China: país vai pagar para famílias (Anadolu / Colaborador/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 28 de julho de 2025 às 08h20.
O governo da China anunciou, nesta segunda-feira, 28, o primeiro programa nacional de subsídios para cuidados infantis, em uma tentativa de conter a queda nas taxas de natalidade e estimular o consumo interno. A partir de janeiro de 2025, cada família receberá 3.600 yuans (cerca de US$ 503) por ano por criança com menos de três anos, segundo a agência oficial Xinhua.
A medida também será aplicada retroativamente para nascidos entre 2022 e 2024. Mais de 20 milhões de famílias serão beneficiadas anualmente, informou a Comissão Nacional de Saúde. O objetivo, de acordo com autoridades do órgão, é aliviar o peso financeiro da criação dos filhos e reduzir as "ansiedades de fertilidade" de jovens casais.
O programa ocorre em um contexto de crise demográfica. A população chinesa caiu pelo terceiro ano consecutivo em 2024, com apenas 9,5 milhões de nascimentos — metade do pico registrado em 2017. No mesmo ano, foram contabilizadas 10,9 milhões de mortes, mantendo a trajetória de declínio populacional do país.
Segundo projeções da ONU, a população pode cair para 1,3 bilhão de habitantes até 2050 e para menos de 800 milhões até 2100. O declínio é agravado pelo fato de que a maioria dos nascimentos ocorre dentro do casamento. Em 2024, a taxa de casamentos caiu 20% em relação ao ano anterior, com apenas 6,1 milhões de uniões — o menor número em quase meio século.
Especialistas apontam que o valor do subsídio ainda é insuficiente para reverter o quadro a curto prazo. "As quantias são pequenas para afetar a taxa de natalidade ou o consumo imediatamente", avaliou Zichun Huang, economista da Capital Economics. Mesmo assim, ele destaca que a iniciativa representa um marco no modelo de transferência direta de recursos para as famílias e pode abrir caminho para políticas mais abrangentes no futuro.
Antes do programa nacional, cidades chinesas vinham criando incentivos próprios. Algumas, como Hohhot, na Mongólia Interior, pagavam até 100 mil yuans (cerca de US$ 13,9 mil) para casais que tivessem um terceiro filho. Em Tianmen, província de Hubei, um conjunto de subsídios — em dinheiro, apoio à habitação e creches — resultou em um aumento de 17% no número de nascimentos em 2024.
Apesar dessas iniciativas, a preferência por famílias menores ainda é predominante. Uma pesquisa realizada em 2023 na província de Guangdong mostrou que apenas 6,5% dos entrevistados desejavam ter três filhos.
As províncias definirão seus próprios calendários para a distribuição dos novos subsídios. A Xinhua afirmou que o valor anual foi definido com base em padrões internacionais, que variam de 2,4% a 7,2% do PIB per capita.