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EUA e China retomam negociações nesta segunda-feira, em Londres, com foco em terras-raras e chips

Minerais chineses são críticos para celulares e outros equipamentos eletrônicos. Tecnologia estará no centro da tentativa do acordo, com Pequim buscando reduzir barreiras às importações de semicondutores

O presidente dos EUA, Donald Trump, e Xi Jinping, da China: telefonema na semana passada destravou as negociações. Representantes dos dois países terão encontro nesta segunda-feira em Londres (AFP)

O presidente dos EUA, Donald Trump, e Xi Jinping, da China: telefonema na semana passada destravou as negociações. Representantes dos dois países terão encontro nesta segunda-feira em Londres (AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 9 de junho de 2025 às 12h42.

Estados Unidos e China retomam as negociações comerciais em Londres nesta segunda-feira, 9, em uma tentativa de reduzir ainda mais as tensões sobre minerais de terras-raras e tecnologia avançada, após uma ligação telefônica entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping na semana passada.

A reunião deve se estender até a noite e pode ser retomada na terça-feira, se necessário.

Ambos os lados acusaram o outro de ter voltado atrás em um acordo feito em Genebra, em maio, quando chegaram a um entendimento para, ao menos temporariamente, reduzir tarifas que haviam ultrapassado 100%.

Após chegar a um acordo com Xi sobre a retomada do fluxo de minerais críticos, Trump disse esperar que a reunião em Londres “corra muito bem”.

No sábado, a China afirmou ter aprovado alguns pedidos de exportação de terras raras, sem especificar quais países ou setores estavam envolvidos. Na sexta-feira, a agência Reuters noticiou que a China teria aprovado licenças temporárias de exportação para fornecedores de terras-raras que atendem as principais montadoras dos Estados Unidos.

O governo Trump espera que “após o aperto de mãos” em Londres, “quaisquer controles de exportação dos EUA sejam flexibilizados e as terras raras sejam liberadas em volume” pela China.

"Queremos que as terras-raras, que são cruciais para celulares e tudo o mais, voltem a fluir como antes do início de abril, e não queremos que detalhes técnicos atrasem isso", disse Kevin Hassett, chefe do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, no domingo, no programa "Face the Nation", da CBS. "E isso está claro para eles".

As ações americanas oscilaram entre pequenos ganhos e perdas, enquanto as ações chinesas negociadas em Hong Kong entraram em mercado de alta, à medida que alguns investidores expressaram esperança de que as negociações indiquem um arrefecimento nas tensões comerciais.

As tensões comerciais entre EUA e China aumentaram este ano quando Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses, levando a retaliações por parte de Pequim. Embora o acordo de Genebra tenha sido concebido para abrir caminho para uma distensão mais ampla, as conversas subsequentes rapidamente empacaram em meio a acusações mútuas.

Os EUA reclamaram da queda nas remessas dos minerais conhecidos como terras-raras, essenciais para veículos elétricos americanos e sistemas de defesa. A China reagiu com irritação às restrições dos EUA sobre chips de inteligência artificial da Huawei, softwares para design de chips, motores de aviões e vistos para mais de 280 mil estudantes chineses.

Em Londres, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent; o secretário de Comércio, Howard Lutnick; e o representante de Comércio, Jamieson Greer, se reunirão, na Lancaster House, com uma delegação chinesa liderada pelo vice-premiê He Lifeng.

A inclusão de Lutnick, responsável pelas restrições à venda de tecnologia avançada, sinaliza que Trump pode estar disposto a considerar a reversão de algumas medidas que ameaçam prejudicar as ambições de crescimento de longo prazo da China, que vão desde o fornecimento de tecnologia até peças de motores a jato.

Embora a ligação entre Trump e Xi na semana passada tenha gerado alguma esperança em Wall Street por uma redução das tarifas entre os parceiros comerciais, o otimismo dos investidores foi limitado. Apesar de prometer reformular as relações comerciais dos EUA, Trump até agora fechou apenas um novo acordo comercial — com o Reino Unido.

A suspensão temporária das tarifas dos EUA sobre produtos chineses termina em agosto, a menos que Trump decida prorrogá-la. Caso não haja acordos, a Casa Branca afirmou que Trump pretende restaurar as tarifas aos níveis anunciados inicialmente em abril, ou a valores inferiores, porém ainda acima da taxa atual de 10%.

A confusão após a reunião de Genebra ressaltou o desafio de firmar acordos entre China e EUA.

"Eles deixaram muitas coisas em aberto para interpretação, e todos pagaram o preço por isso nas semanas seguintes", disse Josh Lipsky, presidente de economia internacional no Atlantic Council.

EUA e China “só querem voltar ao ponto em que estavam na Suíça, com mais alguns acordos no papel para realmente entender o que será licenciado, o que será permitido e o que não será”, acrescentou.

Por ora, Xi parece apostar que um reinício nas relações levará a ganhos concretos nas próximas semanas e meses, incluindo a redução de tarifas, o afrouxamento dos controles de exportação e um tom menos conflituoso. Após a ligação com Trump, Xi disse esperar que os EUA “removam as medidas negativas tomadas contra a China”.

Embora o líder chinês tenha demonstrado força com as restrições às terras-raras, os problemas econômicos da China — evidenciados pela deflação persistente e preocupações com o desemprego — dão a ele motivos para buscar um acordo duradouro.

Um comentário publicado pela agência oficial Xinhua no domingo criticou os EUA por tratarem questões econômicas sob a ótica da segurança, afirmando que “esse pensamento se tornará o maior obstáculo para uma cooperação vantajosa para todos, se não for ajustado”.

Ainda assim, o texto deixou espaço para a melhora nas relações, acrescentando que “China e EUA compartilham interesses comuns amplos e vasto espaço para cooperação, e a essência das relações econômicas e comerciais entre os dois países é o benefício mútuo e os resultados em que todos ganham”.

Após a conversa entre os dois líderes, o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que Trump disse a Xi que os estudantes chineses são bem-vindos para estudar nos EUA. Trump depois declarou que seria uma “honra” recebê-los.

Embora o clima seja positivo para o início das conversas em Londres, ao contrário da reunião de Genebra, não há urgência em reduzir tarifas, segundo Adam Farrar e Michael Deng, da Bloomberg Economics.

“Desta vez, não há frutos fáceis de colher”, escreveram em um relatório antes das negociações. “Com questões mais complexas na mesa, será mais difícil para qualquer um dos lados sair com resultados novos e significativos.”

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