Agência de notícias
Publicado em 24 de julho de 2025 às 20h55.
O presidente dos EUA, Donald Trump e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, entraram em confronto sobre o projeto de renovação do prédio da instituição durante uma visita ao canteiro de obras nesta quinta-feira.
A dupla falou com repórteres durante uma visita para acompanhar os trabalhos de restauração na sede do banco central, com o presidente e o líder do Fed entrando quase imediatamente em um embate sobre o custo do projeto.
Powell rebateu as alegações de Trump de que os custos haviam atingido US$ 3,1 bilhões, balançando a cabeça negativamente enquanto o presidente falava sobre os estouros de orçamento. Powell então disse ao presidente que sua alegação incluía um prédio que já havia sido concluído.
Trump, questionado por um repórter sobre o que faria se um gerente em um de seus projetos de construção ultrapassasse o orçamento, respondeu de forma direta:
— Falando de forma geral, o que eu faria? — disse Trump. — Eu demitiria ele.
Trump, que nos últimos meses tem insinuado que gostaria de trocar o presidente do Fed, também mencionou suas críticas contínuas à decisão do banco central de manter as taxas de juros estáveis, decisão que Powell justificou citando preocupações sobre os impactos inflacionários das tarifas impostas por Trump.
Nos EUA, o banco central é independente, e o presidente não pode demitir o chefe do Fed antes do término de seu mandato. O de Powell, escolhido por Trump em seu primeiro mandato, só termina em maio.
— Bom, eu adoraria que ele baixasse as taxas de juros. Fora isso, o que posso dizer? — disse Trump.
Powell sorriu quando Trump deu-lhe um tapinha no braço. O presidente acrescentou que não queria “levar para o lado pessoal”.
— Eu só gostaria de ver isso terminado — disse Trump.
A renovação do prédio do banco tem oferecido a Trump e seus aliados mais um argumento para aumentar a pressão sobre Powell, com críticos atacando o orçamento de US$ 2,5 bilhões e retratando a obra como um projeto extravagante, que está desperdiçando o dinheiro dos contribuintes.
A visita do presidente ao Fed é um raro espetáculo e uma escalada pública dramática de seu conflito com o chefe do banco central americano. Embora Trump costume criticar Powell nas redes sociais — e já o tenha pressionado sobre as taxas de juros em uma reunião privada na Casa Branca em maio — a visita de quinta-feira lhe deu a oportunidade de expressar suas preocupações diretamente, no “território” de Powell.
A comitiva de Trump incluiu alguns dos críticos mais ferrenhos de Powell dentro da administração, com o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA) e presidente do conselho da Fannie Mae e da Freddie Mac, William Pulte, tendo sugerido no passado que o presidente do Fed enganou o Congresso sobre a renovação e pedindo sua renúncia.
O vice-chefe de gabinete do presidente, Jamie Blair, em uma publicação na rede X mais cedo nesta quinta-feira, afirmou que a obra de restauração “já superou o custo do Palácio de Versalhes (ajustado para os valores atuais).”
Powell afirmou que os relatos sobre a renovação são imprecisos e, nas últimas semanas — com o aumento das críticas por parte dos republicanos — pediu que o inspetor-geral do banco revisasse o andamento da obra.
O Fed está reformando o Edifício Marriner S. Eccles, sua sede original construída em 1937, e outro prédio histórico em Washington. Mais cedo nesta quinta-feira, funcionários do Fed conduziram repórteres em um tour pelo canteiro de obras ativo, onde, segundo eles, trabalham de 700 a 800 operários por dia em dois turnos.
Parte dos custos adicionais se deve a exigências de segurança, como janelas à prova de explosões, disseram autoridades.
Os funcionários do Fed também rebateram críticas a outros elementos da reforma, incluindo um plano abandonado para assentos no terraço e a elevação de um elevador em 45 cm. Ainda assim, o orçamento total do projeto aumentou para US$ 2,5 bilhões em 2025, frente aos US$ 1,9 bilhão dos últimos anos, alimentando questionamentos sobre estouros de custo.
Em diferentes momentos, Trump tentou provocar Powell a renunciar, consultou parlamentares sobre se deveria demiti-lo diretamente, e também declarou que não tem planos de removê-lo, podendo esperar o término de seu mandato.
Powell não deu qualquer indicação de que pretende deixar o cargo antes do fim do mandato ou mesmo descartou permanecer como membro regular do conselho após o fim de sua presidência, em maio.