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Evitar TikTok e não gravar vídeos: Taiwan lança guia para caso de invasão

Governo quer preparar cidadãos para possível operação militar de Pequim contra a ilha

Caça F-16, da Força Aérea de Taiwan, durante decolagem (Yasuyoshi Chiba/Getty Images)

Caça F-16, da Força Aérea de Taiwan, durante decolagem (Yasuyoshi Chiba/Getty Images)

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 14h41.

Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 16h09.

A ilha de Taiwan começará a distribuir milhões de cópias de uma espécie de “manual de sobrevivência” para seus habitantes, com indicações de como lidar com uma eventual invasão do governo da China.

Outras versões do guia, originalmente lançado em 2022, eram mais focadas em desastres naturais, epidemias e climas extremos. Todavia, a nova versão atualizada é a primeira que inclui instruções em caso de invasão e contato com soldados chineses.

Taiwan tem um governo autônomo, mas vive há décadas uma guerra fria com Pequim. O governo da China continental considera Taiwan como uma de suas províncias, embora não tenha o controle sobre a ilha.

Os chineses mantêm constante presença militar nos mares da região e realizam exercícios regulares com seus soldados, em aparente preparação.

Originalmente anunciado em setembro, o guia indica o que fazer em caso de contato com soldados inimigos, dá instruções para encontrar abrigos e bunkers contra bombas via apps e como reagir a um cenário inicial de invasão. Além disso, reforça que qualquer notícia sobre a rendição de Taiwan deve ser considerada falsa.

“Sejam desastres naturais, epidemias, condições climáticas extremas ou a ameaça de invasão chinesa, os desafios que enfrentamos nunca cessaram”, diz o guia, que também oferece instruções sobre a montagem de kits de emergência para famílias e até mesmo animais de estimação.

O diretor da Agência de Mobilização Geral de Defesa do Ministério de Defesa Nacional da ilha, Shen Wei-chih, disse à agência Reuters que a iniciativa foi baseada em guias semelhantes lançados por democracias ocidentais, como na França, Finlândia, Suécia e Lituânia, que visam preparar o público em tempos de paz para potenciais crises.

O diretor disse que o guia promove a ideia de “estar preparado significa estar mais seguro”. O material, com 29 páginas, foi feito para ser entendido por leitores de todas as idades, apresentando tanto texto quanto imagens, e advoca para que “taiwaneses cuidem uns dos outros e protejam nosso amado lar.”

O guia, de um laranja chamativo, será distribuído para mais de 9.8 milhões de residências durante essa semana. Além disso, cópias em inglês e outras línguas também serão produzidas, segundo apuração da Reuters.

“Precisamos que as pessoas do outro lado do Estreito de Taiwan compreendam que haverá um custo enorme se a China tomar a decisão errada, porque o povo taiwanês tem a determinação e o compromisso muito claro de se defender e está disposto a tomar medidas para proteger uns aos outros,” disse Lin Fei-fan, Secretário-geral adjunto do Conselho de Segurança Nacional, que supervisou a produção do manual. “O guia mostra nossa determinação em nos defendermos.”

Em tempos de guerra

O novo guia põe forte ênfase do que fazer em tempos de conflito internacional e durante momentos de prelúdio de invasão. “As ambições da China em relação à expansão autoritária estão sendo sentidas por países em todo o mundo,” disse Lin Fei-fan. “A situação global — seja na Europa ou na região Indo-Pacífico — não é uma preocupação distante. Está bem à nossa porta”, disse.

O guia fornece preparação contra uma lista de cenários que podem ser enfrentados por Taiwan em tempos de guerra ou nos momentos que os antecedem: sabotagem de cabos submarinos que fornecem internet, ataques virtuais e ciberterrorismo. O guia também alerta sobre inspeções de embarcações marítimas por “nações hostis” como um prelúdio de invasão, segundo reportagem do jornal taiwanês Taipei Times.

Lin Fei-fan diz que Taiwan já está passando por um momento de guerra híbrida, que inclui ciberataques, infiltração, campanhas de desinformação e incursões militares perto da ilha.

“É o dia D contra o dia a dia. O dia D significa, na verdade, invasão. Obviamente, não estamos no modo dia D. Mas estamos enfrentando a chamada coerção do dia a dia.”

Em um potencial confronto armado, caso presença inimiga na ilha seja detectada, o guia instrui cidadãos a se abrigarem em lugares seguros e longe de janelas, e a evitar de gravar vídeos e tirar fotos para a internet. “Isso poderia comprometer os movimentos militares, o que é prejudicial para as nossas operações defensivas,” diz Shen Wei-chih.

O guia também alerta sobre produtos manufaturados na China como câmeras e aplicativos, influindo o modelo de inteligência artificial chinês DeepSeek, e plataformas de redes sociais como WeChat e TikTok. “Em tempos de crise, esses dispositivos podem ser usados pelo inimigo,” diz o guia.

Além disso, o guia também oferece dicas sobre como tratar de crises com crianças.

“Muitos pais, na verdade, não sabem como discutir uma crise potencial com seus filhos”, disse Lin Fei-Fan. “O objetivo não é fazer com que todos fiquem com medo. Em vez disso, todas as informações têm como objetivo ajudar as pessoas a desenvolverem melhores estratégias quando uma crise real ocorrer.”

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