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Com Brics 'esvaziado' de líderes, Brasil aposta em temas menos polêmicos para o evento

Tripé elegido pelo país inclui saúde, inteligência artificial e combate às mudanças climáticas.

O presidente Lula, durante discurso de abertura de encontro do NDB, o banco do Brics, no Rio de Janeiro (Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Lula, durante discurso de abertura de encontro do NDB, o banco do Brics, no Rio de Janeiro (Ricardo Stuckert/PR)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 5 de julho de 2025 às 08h01.

A dois dias da reunião de cúpula do Brics, uma das principais questões gira em torno de quais presidentes virão ao evento. Líderes de ao menos quatro países, de um total de 11 membros do bloco, não deverão comparecer. São eles Rússia, China, Irã e Egito.

Ao mesmo tempo, questões como a guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump, os ataques americanos ao Irã e a Guerra da Ucrânia, os principais temas internacionais do momento, não deverão estar no centro dos debates, até porque representantes dos países envolvidos nessas questões não estarão presentes.

Assim, as principais discussões do encontro deverão focar em áreas com menos chances de gerar polêmicas. A presidência do Brics, sob comando do Brasil, elegeu como principais temas as parcerias em saúde, regulação de inteligência artificial e controle das mudanças climáticas.

Quem vem e quem não vem ao Brics

As principais ausências no encontro no Rio de Janeiro serão de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e de Xi Jinping, da China. Putin é alvo de um mandado de prisão internacional por suas ações contra a Ucrânia e deverá participar do encontro de líderes por chamada de vídeo.

Já o governo chinês não informou a razão da ausência de Xi. O país será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang.

Masoud Pezeshkian, presidente do Irã, não confirmou participação. O país foi alvo de ataques de Israel e dos EUA nas últimas semanas, o que dificulta que ele deixe o país neste momento. O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, também não virá, por causa dos conflitos no Oriente Médio.

A organização do Brics ainda não confirma a lista completa de autoridades que virão. A lista oficial deverá ser revelada mais perto do início da reunião, que começa no domingo, 6.

Entre os líderes que virão para o encontro, estão Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, Narendra Modi, premiê da Índia, e Prabowo Subianto, presidente da Indonésia. Eles serão recebidos pelo presidente Lula, que atua também como presidente temporário do Brics.

"Acho que vai ser uma reunião esvaziada, em um momento em que a relevância do Brics passa a ser questionada", diz Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM.

Uebel avalia que o Brasil deve reforçar, no evento, seu papel de potência média.

"Não sou tão pessimista quanto a Economist, que colocou o presidente Lula como alguém sem credibilidade, mas não sou tão otimista quanto o embaixador Celso Amorim, que imagina o Brasil como um grande protagonista. O Brasil está em um meio-termo", avalia. "O Brasil tem um protagonismo de potência média, de potência regional."

Quais serão os principais temas do encontro do Brics?

As propostas finais que serão debatidas no encontro Brics ainda são negociadas pelos diplomatas. A reunião de cúpula começa no domingo, 6. A presidência brasileira apontou três áreas prioritárias: saúde, inteligência artificial e mudança do clima.

Em saúde, o objetivo é criar uma Parceria para Eliminar Doenças Socialmente Determinadas, que prevê ampliar a cooperação em vacinas.

Na área de IA, a proposta é criar uma espécie de governança internacional no tema, além de ampliar o acesso de países do Sul Global à tecnologia.

Em mudança climática, temas como "multilateralismo ambiental" e "governança global equilibrada e inclusiva" deverão estar na declaração final, cuja proposta inicial é elaborada por diplomatas dos países do bloco.

Brics 2025: reunião será realizada no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro (Pablo Porciúncula/AFP)

Redução do uso do dólar e taxação de fortunas

Apesar da lista de temas divulgada pela organização do Brics, um tema caro a Trump, a redução do uso do dólar no comércio internacional, foi citado em reuniões laterais do Brics nesta sexta-feira, 4.

Em fevereiro, o presidente americano ameaçou punir os países do Brics com tarifas de 100%, caso o bloco avance em iniciativas para reduzir a utilização da moeda americana em transações.

Nesta sexta, o presidente Lula defendeu a criação de uma moeda local do bloco, algo que não está sendo debatido de forma ampla na reunião deste ano.

"A discussão de vocês [representantes do NDB, o banco dos Brics] sobre uma nova moeda de comércio é extremamente importante. É complicado? Eu sei. Tem problemas políticos? Eu sei. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século 21 igual a gente começou o século 20. E isso não será benéfico para a humanidade", disse Lula, em um discurso.

Dilma Rousseff, presidente do NDB, também defendeu reduzir o uso do dólar.

"Devemos fortalecer o financiamento em moeda local, explorar swaps bilaterais, ajudar nossos países membros a reduzir a exposição à volatilidade externa e aprofundar os mercados de capitais domésticos", disse Dilma, em sua fala de abertura da reunião da entidade, no Rio de Janeiro.

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