Agência
Publicado em 12 de maio de 2025 às 15h41.
A cidade de Yiwu, na província de Zhejiang, leste da China, consolidou-se como o maior mercado atacadista de pequenos produtos do mundo — incluindo itens de festa. Todos os anos, bilhões de dólares em mercadorias sazonais são exportados do local para dezenas de países, respondendo por cerca de 80% do mercado global. Desde abril deste ano, os comerciantes locais têm ajustado suas estratégias de venda em resposta às novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Com a proximidade das festas de fim de ano, compradores internacionais já iniciaram visitas a Yiwu para negociar preços e prazos de entrega, a fim de garantir que os produtos estejam nas prateleiras no final do ano. Por conta dos prazos de produção e transporte marítimo, é comum que os pedidos comecem a ser feitos em maio. Em junho, chegam os compradores de países vizinhos, e, a partir de julho, Yiwu entra em sua alta temporada de exportações.
A comerciante Lu Furong afirma que, neste ano, o volume de pedidos superou o do ano passado. "Temos estado bastante ocupados ultimamente, com um bom volume de pedidos. Nossos principais mercados são a América do Sul, o Oriente Médio e a Europa. Este ano, na verdade, os negócios cresceram em relação ao ano passado, porque oferecemos uma linha completa de produtos, todos com design exclusivo, o que atrai muito os clientes”, diz.
Apesar do cenário internacional desafiador, diversos comerciantes relataram aumento nas encomendas. Wang Jinjing, que há duas décadas trabalha no setor de artigos para festas em Yiwu, observou que os tradicionais pedidos em massa vindos dos Estados Unidos ainda não chegaram, mas que novas estratégias já estão sendo aplicadas. "Antes, se não conseguíamos atender todos os pedidos, acabávamos recusando encomendas menores de outros países. Agora, com a situação atual, aceitamos até os pedidos pequenos."
Essa flexibilidade é reflexo de dois fatores-chave. Primeiro, a base de clientes de Yiwu é altamente diversificada: os Estados Unidos representam menos de 10% das exportações locais. Segundo, devido à forte sazonalidade dos produtos festivos, os comerciantes só iniciam a produção após o fechamento dos pedidos. Assim, se um cliente desiste, outro rapidamente ocupa seu lugar.
Durante a última edição da Feira de Cantão, muitos compradores aproveitaram a viagem à China para visitar Yiwu, gerando novas encomendas. "Apesar do impacto do ambiente global, alguns países podem ser afetados, mas no geral, os negócios continuam crescendo", afirmou o comerciante Zhuang Leping.
Reconhecida como a maior base de produção de artigos para festas do mundo, Yiwu abriga uma cadeia completa de produção, vendas e embalagem, com milhares de variedades — de brinquedos a fantasias, enfeites e luzes decorativas. Para atrair ainda mais compradores estrangeiros, as empresas locais vêm investindo na melhoria da experiência de compra e da qualidade dos produtos. A produção sob encomenda evoluiu para criações com design próprio, e os materiais, antes limitados ao PVC, agora incluem opções mais sofisticadas e sustentáveis, como madeira, tecido, ferro e compostos ecológicos — adaptados às preferências culturais de cada país.
Segundo Gong Yongqiang, diretor de uma empresa produtora de artigos festivos, cerca de cem novos produtos são lançados por ano. "À primeira vista, uma parede cheia de bonecos pode parecer repetitiva, mas cada peça é adaptada em detalhes como o formato do rosto e a cor da pele, de acordo com o gosto dos clientes de cada país."
Ele destacou ainda o aumento das encomendas da América do Sul, impulsionado pela política de isenção de visto de trânsito por 240 horas para estrangeiros em visita à China.
Além da competitividade dos produtos, Yiwu tem buscado soluções para desafios financeiros globais. Para contornar a volatilidade do dólar e dificuldades em pagamentos internacionais, o Mercado Internacional de Yiwu passou a promover o uso do renminbi (RMB) nas transações. Atualmente, muitos comerciantes já adotaram a moeda chinesa como padrão para liquidação comercial.
De acordo com Cai Qinliang, secretário-geral da Câmara de Comércio de Wenling em Yiwu, a medida tem ampliado a base de clientes da cidade. "Promover o uso do RMB nas transações internacionais não apenas reduziu os custos cambiais das empresas, como também atraiu mais clientes de países menos dependentes do dólar, expandindo nossa rede de parceiros comerciais", afirma.