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Publicado em 19 de março de 2025 às 15h02.
Março é tradicionalmente o mês em que o governo chinês discute os principais assuntos da governança do país. As reuniões, conhecidas como “Duas Sessões”, tiveram como pauta principal o crescimento econômico da China. O governo projetou um aumento de 5% no PIB, uma meta mais cautelosa diante da desaceleração econômica global. “Essa previsão de crescimento mostra como a China está ajustando suas expectativas ao cenário atual”, comenta Evandro Menezes de Carvalho, professor e Coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV.
As Duas Sessões são eventos anuais que reúnem a Assembleia Popular Nacional (APN) e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Esses encontros têm grande influência nas decisões políticas e econômicas do país, refletindo diretamente nas estratégias tomadas pela China.
O professor, que é também autor do livro *China: Tradição e Modernidade na Governança do País*, analisa que as decisões tomadas durante as Duas Sessões não se restringem às mudanças apenas na China. Elas moldam as relações econômicas e comerciais do país com o resto do mundo. “O que ocorre nas Duas Sessões afeta diretamente o comércio internacional, as finanças globais e o setor de tecnologia, já que a China é um dos principais atores nesses campos.”
Essas decisões políticas moldam, portanto, os rumos da economia global e das relações internacionais. Empresas e governos de todo o mundo acompanham de perto as Duas Sessões, pois as mudanças na China têm repercussões diretas em mercados globais e políticas comerciais. A influência da China nas políticas globais fica mais evidente durante essas reuniões.
Além da meta de PIB para o ano, as autoridades chinesas determinaram atenção ao consumo interno. O país pretende estimular o fortalecimento do consumo doméstico para reduzir a dependência da China de outros países. O foco será o investimento em inovação para internalizar cadeias de suprimentos de alta tecnologia.
Outro tema planejado foi a transição para uma economia mais sustentável e o uso de novas tecnologias. O governo destacou o uso de big data e inteligência artificial para melhorar a governança pública. “A China tem investido em tecnologias para aprimorar a coleta de dados e tornar a governança mais eficiente”, explica Carvalho. Além disso, o governo chinês dedicou atenção à questão do envelhecimento da população, propondo medidas como subsídios e incentivos para estimular o aumento da natalidade.
Durante as Duas Sessões, são debatidos temas como o orçamento do governo, o planejamento de longo prazo e novas políticas públicas. Carvalho esclarece: “Enquanto a APN toma as decisões formais, a CCPPC auxilia na discussão e formulação dessas políticas.” Ele também destacou uma diferença importante entre a China e o Ocidente: “No modelo chinês, o processo de decisão é contínuo. A população participa ao longo do ano, enquanto no Ocidente, o envolvimento é limitado a votações periódicas.”
O professor aponta que a China, por meio dessas sessões, consegue alinhar suas necessidades de governança de um país de grande escala e complexidade. “Essas sessões não são apenas reuniões internacionais. Elas são o reflexo de um sistema de governança que busca equilíbrio entre a autoridade central e a participação popular. Mesmo sem o voto direto como no Ocidente, a China tem mecanismos próprios para ouvir e envolver a população nas políticas públicas”, afirma Evandro. Segundo ele, a participação popular é uma das características centrais desse sistema, e a tecnologia tem sido uma aliada importante nesse processo.
Durante esses encontros, o governo chinês define suas metas e políticas para o ano seguinte. As questões abordadas variam conforme o contexto econômico e político do país. “Este ano, a China focou em um crescimento econômico moderado, refletindo desafios internos e externos”, observa.
As decisões tomadas nas Duas Sessões têm implicações além das fronteiras da China, afetando mercados globais e estratégias políticas internacionais.Crédito: Daiane Mendes