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Ex-Guantánamo já tomam mate e aprendem espanhol no Uruguai

Os seis homens que foram transferidos de Guantánamo no domingo passado já possuem carteira de identidade uruguaia e convivem juntos em uma casa em Montevidéu

O ex-detento de Guantánamo sírio Jihad Ahmed Mujstafa Diyab (direita) toma mat (Inês Guimaraens/AFP)

O ex-detento de Guantánamo sírio Jihad Ahmed Mujstafa Diyab (direita) toma mat (Inês Guimaraens/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2014 às 10h44.

Montevidéu - Apenas três dias após deixar o hospital que certificou seu estado de saúde após aterrissar no Uruguai na qualidade de refugiados, os seis ex-detentos procedentes da prisão de Guantánamo, em Cuba, já tomam o típico mate, 'arranham' o espanhol e se preparam para fazer um churrasco de cordeiro para os que lhes ajudam em sua adaptação ao país.

Os seis homens - quatro sírios, um palestino e um tunisiano -, que foram transferidos dessa prisão na madrugada do domingo passado a bordo de um avião C-17 dos Estados Unidos, já possuem carteira de identidade uruguaia e convivem juntos em uma casa de Montevidéu oferecida pelo sindicato PIT CNT.

'Eles se mostram constantemente agradecidos ao povo uruguaio por sua amparada', afirmou à Agência Efe o secretário de Relações Internacionais do sindicato, Fernando Gambera, que frequentemente visita os ex-detentos.

O PIT CNT fechou um acordo com o governo uruguaio para tutelar os seis homens oferecendo-lhes hospedagem de forma transitória e ajudando-lhes nos aspectos básicos de sua adaptação social, até que encontrem um trabalho e se adaptem ao país.

Enquanto isso, estão 'bem animados', segundo Gambera, que esteve ontem com eles enquanto tomavam um café da manhã com 'ovos fritos com muita verdura e pão árabe', embora o estado emocional, declarou, 'não seja igual nos seis', já que depende do nível de contato que puderam ter com suas famílias.

Desde que se instalaram na casa, começaram a receber aulas de espanhol oferecidas pelo governo e já se defendem com algumas palavras soltas nesse idioma.

De acordo com uma pesquisa realizada no último mês de outubro, 58% dos uruguaios rejeitava essa transferência, fruto de um compromisso adotado pelo presidente do Uruguai, José Mujica, em sua última reunião com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março de 2014.

No entanto, Gambera elogiou a boa disposição dos moradores do bairro no qual temporariamente estão residindo estes homens.

'Eles saem na varanda e tomam mate. E respondem com gestos de aprovação aos moradores que lhes cumprimentam', contou o sindicalista, que acrescentou que, apesar de já terem feito vários passeios pelas ruas de Montevidéu, insistem em não comparecer a lugares muito movimentados.

Durante seu primeiro mês no Uruguai, o objetivo é conseguir sua adaptação aos costumes e a aprender o idioma, motivo pelo qual ainda 'não concretizou-se nada' a respeito das ofertas de trabalho que algumas empresas já lhes fizeram.

A esse respeito, Gambera reconheceu que o sindicato já conversou com os refugiados para determinar 'onde estão suas expectativas'.

Habitualmente e por turnos, vários militantes do PIT CNT acompanham os ex-detentos tanto pelo dia como pela noite e se comunicam com algum deles em inglês, que por sua vez o traduz ao árabe para a compreensão dos demais.

Além disso, os homens mantêm as rezas e os costumes da religião muçulmana.

'Hoje devem sacrificar um cordeiro para comê-lo em casa junto com professora de espanhol e algum companheiro do sindicato a quem já chamam de 'família'', comentou Gambera.

Por enquanto, os seis refugiados planejam ficar no Uruguai e receber a suas famílias no país, um tema 'prioritário' para eles, segundo o porta-voz sindical.

A transferência dos ex-detentos faz parte do programa de fechamento da prisão de Guantánamo adotado por Obama em 2008.

Mujica decidiu então oferecer a 'hospitalidade' de seu país 'para seres humanos que sofriam um atroz sequestro' em dita prisão, segundo explicou em carta publicada no último dia 5 de dezembro, na qual acrescentava que a razão 'iniludível' de seu ato era 'humanitária'. EFE

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