Mundo

"Esperamos o pior", diz Bolsonaro sobre reação chavista

O processo para que o regime de Maduro caia está sendo gestado e cada ato está ocorrendo dentro de um cronograma dos EUA e dos países da região

O presidente Jair Bolsonaro, em Davos (Arnd Wiegmann/Reuters)

O presidente Jair Bolsonaro, em Davos (Arnd Wiegmann/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 07h32.

Davos - O presidente Jair Bolsonaro afirmou na quarta-feira, 23, estar preocupado com a possibilidade de que haja uma resistência por parte de Nicolás Maduro diante da decisão de Brasil, EUA, Colômbia e outros países de reconhecer o opositor Juan Guaidó como o presidente interino da Venezuela.

"Todos nós conhecemos um pouquinho Nicolás Maduro. Esperamos o pior. Há uma preocupação, sim", disse Bolsonaro em declarações exclusivas ao jornal O Estado de S. Paulo.

"Mas achamos que Guaidó não receberá qualquer tipo de retaliação de Maduro, até porque o mundo está de olho nisso e os EUA também reconheceram", completou o presidente.

Fontes do governo brasileiro e da oposição venezuelana afirmaram à reportagem que o processo para que o regime de Maduro caia está "cuidadosamente" sendo gestado e cada ato está ocorrendo dentro de um cronograma desenhado entre os EUA e países da região.

Bolsonaro participou ontem em Davos de uma reunião com os presidentes de Colômbia, Equador e Costa Rica, além de chanceleres do Canadá e de outros países. Instantes depois de dar as declarações à reportagem, diante da imprensa internacional, ele confirmou a decisão do governo brasileiro.

"O Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela. O Brasil, juntamente com os demais países do Grupo de Lima, que estão reconhecendo um a um esse fato, daremos todo o apoio político necessário para que esse processo siga seu destino", disse.

Logo pela manhã, antes mesmo de o povo venezuelano sair às ruas, o chanceler Ernesto Araújo já estava reunido em Davos com o chanceler do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni.

"Queremos que o Grupo de Lima seja ampliado para permitir que haja um impacto", disse o paraguaio. "Hoje, a única maneira é a pressão internacional", declarou.

Diplomatas esperam que, com os EUA no Grupo de Lima e o Brasil fazendo parte dos Brics, possa haver uma pressão maior sobre russos e chineses, que mantêm apoio a Maduro.

Na visão de alguns governos da região, o Grupo de Lima ameaçava perder impacto se continuasse a fazer declarações de força, mas sem o envolvimento de EUA e outras potências.

Orquestrado

Ricardo Hausmann, um dos venezuelanos que organiza um plano econômico para o governo que assumir depois da queda de Maduro, explicou ao Estado que o processo não ocorreu por acaso.

"Em primeiro lugar, houve um esforço para encontrar uma instituição doméstica venezuelana que pudesse ser legítima. E ela foi a Assembleia Nacional", disse. "O segundo passo foi colocar as pessoas nas ruas e, depois, construir um apoio internacional", disse o venezuelano ligado à Universidade Harvard. Segundo ele, o quarto capítulo da história será convencer os militares a abandonar Maduro.

No Itamaraty, a ideia era acompanhar passo a passo o que estava ocorrendo em Caracas. O próprio chanceler indicou que "sentiria a temperatura" das primeiras horas dos protestos para avaliar se declararia o apoio oficial à oposição. O risco, segundo a chancelaria, era de que o protesto fosse seguido por violência.

Colombianos e outros países da região queriam ter declarado apoio a Guaidó logo que os protestos começaram. A decisão, porém, foi a de aguardar a sinalização americana, que todos sabiam que ocorreria na quarta-feira.

O anúncio do reconhecimento dos EUA ocorreu às 18 horas (15 horas em Brasília). Neste momento, o Fórum Econômico Mundial havia organizado uma reunião fechada entre líderes da ONU e os presidentes da região, entre eles Bolsonaro.

O tema era a resposta à crise na Venezuela. Fontes que estiveram no evento, porém, confirmaram à reportagem que o tom de fato era já o de pensar a "nova Venezuela".

Quando a parte formal do encontro terminou, os presidentes passaram a se reunir de forma separada. Um dos envolvidos nas conversas era Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. A decisão foi a de seguir o gesto americano e passar a dar apoio a Guaidó.

"Acompanhamos o processo em direção à democracia para que o povo venezuelano se libere", declarou Iván Duque, presidente da Colômbia. Enquanto os líderes regionais faziam a declaração, membros da oposição venezuelana que estavam em Davos choravam e se abraçavam.

Um jantar organizado em Davos para os presidentes latino-americanos também se transformou em celebração diante da nova situação venezuelana. Bolsonaro chegou até mesmo a elogiar Trump pela ajuda que ele prestava para a região.

O governo do Uruguai, integrante do Grupo de Lima, se absteve, enquanto Bolívia e México mantiveram seu apoio a Maduro.

Para o líder da oposição uruguaia, Juan Sartori, a opção pela abstenção "não representa o povo uruguaio". "As esquerdas latino-americanas ainda mantêm uma certa aliança e eu disse hoje ao presidente Bolsonaro que lamentava a decisão do Uruguai", disse Sartori, que também está em Davos.

O brasileiro lhe respondeu com uma sugestão: "Vença as eleições e mude a posição do Uruguai".

 

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Jair BolsonaroNicolás MaduroVenezuela

Mais de Mundo

Como os Alpes influenciaram a história e cultura da Europa?

Enquanto Trump abre as portas dos EUA para os ricaços, Europa proíbe 'venda de cidadania'

Trump assinará decreto sobre tarifas automotivas nesta terça, diz Casa Branca

Por que o Papa Bento XVI renunciou ao papado?