o Banco Popular da China cortou praticamente todas as taxas de juros que controla. E enquanto em anúncios passados o foco costumava ser nas taxas políticas, Pan afirmou que as medidas desta vez também pressionariam para baixo as taxas de empréstimos de referência dos bancos e seus custos de captação de depósitos.

O premiê chinês Li Qiang pediu uma mudança de mentalidade na reunião anual do parlamento nacional, em março.

— As políticas devem ser introduzidas e implementadas o quanto antes. É melhor agir cedo do que tarde.” Ao lançar um pacote de políticas abrangente antes que dados concretos mostrassem deterioração significativa da economia, as autoridades pareceram estar atendendo a esse chamado — afirmou.

Apesar de os fluxos comerciais diretos entre EUA e China terem despencado no mês passado, o comércio e as exportações gerais da China se mantiveram, com empresas redirecionando seus produtos para outros países. No entanto, pesquisas de índice de gerentes de compras (PMI) já apontam para uma desaceleração da atividade, o que indica mais dificuldades à frente.

China reage e estabiliza

Se a situação piorar, Xi ainda tem outras ferramentas à disposição. O governo chinês ainda não anunciou novos gastos públicos ou medidas importantes para reforçar o mercado imobiliário. O apoio fiscal já planejado para este ano é sem precedentes, e o governo está espaçando cuidadosamente as emissões de títulos para evitar turbulência no mercado.

A reunião de julho do Politburo — que normalmente foca em políticas econômicas — é uma das janelas para novos passos fiscais, segundo alguns analistas. Economistas de grandes bancos, como Morgan Stanley e Citi, esperam que Pequim adicione entre 1 e 1,5 trilhão de yuans (algo em torno de R$ 1,2 trilhão) em estímulos fiscais na metade ou na segunda parte do ano.

Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, em Xangai, espera que China e EUA discutam como reduzir as tarifas elevadas impostas mutuamente, “porque nenhum dos lados pode arcar com isso”.

— Mas é improvável que discutam o conteúdo de um possível acordo comercial. Nesse sentido, essas conversas servem para preparar negociações mais substanciais no futuro — afirmou.

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