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Como países da Europa acabaram com suas "Cracolândias"

As políticas adotadas nos locais com grande concentração de usuários de crack precisaram ser repensadas quando a repressão parou de fazer efeito

Cracolândia: locais públicos ocupados por usuários conseguiram ser evacuados apenas quando a ação foi além da polícia (Brent Stirton/Getty Images)

Cracolândia: locais públicos ocupados por usuários conseguiram ser evacuados apenas quando a ação foi além da polícia (Brent Stirton/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de junho de 2017 às 09h13.

Última atualização em 13 de junho de 2017 às 09h14.

Genebra - Há 25 anos, um evento na pacata Suíça chamou a atenção da Europa. No centro de Zurique, o Platzpitz Park foi evacuado pela polícia, com centenas de usuários de drogas sendo alvo de repressão após passar praticamente toda a década de 1980 ocupando a região.

Mas o que parecia ser a solução para um quadro parecido com o da Cracolândia de São Paulo era o início de uma disputa entre traficantes, usuários e autoridades.

Em Zurique, o centro do problema era a heroína, e não o crack, como em São Paulo. Muitos dos viciados expulsos se mudaram nos meses seguintes para a região de Letten, numa estação de trem desativada a poucos quilômetros. O novo local se transformou em mercado a céu aberto de drogas, chegando a reunir 4 mil pessoas em 1994.

A estratégia de repressão não havia funcionado e, uma vez mais, seria preciso reocupar o novo local, em operação com 300 policiais, balas de borracha, bombas de gás e um dispositivo para expulsar os estrangeiros envolvidos no tráfico.

O cenário mudou quando medidas repressivas foram substituídas por estratégia de saúde e amplo trabalho social, além de muito policiamento.

Parte da sociedade e das autoridades era contra o apoio de saúde. A cidade já havia prestado assistência desse tipo antes e, na prática, o problema apenas crescia.

Mas, dessa vez, o plano incluía prevenção, tratamento, controle e redução de danos. A Metadona e as seringas começaram a ser distribuídos.

Os usuários mais violentos passaram a ser responsabilidade do setor de saúde e da polícia, enquanto aqueles com problemas mentais tinham tratamento à parte.

Em outras cidades europeias, locais públicos ocupados por usuários conseguiram ser evacuados apenas quando a ação foi além da polícia.

Esse é o resultado de estudo do Centro de Pesquisa de Vícios da Noruega, pela Universidade Oslo e pelo King's College de Londres.

Segundo o levantamento, Frankfurt também lidou com usuários em praças públicas com repressão e tentativas de abstinência. Sem êxito, um parque local se transformou em arena para injeção de drogas.

Repetindo o caso de Zurique, a transformação se iniciou em 1992. Além de enviar policiais, a prefeitura fez centros de tratamento na periferia. Só então a desocupação começou.

Abordagem

Na Alemanha, cidades como Hamburgo criaram "salas de inalação" para consumidores, na esperança de reduzir riscos ligados ao vício e, pouco a pouco, substituir a droga.

Inaladores desinfetados passaram a ser ofertados por autoridades, enquanto o viciado se comprometia a passar por tratamento oferecido pelas prefeituras.

Em São Paulo, o coordenador do Programa Redenção, Arthur Guerra, disse anteontem ao Estado que estuda a estratégia de, no futuro, criar áreas controladas para o consumo de droga na cidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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