Mundo

Como a principal estrela pop afegã conseguiu escapar dos talibãs

Com 1,4 milhão de seguidores em sua conta no Instagram, ela precisou fugir depois de causar a ira de religiosos e conservadores em seu país por suas canções que defendem os direitos das mulheres

A popstar afegã Aryana Sayeed posa durante uma entrevista em Istambul em 8 de setembro de 2021 (Foto/AFP)

A popstar afegã Aryana Sayeed posa durante uma entrevista em Istambul em 8 de setembro de 2021 (Foto/AFP)

Refugiada em Istambul, a popstar afegã Aryana Saeed conta à AFP como ela deixou Cabul disfarçada, com medo de ser reconhecida pelos extremistas que a ameaçaram por muito tempo. 

"Não deixe eles me pegarem, me mate primeiro", ela implorou ao noivo no caminho para o aeroporto.

Aryana Saeed, a mais popular cantora afegã, com 1,4 milhão de seguidores em sua conta no Instagram, desencadeou a ira de religiosos e conservadores em seu país por suas canções que defendem os direitos das mulheres e denunciam a violência contra elas.

Jurada do The Afghan Star, um programa organizado pelo canal de televisão Tolo News, a estrela de 36 anos não podia andar livremente em Cabul e vivia sob proteção, limitando seus movimentos.

Em 15 de agosto, tentou deixar o país horas depois que os talibãs tomaram Cabul. Mas o avião em que ela embarcou não decolou.

A cantora se refugiou com parentes antes de uma segunda tentativa no dia seguinte. Os insurgentes estavam presentes em todos os postos de controle e seus combatentes - armados com Kalashnikovs - cercavam o aeroporto.

Formou então um comboio: seu noivo e empresário, Hasib Sayed, em um carro e ela em outro. Eles se comunicavam por walkie-talkie.

"Foi quando eu disse a ele: 'Se eles estiverem prestes a me pegar, por favor me mate. Atire na minha cabeça. Não deixe que eles me peguem viva'. É o que eu mais temia, muito mais do que a morte", explica.

Reconhecida por um intérprete

A popstar sabia que estava se arriscando ao lançar sua marca de moda em Cabul em julho, quando os ocidentais deixavam o país. “Sempre quis acreditar no futuro, então decidi investir”, explica.

Naquela noite, se vestiu de preto, o rosto escondido sob uma máscara higiênica e óculos, com o sobrinho de Hasib sentado em seu colo para parecerem uma família normal.

"Tentamos fazer com que ele memorizasse o que tinha a dizer em caso de controle. 'Se eles nos prenderem, sou sua mãe e meu nome é Fereshta'", contou

Chegando aos portões do aeroporto, os soldados recusaram-se a abrir caminho para eles, favorecendo a passagem de cidadãos americanos. Mas um dos intérpretes identificou Hasib e explicou que ele era o namorado da maior estrela afegã, cuja vida estava realmente ameaçada.

Graças a ele, o casal chegou a Doha, depois ao Kuwait e finalmente aos Estados Unidos, de onde se mudou para Istambul, sua nova residência.

Saeed explica que as mulheres afegãs hoje são mais educadas e mais bem informadas sobre seus direitos do que durante o regime anterior do Talibã (1996-2001).

"As mulheres afegãs não são mais as de vinte anos atrás", detalha, enquanto suas compatriotas continuam se manifestando em Cabul, desafiando a brutalidade dos talibãs.

A cantora dedicou a maior parte de suas canções às mulheres afegãs, apesar do perigo. "Com o Talibã, não tenho espaço porque eles querem minha vida, meu sangue", resume.

Acompanhe tudo sobre:TalibãAfeganistão

Mais de Mundo

Trump diz estar disposto a impor novas sanções à Rússia após ofensiva aérea contra a Ucrânia

Partido de Milei sofre derrota para peronistas nas eleições legislativas de Buenos Aires

Lula comanda reunião do Brics em meio ao tarifaço de Trump

Urnas fecham na província de Buenos Aires, que vive expectativa por resultado de eleição