Sheikh Hasina: ex-primeira-ministra foi julgada culpada de crimes contra a humanidade pelo Tribunal Internacional de Crimes de Bangladesh (INDRANIL MUKHERJEE/AFP /Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 07h56.
Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 07h57.
A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à pena de morte por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Internacional de Crimes de Bangladesh nesta segunda-feira, 17.
A Corte considerou que a política é responsável pela violenta repressão aos processos estudantis que ocorreram no país em 2024 — na época, 1.400 pessoas foram mortas, de acordo com a ONU. O episódio culminou na queda do governo de Hasina após 15 anos no poder e desencadeou sua fuga para a Índia.
"Todos os elementos (...) constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos", declarou o juiz do tribunal de Dacca, Golam Mortuza Mozumder. "Decidimos impor uma única pena, a pena de morte", acrescentou.
Hasina, 78 anos, sempre negou as acusações. Após o veredito, em nota, ela afirmou que a sentença tem "motivações políticas" e foi ditada por um "tribunal manipulado, estabelecido e presidido por um governo não eleito e sem mandato democrático".
A decisão do tribunal era muito aguardada em Bangladesh. Na capital, a polícia foi mobilizada para garantir a segurança nas imediações da Corte e em todos os principais pontos da cidade. O país se prepara para as próximas eleições legislativas, marcadas para daqui a três meses.
A imprensa internacional avalia que a sentença impõe um teste à relação diplomática entre Bangladesh e Índia. Daca já havia solicitado formalmente a extradição da ex-primeira-ministra, mas, até agora, Nova Délhi não demonstrou disposição para atender ao pedido.
Em 2024, jovens estudantes de Bangladesh se mobilizaram contra um sistema de cotas que reservava mais da metade das vagas no serviço público a determinados grupos — entre eles, os descendentes dos guerrilheiros que lutaram contra o Paquistão na guerra de independência nos anos 1970.
Na percepção popular, esses grupos ocupavam posições desproporcionais no Parlamento, incluindo a própria Sheikh Hasina, filha de um dos líderes daquele período. Segundo dados do Banco Mundial, na época das manifestações, um país de mais de 170 milhões de habitantes convivia com mais de 30 milhões de pessoas fora do emprego e da educação.
Foi o desemprego e o sentimento de nepotismo que atiçou a raiva da Geração Z, que tomou as universidades todo o país em manifestações intensas, organizadas virtualmente e sem um líder.
Dessa vez, os protestos escalaram com o envolvimento de outro grupo de jovens: estudantes da liga Bangladesh Chatra, que era afiliada ao partido Awami, em poder no período, atacaram manifestantes. A partir disso, membros do protesto entraram em conflito com a polícia e apoiadores do governo.
O banimento de redes sociais e a implementação de um toque de recolher por Hasina apenas enfureceu ainda mais os jovens, que sobrepujaram seus oponentes e marcharam em direção à residência presidencial.
A brutalidade que se seguiu chamou atenção internacional: Volker Türk, chefe da Comissão de Direitos Humanos da ONU, reporta que durante os 46 dias de manifestações 1.400 pessoas foram mortas.
“Há motivos razoáveis para acreditar que funcionários do antigo governo, seus aparatos de segurança e inteligência, juntamente com elementos violentos associados ao antigo partido no poder, cometeram violações graves e sistemáticas dos direitos humanos”, disse Türk em relatório oficial da ONU sobre o ocorrido.
Apesar da forte e violenta repressão, manifestantes conseguiram chegar à residência presidencial e a vandalizaram, causando incêndios e quebrando janelas. Isso fez com que Hasina renunciasse e fugisse do país para a Índia, após 15 anos no poder.
O período ficou conhecido no país como a Revolução de Julho, e culminou em um governo interino a cargo do vencedor do Nobel da Paz Muhammed Yunus, que ficará no poder até as eleições previstas para fevereiro.
*Com informações de AFP e EFE