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Diante de milhares de mexicanos, Sheinbaum diz que diálogo derrubará tarifas de Trump

Presidente do México confia que negociação evitará impacto de tarifas que poderiam atingir até 25% das exportações

Estados Unidos absorvem 80% das exportações mexicanas (Yuri CORTEZ/AFP)

Estados Unidos absorvem 80% das exportações mexicanas (Yuri CORTEZ/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 10 de março de 2025 às 07h11.

Última atualização em 10 de março de 2025 às 07h12.

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Rodeada por milhares de simpatizantes, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse no domingo, 9, confiar que o diálogo com Donald Trump sepultará a ameaça do presidente americano de impor tarifas às importações provenientes do território mexicano.

Durante um evento convocado para celebrar um acordo com o republicano para adiar a entrada em vigor da taxação até 2 de abril, Sheinbaum se declarou otimista sobre um arranjo que proteja definitivamente o T-MEC, o tratado de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. O acordo receberia um golpe devastador se Washington acabar taxando em 25% seus dois parceiros comerciais.

"Somos otimistas porque nesse dia (...) o governo dos Estados Unidos anunciou que colocará tarifas recíprocas a todos os países do mundo" e, no caso do México, "não teriam que ser aplicadas" porque não existem em virtude do T-MEC, afirmou a presidente no Zócalo, principal praça pública da Cidade do México, onde se reuniram cerca de 350 mil pessoas, segundo números do governo local.

EUA são destino de 80% das exportações mexicanas

Os Estados Unidos absorvem 80% das exportações mexicanas, o que torna a medida um ponto central para a economia do país.

Originalmente, Sheinbaum, cuja popularidade ronda 80%, organizou este ato para anunciar as "medidas tarifárias e não tarifárias" com as quais o México responderia caso as tarifas tivessem sido mantidas.

No entanto, Trump pausou a aplicação da medida na última quinta-feira após uma conversa por telefone com Sheinbaum, alegando que o fez em consideração a ela.

"Nós nos reunimos para comemorar porque na relação com os Estados Unidos, com seu governo, prevaleceu o diálogo e o respeito, e foram suspensas as tarifas", ressaltou a presidente.

Em um palco instalado em frente ao Palácio Nacional, sede do governo, também advertiu: "Não podemos ceder em nossa soberania, nem pode nosso povo ser afetado por decisões tomadas por governos ou hegemonias estrangeiras".

Tarifas como retaliação à crise migratória e ao fentanil

Trump apresenta as tarifas como uma forma de retaliação ao México e ao Canadá por, segundo ele, permitirem a entrada de migrantes irregulares e de fentanil, droga sintética associada a dezenas de milhares de mortes por overdose a cada ano nos EUA.

"Você não está sozinha", gritavam participantes do evento sob um sol intenso. Alguns destacaram a paciência de Sheinbaum diante de Trump, que chegou a acusar seu governo de estar infiltrado pelo narcotráfico e prometeu travar uma "guerra" contra os cartéis mexicanos.

"Claudia lidou bem com Trump. Como ela diz, é preciso ter calma e paciência", disse à AFP Perla Aquino, empregada de 45 anos, em meio às bandeiras do México e do partido governista Morena.

"Ela tem coragem, veste as calças para enfrentar o magnata americano que está tentando nos pressionar (...). Espero que isso tenha consequências para os estadunidenses porque não temos que pagar pelos erros deles", comentou, por sua vez, Claudia Cabrera, psicóloga de 29 anos.

Apesar do tom ameaçador de Trump, Sheinbaum agradeceu a "vontade" de diálogo do ex-presidente, que recentemente a descreveu como uma mulher "maravilhosa" e prometeu replicar sua campanha nacional contra o fentanil.

"Com informação e diálogo respeitoso sempre poderemos alcançar uma relação de respeito. Até agora tem sido assim", afirmou a presidente, que, entretanto, apontou que os mexicanos nunca esquecerão a "mordida" dos Estados Unidos em metade de seu território durante as invasões de 1846 e 1914.

Impacto econômico: risco de recessão no México

Citando números oficiais americanos, Sheinbaum destacou que, graças às apreensões realizadas no México, a entrada de fentanil nos Estados Unidos pela fronteira de 3.100 km foi reduzida em 50% entre outubro de 2024 e janeiro de 2025.

A presidente reiterou que o México continuará cooperando para conter esse tráfico por "razões humanitárias" e espera que os EUA cumpram seus compromissos para controlar o tráfico de armas para organizações criminosas mexicanas.

Embora o México seja um importante fornecedor de produtos como abacate e tequila, o maior impacto da taxação seria nas cadeias de produção que conectam as fábricas dos três parceiros do T-MEC.

De acordo com um relatório da consultoria britânica Capital Economics, a aplicação das tarifas anunciadas por Trump levaria o México a uma recessão econômica.

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