Da esquerda: líder do partido socialista Jimmy Dijk, do Partido Democrata Cristão CDA Henri Bontenbal, do partido de direita (PVV) Geert Wilders, e líder do partido Democratas 66 (D66) Rob Jetten em Tilburg, Holanda, no dis 25 de outubro (Robin Utrecht/AFP)
Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 16h38.
As eleições na Holanda foram adiantadas de 2028 e são realizadas nesta quarta-feira, 29.
Quase um terço dos eleitores holandeses permanece indeciso no dia da eleição, e as pesquisas indicam uma competição acirrada entre os quatro principais partidos.
Com a direita no topo, as eleições holandesas refletem tendência política que atinge também o Reino Unido, a França e a Alemanha, e uma narrativa anti-imigratória carrega peso.
Analistas dizem que o resultado das eleições na Holanda pode servir de termômetro para medir a popularidade da direita na Europa.
Todavia, os cidadãos holandeses têm preocupações mais urgentes, como a crise de moradia e o aumento do desemprego, o que pode levar os eleitores a pender mais para a esquerda.
Veja os principais partidos políticos e seus líderes:
O partido de direita PVV, sob a liderança de Geert Wilders, de 62 anos, ficou famoso por uma forte campanha de dois anos como defensor de pautas anti-imigratórias e, especificamente, anti-islâmicas.
Devido às suas posições, Wilders foi denominado de “Trump holandês”.
As pesquisas ainda apontam o PVV em primeiro lugar, mas com menor margem do que antes.
Nas eleições de 2023, o partido surpreendeu com uma importante vitória, mas, devido ao sistema de governo holandês, que garante que nenhum partido alcance a maioria sem a formação de coalizões, Wilders teve dificuldade em implementar suas reformas e cedeu o cargo de primeiro-ministro a Dick Schoof.
Apesar disso, manteve-se membro ativo do parlamento e vocalmente crítico dos governos, que tinham dificuldade em se unir para passar mudanças.
Wilders, que vê o Islã como “a maior ameaça existencial à nossa liberdade”, propunha pautas como a proibição do Alcorão e a destruição de mesquitas.
Como resultado, a vasta maioria dos parlamentares julgava muito difícil trabalhar com ele, e foi devido a essa falta de suporte que não pôde se tornar primeiro-ministro.
Por mais que esteja liderando nas pesquisas e que tenha abandonado suas pautas mais radicais, seus colegas continuam se recusando a trabalhar com ele, já que o julgam não confiável, o que compromete sua candidatura mesmo em caso de vitória.
Isso torna mais provável que, na realidade, o líder do partido em segundo lugar tome o posto de primeiro-ministro.
"O futuro da nossa nação está em jogo", declarou Wilders à AFP. "Como em toda a Europa, as pessoas estão cansadas da imigração em massa, da mudança cultural e da chegada de pessoas que realmente não pertencem culturalmente a este lugar."
Em segundo lugar nas pesquisas está a aliança de esquerda do Partido Verde e do Partido Trabalhista sob Frans Timmermans, 64, um experiente político que chegou a ser vice-presidente da Comissão Europeia.
Ele deixou sua posição para concorrer ao cargo de primeiro-ministro da Holanda em 2023 - objetivo que se tornou impossível devido à vitória surpresa de Wilders.
Timmermans pende para a esquerda e defende pautas como o aumento do salário mínimo e o aumento de impostos corporativos.
Todavia, também argumenta por maiores custos militares e por políticas de imigração mais rígidas.
Timmermans fala seis línguas e seu maior trunfo na corrida eleitoral é sua vasta experiência, reconhecida tanto por parlamentares quanto por eleitores.
"Este é um dos países mais ricos do planeta e, no entanto, a confiança em si mesmo é muito baixa", declarou Timmermans em entrevista à AFP.
"Temos que recuperar a confiança, porque não há nenhum problema que não possamos resolver.”
Em terceiro lugar nas pesquisas, partido centrista Democratas 66 de Rob Jetten, 36, aposta em uma postura mais moderada e aberta a alianças para o parlamentarismo.
O carismático Jetten, que já foi Ministro do Clima, promete fortes gastos principalmente em moradia e educação, duas pautas consideradas importantes nas pesquisas.
Seu discurso positivo e sua forte presença nas redes sociais resultaram em importantes ganhos de popularidade para seu partido, o D66, que defende políticas climáticas e integração europeia.
As posições políticas progressistas do partido fizeram com que as janelas de seu escritório fossem quebradas durante violentos protestos contra a imigração em Haia, capital política da Holanda.
Revivendo a sigla do CDA após terem sido reduzidos a apenas cinco cadeiras após a vitória de Wilders em 2023 está Henri Bontenbal, de 42 anos.
A sua campanha é centrada principalmente na promessa de um governo estável, após dois anos de instabilidade durante o mandato do PVV.
À frente de um partido de centro-direita, Bontenbal diz à AFP que “Acredito sinceramente que os holandeses não são extremistas em nenhum dos lados [...] A maioria dos holandeses quer políticas moderadas do centro político.”
O ex-consultor de energia apresenta, individualmente, uma das maiores popularidades, mesmo entre eleitores que votarão para outros partidos.
Se tornou popular principalmente por suas políticas tarifárias, fundos para financiar gastos militares e investimentos no setor de saúde.
Uma perspectiva para o próximo governo ainda não é certa, já que a necessidade de formar coalizões é um processo lento que demanda muita burocracia.
O último governo, por exemplo, demorou 233 dias para ser formado.
Além disso, mais de 50% dos eleitores holandeses ainda estavam indecisos apenas dias antes das votações.
"Neste momento, é impossível saber quem vencerá as eleições, porque há quatro partidos empatados em primeiro lugar", declarou à AFP Sarah de Lange, professora de Política na Universidade de Leiden.
Por mais que pautas imigratórias tenham gerado cada vez mais tração na Europa, incluindo na Holanda, os cidadãos apontam como sua maior preocupação a crise de moradia no país, o que resultou em altos aluguéis e altos custos de vida.
Muitos partidos se comprometeram a atacar esse problema de frente, com Timmermans prometendo pelo menos 100.000 novas casas por ano caso tome o poder, e Jetten propondo a reutilização de 1% do espaço agrícola do país para a construção de moradias.
Além disso, taxas elevadas de desemprego também preocupam, com 8.8% da população recebendo benefícios sociais, de acordo com a BBC.