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Democratas vencem em Nova York, Nova Jersey e Virgínia e recuperam ímpeto

O partido democrata conseguiu três importantes vitórias nos Estados Unidos na primeira ronda de eleições desde que o republicano Donald Trump assumiu a presidência

NEW YORK, NEW YORK - NOVEMBER 1: Supporters of Democratic New York City mayoral candidate Zohran Mamdani attend a campaign event with Mamdani and New York City elected officials on November 1, 2025 in the Queens borough of New York City. With only days left in the race for New York City's next mayor, Mamdani remains the front runner against Independent candidate, former New York Gov. Andrew Cuomo and Republican candidate Curtis Sliwa.   Stephanie Keith/Getty Images/AFP (Photo by STEPHANIE KEITH / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

NEW YORK, NEW YORK - NOVEMBER 1: Supporters of Democratic New York City mayoral candidate Zohran Mamdani attend a campaign event with Mamdani and New York City elected officials on November 1, 2025 in the Queens borough of New York City. With only days left in the race for New York City's next mayor, Mamdani remains the front runner against Independent candidate, former New York Gov. Andrew Cuomo and Republican candidate Curtis Sliwa. Stephanie Keith/Getty Images/AFP (Photo by STEPHANIE KEITH / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Publicado em 7 de novembro de 2025 às 06h01.

A ascensão de Zohran Mamdani, que foi do anonimato político ao primeiro prefeito muçulmano de Nova York, juntamente com as governadoras mulheres Abigail Spanberger e Mikie Sherrill, de Virgínia e Nova Jersey respectivamente, representam um trio de vitórias importantes para os democratas e um contraponto à administração do presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump.

As eleições serviram como um termômetro para medir a percepção do governo republicano pela população, e ajudou o partido democrata a recuperar um pouco de seu momentum político. Em um cenário de incertezas econômicas, que muitos veem como agravado pelas tarifas de Trump, as três campanhas, focadas em acessibilidade financeira, foram muito bem-vindas pelos democratas americanos.

Os três candidatos eleitos focaram suas campanhas principalmente em acessibilidade financeira e redução do custo de vida, que vem aumentando em todo o país, e se tornando a causa principal de preocupação entre os eleitores. Também se emolduraram como resistência à Donald Trump, tanto de maneira ideológica quanto de maneira econômica.

Veja os vencedores, suas campanhas e promessas, e o que suas vitórias podem significar para os democratas durante a administração Trump.

Nova York – Zohran Mamdani

Zohran Mamdani celebra sua vitória para o cargo de prefeito de Nova York, no dia 4 de novembro. (ANGELA WEISS / AFP)

Eleito prefeito de Nova York após as eleições nessa terça-feira, 4, Zohran Mamdani, de 34 anos, nasceu em Uganda e é filho de um acadêmico e uma produtora de filmes. Fez história ao ser o primeiro prefeito muçulmano da cidade, sucedendo o democrata Eric Adams, que desistiu de se reeleger.

Autointitulado um democrata socialista, sua agenda atacou principalmente os altos custos de vida na cidade, prometendo viagens de ônibus sem taxas e creches gratuitas, o congelamento nos preços de aluguéis e sistemas de reclamação e justiça mais justos para inquilinos, que compõem 69% dos domicílios da cidade.

Além disso, também prometeu uma “taxa para milionários” aumentando os impostos sobre corporações e sobre quem faz mais de US$ 1 milhão por ano em 2%. Mamdani planeja utilizar os fundos arrecadados com essa taxa especial para financiar seus projetos, que também incluem mercados municipais que, por serem públicos, não priorizariam lucros, e nem se preocupariam com aluguéis, assim fornecendo produtos a preço de varejo, segundo seu raciocínio.

Durante sua candidatura, viu forte oposição da elite financeira da cidade, principalmente por causa da taxa sobre os ricos. Diversos bilionários, herdeiros e demais investidores se uniram para angariar fundos a fim de financiar as campanhas da oposição, personificadas por Andrew Cuomo, da velha guarda dos democratas, e pelo republicano Curtis Sliwa.

Além disso, Donald Trump foi vocal nas redes sociais, chamando Mamdani de “lunático comunista” e ameaçando cortar fundos federais para a cidade no caso de sua vitória. Mesmo assim, o democrata acabou com 50,4% dos votos, segundo a apuração mais recente da NBC, enquanto Cuomo, em segundo lugar, terminou com 41,6% dos votos, e Sliwa conseguiu apenas 7,1% na contagem final.

Nova Jersey – Mikie Sherrill

Democrata Mikie Sherril, eleita governadora de Nova Jersey, no dia 4 de novembro. (Eduardo Munoz/AFP)

No estado de Nova Jersey, a democrata Mikie Sherril, de 53 anos, é ex-piloto de helicóptero da marinha e se tornou a segunda mulher a ocupar o cargo de governadora de Nova Jersey, sucedendo o democrata Phil Murphy, que serviu dois termos. Sua campanha foi focada na resistência contra Donald Trump e, assim como a de seus colegas democratas, nos altos custos de vida.

Atacou questões como moradia, para a qual planeja facilitar acesso a empréstimos e créditos para o desenvolvimento de novas casas, e energia, tema em que promete fazer data centers pagarem custos equivalente aos seus consumos, reduzindo contas para a população. Também planeja baixar os custos de alimentos incentivando pequenos produtores com investimentos, a fim de criar mais opções locais, preços menores e melhor competição.

Além da acessibilidade financeira, trouxe ao discursos questões de saúde mental, e proteção de crianças e na internet, com o Ato de Segurança Infantil Online, lista de medidas de segurança na internet, que planeja estender a adolescentes também, e a criação de escolas por condado, o que garantiria acesso à educação de qualidade com mais facilidade para mais pessoas, segundo seu plano.

Além disso, essa corrida eleitoral foi a mais cara na história do estado. De acordo com a Comissão de Aplicação da Lei Eleitoral de Nova Jersey, o total da corrida bateu os US$ 145 milhões. No começo de outubro, tanto Sherill quanto seu rival, o republicano Jack Ciattarelli, já haviam investido cerca de US$ 23,6 milhões nas eleições em geral, e comitês apoiando cada um dos candidatos adicionais US$ 23,3 milhões em suas campanhas.

Nas pesquisas, terminou com 56,3% dos votos, enquanto Ciattarelli concluiu a corrida com 43,2%, de acordo com a apuração mais recente da NBC.

Virgínia – Abigail Spanberger

A democrata Abigail Spanberger celebra sua vitória como primeira mulher a governar o estado da Virgínia, no dia 4 de novembro. (Win McNamee/AFP)

Ex-agente da CIA, e ex-colega de quarto de Sherrill durante o início de suas carreiras políticas, a democrata Abigail Spanberger, de 47 anos, se tornou a primeira governadora do estado da Virgínia, sucedendo o republicano Glenn Youngkin.

Fazendo fronteira com Washington DC ao norte, muitos habitantes de Virgínia possuem cargos no governo federal, e como consequência, estão sofrendo financeiramente com o shutdown do governo. Também são diretamente afetados pelas políticas de Trump, muitas das quais resultaram em demissões.

Tudo isso cria preocupações muito específicas para grande parte do eleitorado de Spanberger, e por extensão, para a governadora, com trabalhadores federais na Virgínia ultrapassando os 300.000, o segundo estado em termos de quantidade, atrás apenas de Maryland.

Com isso em mente, durante sua campanha prometeu representar e defender os trabalhadores federais que perderam seus trabalhos durante a administração de Trump, especialmente devido ao seu Departamento de Eficiência Governamental (Doge).

Em um discurso em Norfolk, cidade no sul do estado, disse:

“Precisamos de um governador que apoie as milhares de famílias da Virgínia cujos meios de subsistência foram afetados ou destruídos por causa do Doge e agora por essa paralisação do governo. Não precisamos de alguém que tenha dito que perder o emprego não é um ‘problema real’ quando temos virginianos que se dedicaram ao serviço do nosso país e perderam seus empregos por causa de políticas ruins e uma administração irresponsável.”

Se emoldurando como uma resistência a Trump, derrotou a republicana Winsome Earle-Sears com 57,2% dos votos a 42,6%, segundo apuração mais recente da NBC.

As consequências das vitórias democratas – uma reviravolta?

Eleitores democratas celebrando a vitória de Mikie Sherrill, em Nova Jersey, no dia 4 de novembro. (Eduardo Munoz/AFP)

Os sucessos para os democratas podem servir para testar o clima político nos Estados Unidos, com novas táticas desenhadas para atender às maiores preocupações da população, como altos custos de vida, encontrando sucesso. A eleição de Mamdani, por exemplo, viu a maior participação desde 1969.

Mas as suas vitórias ocorreram em regiões que são historicamente democratas, com a exceção da Virgínia, que tende a mudar entre os partidos, mas que continua sendo o estado mais democrata do Sul americano. Além disso, com a exceção de Mamdani, que é mais intenso em suas políticas, os sucessos foram de democratas moderadas.

Apesar das vitórias, as pesquisas mais recentes ainda mostram uma queda na popularidade do partido democrata nos EUA, mesmo conforme as taxas de aprovação e popularidade de Donald Trump também caem.

A maioria dos americanos, de acordo com pesquisa do Pew Research Institute, percebe que ambos os partidos são muito extremos em suas políticas: 61% dos democratas diz que seu partido os deixa frustrado, e lista como a principal razão não resistirem com tanto afinco a Donald Trump. Em comparação, apenas 40% dos republicanos dizem o mesmo, enquanto 69% reportam que o partido os dá esperanças.

Mesmo assim, as vitórias podem significar um retorno do momentum político democrata, que vem caindo durante a administração de Trump. Com a participação de nomes como Barack Obama endossando Mamdani e participando da campanha de Spanberger, e a mobilização em massa que essas campanhas foram capazes de criar, os democratas esperam que o partido retome lentamente seu ímpeto político.

Muito desse sucesso se deve às promessas dos democratas de lidar com problemas que preocupam e afetam os cidadãos diretamente, como a acessibilidade financeira, os custos de vida, e o desemprego, que foram focos principais nas três campanhas vitoriosas.

Além disso, são capazes de unir votos de minorias étnicas. Mamdani, imigrante e muçulmano, teve vasto apoio da comunidade negra e com histórico estrangeiro, e, de acordo com dados da BBC, cerca de 30% dos votos nas campanhas de Virgínia e Nova Jersey foram de latinos.

Os democratas estão de volta e estamos vencendo", disse à mídia o presidente do Comitê Nacional Democrata (DNC), Ken Martin, nessa quarta-feira. "Estamos com o ímpeto necessário para as eleições de meio de mandato.”

As eleições de meio de mandato devem ocorrer no dia 3 de novembro de 2026.

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