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Dólar na máxima, tensão política e eleições: os desafios de Javier Milei na Argentina

Em meio a diversas reformas econômicas, país também tenta recompor as reservas internacionais, exigência não cumprida no acordo com o FMI

Milei tem adotado um tom cada vez mais agressivo contra instituições e adversários

Milei tem adotado um tom cada vez mais agressivo contra instituições e adversários

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 3 de agosto de 2025 às 12h44.

O presidente da Argentina, Javier Milei, atravessa um momento de turbulência política e econômica em meio à aproximação das eleições legislativas de outubro, que serão decisivas para consolidar seu projeto de reeleição em 2027.

Segundo o jornal La Nación, Milei tem adotado um tom cada vez mais agressivo contra instituições e adversários, o que vem gerando maior instabilidade no mercado.

Nos últimos dias, Milei acusou a vice-presidente e presidente do Senado, Victoria Villarruel, de ser responsável pela disparada do dólar.

No entanto, como lembrou o jornal, Villarruel não tem o poder de controlar as sessões do Senado, que é um órgão colegiado dominado pela oposição. Ela presidiu a sessão em que projetos que afetam o equilíbrio fiscal foram aprovados, mas não poderia evitar que a reunião acontecesse. Neste sábado, 2, Milei vetou as mudanças.

A tensão política cresceu no momento em que a moeda norte-americana registrou alta pela primeira vez desde a desvalorização implementada no início do governo.

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Para tentar conter a escalada, o Banco Central elevou as taxas de juros acima da inflação, uma medida que pode frear ainda mais a atividade econômica, estagnada desde abril em quase todos os setores — com exceção do agronegócio, petróleo e mineração, atividades que têm baixo impacto na geração de empregos.

Eleições e risco de instabilidade

O La Nación observa que a postura de confronto de Milei, incluindo insultos públicos contra o Senado e declarações polêmicas, não contribui para acalmar os mercados. O risco país segue acima de 700 pontos e a pressão sobre o dólar aumenta, em um cenário agravado pelo clima eleitoral.

As eleições legislativas de 26 de outubro são consideradas decisivas para o futuro político do governo.

Caso Milei consiga conquistar entre 88 e 90 cadeiras na Câmara dos Deputados, terá maior poder para barrar iniciativas da oposição.

Segundo analistas ouvidos pelo jornal, a polarização entre o mileísmo e o kirchnerismo pode afastar parte do eleitorado, o que favoreceria os grandes blocos e dificultaria a formação de uma terceira via.

Em Buenos Aires, província-chave no processo eleitoral, pesquisas indicam que a chapa kirchnerista, apoiada por Cristina Kirchner, Sergio Massa e Axel Kicillof, mantém força. A falta de renovação do peronismo, no entanto, pode levar parte do eleitorado a buscar alternativas.

Economia em foco

Apesar da aprovação do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao cumprimento parcial do acordo com a Argentina e da queda da inflação para 1,6% em junho, a confiança nos rumos da economia ainda é limitada.

O La Nación ressalta que, mesmo com a melhora nos índices inflacionários — que caíram de 60% de preocupação popular no início do governo para apenas 12% atualmente —, crescem as demandas por aumento do consumo, melhores salários e mais empregos.

A administração Milei ainda precisa avançar em reformas estruturais, como a tributária, a trabalhista e a previdenciária. Empresários da indústria nacional alertam que a carga tributária do país, de 52%, está muito acima da média de países vizinhos (30%), o que prejudica a competitividade e vem resultando em perdas de até 1.500 empregos por mês.

Outro desafio é recompor as reservas internacionais, exigência não cumprida no acordo com o FMI. O slogan “não há dinheiro”, usado como símbolo do início do governo, não poderá se sustentar como plano de longo prazo, especialmente diante da necessidade de retomar obras públicas.

Cenário político fragmentado

As articulações políticas também se intensificam. Segundo o La Nación, Karina Milei, irmã do presidente, negocia alianças em Buenos Aires com dirigentes do partido Pro, fundado por Mauricio Macri.

A Capital Federal renova três cadeiras no Senado e doze na Câmara dos Deputados, mas os termos exigidos pelo governo — como exclusão de Jorge Macri de fotos oficiais e apenas uma vaga garantida ao Pro — geram resistência.

Enquanto isso, a própria liderança do Pro se reorganiza após as derrotas nas últimas eleições locais. Mauricio Macri e Horacio Rodríguez Larreta iniciaram um processo de aproximação, buscando reconstruir a unidade do partido e viabilizar uma estratégia para 2027.

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