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Eleições na Argentina: partido de Milei tem vitória surpreendente

Resultado das eleições legislativas deverá impactar o futuro do governo e sua capacidade de fazer reformas

Javier Milei, presidente da Argentina, posa para foto antes de votar, neste domingo, 26 (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, posa para foto antes de votar, neste domingo, 26 (Luis Robayo/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 26 de outubro de 2025 às 21h24.

Última atualização em 26 de outubro de 2025 às 22h06.

Buenos Aires - Os dados da apuração das eleições legislativas da Argentina, realizadas neste domingo, 26, mostram uma vitória do partido A Liberdade Avança (LLA), do presidente Javier Milei.

A primeira rodada de dados oficiais da apuração foi divulgada perto das 21h2o. Na disputa para a Câmara dos Deputados, com 91,5% dos votos apurados, o partido do governo somava 40,84% dos votos, o que garante 64 assentos. O Fuerza Patria, de oposição e peronista, somava 24,5% dos votos, que garantem 31 assentos.

O LLA também está à frente na província de Buenos Aires, um reduto peronista histórico, o que dá ainda mais peso à vitória. A região é também a mais populosa do país. O partido governista foi o mais votado na maioria das províncias do país.

O resultado deverá dar impulso para Milei aprovar mais reformas e recuperar a força para a segunda metade de seu mandato, após meses em que o governo viveu uma série de crises.

No pleito atual, serão renovados 127 assentos da Câmara, de um total de 257,  e 24 dos 72 senadores.

Para cravar uma vitória, o governo Milei precisaria conquistar ao menos um terço dos votos no Congresso, ou cerca de 85 de 257. Este é o total necessário para impedir a derrubada de vetos presidenciais e conseguir o avanço de algumas medidas. Atualmente, ele tem 38 assentos.

Reformas mais amplas, no entanto, demandam 129 assentos, ou metade mais um. Para elas, Milei terá de fazer acordos com outros partidos.

Os dados foram divulgados com atraso. A previsão inicial era que a primeira rodada de informação fosse divulgada às 21h. Ao mesmo tempo, a apuração foi mais rápida que em anos anteriores, por conta da adoção de uma cédula de votação unificada.

Milei foi eleito com cerca de 40% dos votos para presidente. Assim, ficar abaixo desse percentual indicaria que Milei perdeu apoio popular, segundo analistas. Pesquisas indicam que 40% dos argentinos aprovam a gestão do presidente.

A votação desde domingo atraiu apenas 67,8% dos eleitores, em um país onde o voto é obrigatório. É um dos menores percentuais das últimas eleições.

Choque na economia

Em quase dois anos no cargo, Milei tomou medidas duras para conter a inflação, que baixou do patamar de 211% ao ano para cerca de 30% anuais. Entre as ações, houve um grande corte de gastos públicos, que incluiu a retirada de verbas para as províncias, demissões de funcionários públicos e o cancelamento de obras públicas, além do reajuste dos salários e aposentadorias em percentual menor do que antes.

Além disso, houve uma abertura às importações, o que reduziu os empregos em alguns setores, e as taxas de juros foram elevadas para frear o consumo. Neste cenário, o PIB do país teve um encolhimento de 0,1% no segundo trimestre deste ano.

Dúvidas sobre o dólar

Há dúvidas também na Argentina se o governo conseguirá manter o câmbio sob controle. A taxa está perto de 1.500 pesos por dólar, mas o Banco Central tem gastado milhões de dólares por dia para segurar a cotação, em um cenário em que as reservas do país estão baixas e precisam ser usadas para pagar dívidas.

Caso o resultado na eleição fosse ruim, o mercado questionaria se Milei manteria a estratégia ou poderia fazer uma desvalorização forte da moeda. O ministro da Economia, Luis Caputo, tem dito que manterá a estratégia atual.

Neste ano, Milei trocou o câmbio fixo, usado há anos, por um modelo de flutuação dentro de bandas. Assim, a moeda pode variar de preço, segundo a demanda do mercado, dentro de uma determinada faixa. Ao mesmo tempo, o governo faz uma desvalorização controlada do peso, que foi de 2% ao mês no início do governo e depois foi reduzida a 1%.

No entanto, a inflação tem ficado acima de 2% ao mês, o que faz com que a moeda americana não "suba" de preço na mesma velocidade que outros produtos e ativos financeiros. 

Isso gera uma defasagem, que aumenta o poder de compra dos argentinos que possuem dólares, mas traz o risco de uma crise mais adiante, pois faltam dólares no país. Se a moeda estrangeira fica mais acessível, mais gente se dispõe a comprá-la, o que aumenta a demanda e leva os estoques a acabarem mais rapidamente.

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