Mesa de discussões com He Lifeng, vicê-premiê da China, a presidente da Suíça, Kain Keller-Sutter e outras autoridades, em Genebra (Martial Trezzini/FDFA/AFP)
Redação Exame
Publicado em 10 de maio de 2025 às 17h55.
Última atualização em 10 de maio de 2025 às 21h01.
A China e os Estados Unidos começaram neste sábado, 10, a primeira rodada de conversas em Genebra para buscar saídas para a guerra tarifária global. Ao fim do primeiro dia de reuniões, os dois lados celebraram avanços. As conversas continuarão no domingo, 11.
'Uma reunião muito boa com a China hoje. Muitas coisas discutidas, muito foi acordado. Foi um reinício (reset) total nas negociações, de uma forma amigável e construtiva", disse o presidente Donald Trump, na rede Truth Social.
"Queremos ver, para o bem da China e dos EUA, uma abertura da China para os negócios americanos. Grande progresso feito", completou.
"O contato estabelecido na Suíça é um passo importante para promover a resolução do problema", destacou um comentário publicado pela agência oficial de noticias Xinhua, sem entrar em detalhes sobre o avanço das negociações.
Estes são os primeiros diálogos comerciais entre os dois lados desde o início da ofensiva de criação de tarifas lançada por Trump, em janeiro, após ele reassumir a Presidência dos Estados Unidos.
As discussões são realizadas neste fim de semana em Genebra, na Suíça. Participam por parte dos Estados Unidos o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer. A China é representada pelo vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng.
As reuniões começaram no sábado em um chalé luxuoso do Representante Permanente da Suíça nas Nações Unidas em Genebra e terminaram por volta das 20h locais (15h de Brasília). As conversas serão retomadas no domingo.
Na sexta-feira, Trump sugeriu reduzir para 80% as tarifas alfandegárias cobradas dos produtos chineses. "O presidente gostaria de resolver o problema com a China. Como ele disse, gostaria de apaziguar a situação", assegurou o secretário do Comércio, Howard Lutnick, em declarações à Fox News na sexta-feira.
A redução anunciada por Trump segue sendo simbólica porque neste nível, as tarifas aduaneiras seguem tendo um grande impacto nas exportações chinesas para os Estados Unidos.
Até agora, Trump anunciou taxações de até 145% à China, somando tudo o que já foi anunciado. As tarifas podem ser menores, de acordo com o tipo de produto.
Em resposta, Pequim prometeu lutar "até o fim" e respondeu com tarifas de 125% sobre os produtos americanos.
Com isso, o comércio bilateral entre as duas maiores economias do planeta estagnou e os mercados sofreram fortes turbulências.
As discussões em Genebra são "um passo positivo e construtivo rumo à redução da escalada", disse a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.
Em meados de abril, Okonjo-Iweala mostrou-se "muito preocupada" e avaliou que mesmo que o comércio entre China e Estados Unidos "represente apenas cerca de 3% do comércio mundial de mercadorias, um desacoplamento" das duas principais economias "poderia ter consequências consideráveis".
A presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, relacionou a eleição do papa Leão XIV com as negociações. "O Espírito Santo esteve em Roma. Devemos esperar que agora venha a Genebra durante o fim de semana", disse na sexta-feira.
O vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, chegou às negociações com o dado positivo de que a China aumentou em 8,1% suas exportações em abril, um número quatro vezes maior ao previsto pelos analistas.
Paralelamente, as exportações para os Estados Unidos caíram quase 18%.
Apesar disso, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, advertiu que Trump "não vai baixar unilateralmente as tarifas alfandegárias para a China" e pediu "concessões".
Segundo Bonnie Glaser, diretora do programa Indo-Pacífico do grupo de especialistas German Marshall Fund, "um resultado possível das discussões na Suíça seria um acordo para suspender a maioria, senão todas as tarifas aduaneiras impostas este ano durante a duração das negociações bilaterais".
Por sua vez, Lizzi Lee, especialista em economia chinesa do Asia Society Policy Institute, espera um "gesto simbólico e provisório", que poderia "aliviar as tensões, mas não resolver desacordos fundamentais".
Xu Bin, professor da Escola Internacional de Negócios China Europa (CEIBS), em Xangai, teme que as tarifas aduaneiras não voltem a um "nível razoável".
"Mesmo se baixarem", afirma, "provavelmente será pela metade e, novamente, serão altas demais para ter um comércio normal".
Com AFP.