J. Robert Oppenheimer, conhecido como o "pai da bomba atômica", foi a figura central no desenvolvimento das primeiras armas nucleares durante o Projeto Manhattan na Segunda Guerra Mundial.
Como diretor científico do Laboratório Nacional de Los Alamos, Oppenheimer liderou uma equipe de cientistas e engenheiros na criação da bomba atômica, um marco tecnológico que mudaria para sempre a história da humanidade.
O teste bem-sucedido de uma bomba nuclear em 16 de julho de 1945, conhecido como o teste Trinity, foi um momento histórico, e poucos dias depois, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 6 e 9 de agosto daquele ano, respectivamente. Esses ataques causaram cerca de 200 mil mortes imediatas e centenas de milhares de mortes subsequentes devido à radiação e ferimentos.
Oppenheimer, que inicialmente se orgulhou da conquista científica, foi rapidamente consumido por um dilema ético. Ele passou a questionar o uso militar das armas nucleares e tornou-se um defensor do controle internacional sobre essas armas, temendo as consequências que elas poderiam ter para o futuro da humanidade.
Em 2025, o cenário das armas nucleares mudou.
O número total de ogivas nucleares no mundo diminuiu desde o auge da Guerra Fria, mas as potências nucleares ainda controlam arsenais imensos, com implicações profundas para a segurança global. Ao todo, segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), existem 12.241 armas nucleares (ogivas) no mundo. Em 1986, o arsenal global chegou a cerca de 70.300 ogivas nucleares.
A Rússia e os Estados Unidos continuam dominando a cena nuclear, com arsenais de 5.449 e 5.277 ogivas nucleares, respectivamente. Juntas, as duas potências representam cerca de 88% do arsenal nuclear global.
A China, com aproximadamente 600 ogivas nucleares, tem se destacado por aumentar rapidamente seu estoque de armas nucleares. De acordo com estimativas do Departamento de Defesa dos EUA, o arsenal chinês deve ultrapassar 1.000 ogivas até 2030, com forte expansão nos anos seguintes.
Além disso, outros países como a França (290 ogivas), o Reino Unido (225 ogivas) e a Índia (180 ogivas) mantêm arsenais substanciais, com o Paquistão (170 ogivas) e Israel (90 ogivas) completando a lista dos países com armas nucleares. A Coreia do Norte, por sua vez, continua sua busca por um arsenal nuclear mais robusto, com estimativas de que o país possui 50 ogivas nucleares.
Os líderes na corrida nuclear
As armas nucleares foram uma consequência direta dos avanços científicos no campo da física nuclear, especialmente após a descoberta da fissão nuclear em 1938, por Otto Hahn e Fritz Strassmann, que provaram que era possível dividir o núcleo do átomo, liberando enormes quantidades de energia. Esse conhecimento levou os Estados Unidos a criar o Projeto Manhattan, com o objetivo de desenvolver uma bomba antes que os nazistas tivessem a chance de fazê-lo.
A primeira bomba nuclear testada foi chamada de bomba de fissão nuclear, ou bomba atômica, e utilizava urânio ou plutônio como material físsil.
Com o tempo, as potências nucleares desenvolveram armas ainda mais poderosas, como as bombas de fusão nuclear ou bombas de hidrogênio, que utilizam a fusão de núcleos leves, como hidrogênio, liberando uma quantidade de energia muito maior do que as bombas de fissão. A Tsar Bomba, testada pela União Soviética em 1961, é a maior arma nuclear já detonada, com uma potência equivalente a 50 megatons de TNT, capaz de destruir uma área de até 2.000 quilômetros quadrados e causar danos em grande parte da atmosfera.
Outros tipos de armas nucleares incluem a bomba de nêutrons, que libera radiação intensa, matando pessoas devido à radiação, mas causando menos danos materiais, e a bomba suja, que combina explosivos convencionais com material radioativo, espalhando radiação sem uma explosão nuclear completa.
Em 2025, os Estados Unidos e a Rússia dominam a corrida nuclear, controlando juntos cerca de 88% do arsenal nuclear mundial.
O número de ogivas nucleares nos Estados Unidos e na Rússia, somado, representa a maior parte das capacidades nucleares globais. As ogivas nucleares são tipicamente mantidas em diferentes tipos de entrega, incluindo mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis de cruzeiro, e submarinos nucleares.
O processo de modernização em ambos os países continua com o desenvolvimento de sistemas mais avançados, como os mísseis hipersônicos e submarinos de nova geração. O investimento dessas duas superpotências em suas forças nucleares é um dos maiores gastos militares.
O conflito nuclear no Oriente Médio
No Oriente Médio, o papel das armas nucleares se tornou um ponto de tensão permanente, especialmente entre Israel e o Irã.
Israel, que nunca confirmou oficialmente a posse de armas nucleares, é amplamente reconhecido como uma potência nuclear, com um arsenal estimado em cerca de 90 ogivas nucleares.
O Irã, por outro lado, afirma que seu programa nuclear é voltado para fins pacíficos, como a produção de energia, mas suas atividades de enriquecimento de urânio e o desenvolvimento de tecnologia nuclear têm gerado grandes preocupações.
O país tem avançado consideravelmente em seu programa de enriquecimento, alcançando 60% de enriquecimento de urânio, um nível considerado significativamente próximo do necessário para fabricar armas nucleares, que requer cerca de 90% de enriquecimento, segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) e da Federação de Cientistas Americanos (FAS). Em novembro de 2024, o Irã possuía cerca de 182 kg de urânio enriquecido a 60%, o que representa uma quantidade suficiente para produzir várias ogivas nucleares em um curto espaço de tempo, se o país decidir seguir essa trajetória.
Este avanço no programa nuclear iraniano aumentou as tensões internacionais, especialmente com Israel e os Estados Unidos, que se opõem veementemente à capacidade nuclear do Irã. Os EUA têm imposto sanções severas ao Irã e buscaram limitar seu programa nuclear por meio de acordos, como o Acordo Nuclear de Viena (JCPOA) de 2015, mas, com a saída dos EUA do acordo sob a administração Trump, o Irã acelerou seu programa de enriquecimento e reduziu sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA). O país também tem desenvolvido novos sistemas de mísseis balísticos, com a capacidade de transportar ogivas nucleares, aumentando ainda mais as preocupações regionais e globais.
Como está o Brasil?
Embora o Brasil não possua armas nucleares, o país tem o domínio completo sobre o ciclo do combustível nuclear, o que lhe confere a capacidade técnica de desenvolver armas nucleares rapidamente, caso optasse por isso, segundo dados da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e do Programa de Submarinos de Propulsão Nuclear (PROSUB).
Com um orçamento de R$ 133,6 bilhões para o Ministério da Defesa, como está previsto no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), o Brasil tem investido em modernização de sua infraestrutura de defesa convencional, incluindo submarinos, aeronaves de combate e sistemas de mísseis. O país continua a expandir e modernizar sua força militar para garantir sua soberania e segurança, com projetos de grande escala como o Prosub, que visa a construção de cinco submarinos, sendo um deles nuclear.
No entanto, o Brasil permanece firme em seu compromisso com a não proliferação nuclear e o desarmamento global. O país assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e, como parte de sua política externa, tem sido um defensor ativo de acordos internacionais que buscam reduzir o número de armas nucleares e prevenir sua disseminação. O Brasil também é um dos principais promotores da Zona Livre de Armas Nucleares da América Latina e do Caribe (Tratado de Tlatelolco), que proíbe a posse e o uso de armas nucleares na região. Além disso, o Brasil tem defendido a criação de um mundo sem armas nucleares, sendo um membro importante em fóruns internacionais que discutem o desarmamento nuclear, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT).
O desafio do controle nuclear
A verificação e o controle dos arsenais nucleares continuam sendo um dos maiores desafios para a segurança global. Embora a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) desempenhe um papel fundamental na supervisão das atividades nucleares de países não nucleares, a situação é bem diferente para as potências nucleares, como os Estados Unidos e a Rússia, que operam dentro de tratados bilaterais, como o New START Treaty. Este tratado visa limitar os arsenais nucleares dessas potências, mas sua aplicação se restringe apenas aos países signatários. A eficácia desses tratados, porém, depende da disposição das potências nucleares em permitir inspeções independentes e garantir a transparência necessária para assegurar o cumprimento dos acordos.
Apesar das limitações, a comunidade internacional tem buscado novas soluções para aumentar a confiança e o controle sobre os arsenais nucleares. Tecnologias emergentes, como sistemas de monitoramento remoto, estão sendo exploradas para melhorar a transparência e a capacidade de verificação, enquanto parcerias internacionais como a International Partnership for Nuclear Disarmament Verification (IPNDV) têm se esforçado para desenvolver métodos mais eficazes para garantir o desarmamento nuclear gradual.
O crescimento das armas nucleares táticas e o aumento da militarização complicam ainda mais os esforços de desarmamento. Essas armas, de menor rendimento, mas com capacidade destrutiva significativa, podem ser usadas em cenários mais limitados, o que aumenta o risco de escalada de conflitos e dificulta a redução dos arsenais nucleares existentes.