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A geração mais infeliz? Estudo aponta queda recorde no bem-estar dos jovens desde 2010

Pesquisa feita em 11 países indica que tecnologia, economia e isolamento social podem estar por trás da crise de felicidade entre jovens adultos

Representação de emoji triste: jovens têm maior nível de insatisfação, mostra estudo em 11 países

Representação de emoji triste: jovens têm maior nível de insatisfação, mostra estudo em 11 países

Publicado em 22 de fevereiro de 2025 às 08h30.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2025 às 08h51.

Estudiosos de bem-estar documentaram uma tendência clara sobre a felicidade ao longo dos anos: jovens começavam com altos níveis de satisfação, essa felicidade caía na meia-idade, atingindo um ponto baixo por volta dos 40 ou 50 anos, e depois subia novamente na velhice. Esse ciclo, conhecido como "padrão em U", agora parece ter desaparecido.

Segundo um novo relatório do National Bureau of Economic Research (NBER), um dos principais centros de pesquisa econômica do mundo, jovens adultos (pessoas com até 25 anos) são hoje o grupo etário mais insatisfeito com a vida em seis países de língua inglesa — Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Irlanda.

O estudo analisou dados de 11 pesquisas nacionais e internacionais e concluiu que, desde 2010, a satisfação com a vida entre jovens adultos está em queda constante. Ao mesmo tempo, a felicidade dos mais velhos se manteve estável ou até aumentou.

"Há evidências amplas em todos esses países de língua inglesa de que, desde 2020, a felicidade e a satisfação com a vida aumentam com a idade. Em várias dessas pesquisas, também observamos que o sofrimento mental diminui com o passar dos anos", diz trecho do estudo.

"A curva em U no bem-estar por idade, que existia nesses países, desapareceu, sendo substituída por uma crise de bem-estar entre os jovens", prosseguem os pesquisadores Jean Twenge e David G. Blanchflower.

Entre os fatores apontados para essa mudança estão o impacto das redes sociais, o declínio da interação social presencial, o aumento da desigualdade econômica e os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19.

"Havia uma grande quantidade de evidências, até por volta de 2015, de que o bem-estar ao redor do mundo seguia um padrão em U, enquanto o sofrimento mental apresentava uma curva em formato de corcova. Esse fenômeno foi relatado em 145 países (Blanchflower, 2021), principalmente com base em dados anteriores à Covid-19", pontua o estudo.

Com a chegada da pandemia, a impressão é de que o confinamento e suas consequências haviam mudado a sensação de bem-estar no mundo. "Mas, na realidade, as transformações já haviam começado antes, e a Covid-19 parece ter apenas intensificado essa tendência", afirma o estudo.

O fim da curva da felicidade?

Historicamente, pesquisas sobre bem-estar subjetivo indicavam que o momento mais difícil da vida ocorria na meia-idade, apontam os pesquisadores, um momento em que as responsabilidades profissionais e familiares pesavam mais e as expectativas da juventude colidiam com a realidade.

No entanto, a nova evidência sugere que essa "crise da meia-idade" foi substituída por uma "crise da juventude".

Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas do Behavioral Risk Factor Survey e do General Social Survey mostraram que a satisfação com a vida entre jovens caiu abruptamente na última década, enquanto entre os mais velhos permaneceu estável.

No Reino Unido, dados do Eurobarometer indicam um padrão semelhante. Em todos os países analisados, a felicidade não segue mais um formato em U, mas sobe linearmente com a idade — ou seja, quanto mais velho, maior a satisfação com a vida.

"A curva em U da felicidade, na qual os níveis eram mais baixos na meia-idade, desapareceu nesses países. Agora, a felicidade aumenta de forma relativamente constante com a idade", diz trecho da pesquisa.

O papel das redes sociais e da economia

Uma das explicações levantadas pelo estudo é o impacto da tecnologia na saúde mental dos jovens. Os pesquisadores apontam que a deterioração do bem-estar começou por volta de 2012, coincidindo com o aumento do uso de smartphones e redes sociais. "Há um número crescente de evidências nos EUA de que a saúde mental dos jovens começou a se deteriorar por volta de 2012. Isso coincidiu com o aumento do uso de smartphones e redes sociais", diz trecho do estudo.

Os pesquisadores também sugerem que a substituição do contato humano por interações digitais pode ter contribuído para a queda no bem-estar. Segundo eles, o declínio na interação social presencial pode ser um fator-chave.

Outro fator relevante é a instabilidade econômica, que afeta diretamente os jovens adultos. O estudo aponta que crises econômicas recentes tiveram impacto negativo no bem-estar, incluindo a recessão de 2008, a pandemia de Covid-19 e a alta inflacionária pós-pandemia.

O aumento da desigualdade de renda e o custo crescente da moradia também são apontados como fatores que afetam a felicidade dos jovens.

Enquanto os mais velhos já superaram esses desafios e se beneficiam de aposentadorias mais seguras e redes de apoio estruturadas, os jovens enfrentam maior insegurança no mercado de trabalho e dificuldades para atingir marcos tradicionais de independência, como comprar uma casa ou garantir estabilidade profissional, aponta o estudo.

Uma geração menos feliz?

Os dados sugerem que a queda na felicidade entre os jovens não é um fenômeno isolado, mas uma tendência de longo prazo.

Em países como Austrália e Canadá, por exemplo, aumentaram significativamente os diagnósticos de depressão e a prescrição de antidepressivos, especialmente entre mulheres jovens. No Reino Unido, a proporção de adolescentes que relatam sintomas de ansiedade ou depressão subiu mais de 50% na última década.

Se no passado o bem-estar aumentava com a idade, a pergunta que permanece é: os jovens de hoje alcançarão níveis mais altos de felicidade no futuro ou essa insatisfação os acompanhará ao longo da vida?

Os pesquisadores finalizam o paper recomendando mais pesquisas para explorar as razões por trás do fenômeno. "O que pode ser feito a respeito?", questionam.

A pergunta seguirá.

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