Repórter
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 16h12.
Paul Biya, o presidente em exercício mais idoso do mundo, garantiu seu oitavo mandato em Camarões na segunda-feira, segundo indicam os resultados eleitorais apresentados nesta segunda-feira, 27. A notícia desencadeou confrontos violentos entre as forças de segurança e simpatizantes da oposição, que alegam que o processo de votação foi manipulado.
Em Douala, o centro comercial do país, apoiadores de Issa Tchiroma Bakary, o candidato da oposição, bloquearam estradas com detritos e atearam fogo a pneus, segundo informações da agência de notícias Reuters.
A polícia utilizou gás lacrimogêneo para dispersar as aglomerações, enquanto manifestantes cobriam os rostos com máscaras ou roupas. Em outras partes da cidade, as ruas, habitualmente cheias de motocicletas, ficaram desertas.
Aos 92 anos, Biya – cujo novo mandato pode estender sua permanência no poder até quase seu centenário – expressou, em uma nota divulgada na rede social X, que o povo depositou novamente sua confiança em sua liderança e lamentou os episódios de violência.
“Meus primeiros pensamentos estão com todos aqueles que perderam suas vidas desnecessariamente, bem como com suas famílias, como resultado da violência pós-eleitoral”, declarou Biya.
Os números oficiais divulgados na segunda-feira mostraram que Paul Biya saiu vitorioso na eleição de 12 de outubro por uma margem expressiva, obtendo 53,66% dos votos, contra 35,19% conquistados por Tchiroma, o líder da oposição.
O rival havia declarado vitória na semana anterior e jurou que não aceitaria um resultado diferente. Protestos isolados surgiram em várias cidades após a divulgação de resultados parciais iniciais indicarem a provável vitória de Biya.
A oposição afirmou que quatro pessoas morreram em confrontos ocorridos em Douala durante o fim de semana.
"Esperamos que a agitação aumente à medida que os camaroneses rejeitam amplamente o resultado oficial, e não podemos imaginar que o governo Biya dure muito mais tempo", avaliou François Conradie, economista político da Oxford Economics, em entrevista à Reuters.
Em uma publicação no Facebook, Tchiroma afirmou que projéteis disparados contra civis próximos a sua residência na cidade de Garoua, no norte, causaram a morte de duas pessoas nesta segunda-feira. No entanto, a veracidade do relato e a identidade dos atiradores não foram confirmadas pelas autoridades locais.
Em Douala, a polícia de choque fazia patrulhamento e os estabelecimentos comerciais permaneceram de portas fechadas.
"Todos sabemos que a maioria da população camaronesa votou em Issa Tchiroma Bakary", disse um manifestante. "É inadmissível que o presidente Paul Biya tenha vencido em certas zonas de guerra."
Paul Biya assumiu a presidência do país em 1982 e manteve um domínio firme sobre o poder desde então, removendo o limite de mandatos presidenciais em 2008 e garantindo a reeleição com margens confortáveis.
O avanço da idade do presidente de Camarões não é um caso isolado na região, onde algumas das populações mais jovens do mundo são governadas por líderes com mais de 80 anos.
O presidente do Togo tem 86 anos. O presidente da Costa do Marfim, com vitória esperada nas eleições da semana passada, tem 83 anos.
A oposição argumenta que os eleitores camaroneses anseiam por uma mudança após mais de quatro décadas sob o comando de Biya, período no qual o desenvolvimento econômico da nação, produtora de petróleo e cacau, permaneceu estagnado.
Até mesmo Brenda, a filha de Biya, havia publicado um vídeo no TikTok, posteriormente apagado, pedindo aos eleitores que não votassem em seu pai.
Tchiroma, com cerca de 70 anos, é um ex-porta-voz do governo e ministro do Emprego que se distanciou de Biya no início deste ano.
Sua transição de aliado a figura central da oposição representa uma das transformações políticas mais significativas na história recente de Camarões. Sua campanha mobilizou grandes multidões e conquistou o apoio de uma aliança de partidos de oposição e grupos da sociedade civil.