Agência de notícias
Publicado em 12 de julho de 2025 às 08h48.
Ovidio Guzmán López, filho do célebre narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán e sucessor do pai como um dos líderes do Cartel de Sinaloa, declarou-se culpado nesta sexta-feira (11) por acusações de narcotráfico perante a Justiça dos Estados Unidos.
Preso sem direito a fiança após sua extradição do México para os Estados Unidos em 2023, Ovidio Guzmán apresentou formalmente sua declaração de culpabilidade durante uma audiência em um tribunal federal de Chicago, informou o Departamento de Justiça.
A promotoria afirmou que "Guzmán López, de 35 anos, se declarou culpado de duas acusações de conspiração para o tráfico de drogas e duas acusações de participação consciente em uma organização criminosa contínua".
Conhecido como "El Ratón", ele já havia assinado um documento em 30 de junho no qual antecipava que se declararia culpado para evitar um julgamento em um tribunal do júri e uma eventual sentença mais severa caso fosse condenado.
A juíza federal Sharon Johnson Coleman não definiu uma data para a sentença. No entanto, esse acordo provavelmente resultará em uma pena de prisão muito inferior à prisão perpétua imposta a seu pai, "El Chapo", após um julgamento midiático em 2018.
As autoridades americanas acusam Ovidio, Joaquín e seus meio-irmãos Archivaldo Iván e Jesús Alfredo Guzmán Salazar de serem os líderes de "Los Chapitos", uma facção do Cartel de Sinaloa, designado pelo atual governo de Donald Trump como uma organização "terrorista" global.
Perguntada sobre o acordo com Ovidio Guzmán, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, apontou nesta sexta-feira uma "falta de coerência" das autoridades dos Estados Unidos ao negociarem com o integrante de uma organização que consideram "terrorista".
Em visita a Sinaloa, Sheinbaum afirmou que este "não é um assunto do Governo" e, quando questionada se sua visita ao reduto dos Guzmán estava relacionada com a declaração de culpabilidade do filho de "El Chapo", respondeu: "Claro que não."
"Essa declaração de culpa é mais um passo importante para responsabilizar o Cartel de Sinaloa e seus líderes por seu papel no agravamento da epidemia de fentanil que tem afetado tantos norte-americanos", afirmou o promotor federal Jay Clayton.
O Departamento de Justiça disse que Ovidio Guzmán reconheceu que ele e seus três irmãos assumiram a liderança do Cartel de Sinaloa quando seu pai foi preso em 2016 e finalmente sentenciado em 2019.
No acordo de culpabilidade, "admitiu que coordenou o transporte de cocaína, heroína, fentanil e outras drogas e precursores químicos do México até a fronteira com os Estados Unidos, em alguns casos com carregamentos de centenas ou milhares de quilos", indicou a promotoria.
Além disso, disse que "utilizou veículos, vagões de trem, túneis, aviões e outros meios" para traficar as drogas, e lavou os lucros ilícitos por meio de "transferências bancárias, comércio de bens e criptomoedas", acrescentou.
Também reconheceu que "ele e seus parceiros do cartel cometeram atos de violência contra agentes da lei, civis e traficantes rivais".
Mike Vigil, ex-chefe de operações da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês), disse à AFP que o acordo poderia oferecer às autoridades americanas "informação valiosa" sobre como o cartel obtém os precursores químicos, bem como quais empresários e políticos o protegem.
É a primeira vez que um dos filhos de "El Chapo" assina um acordo com promotores americanos.
O próximo pode ser Joaquín Guzmán, preso em Chicago sem direito a fiança desde que, em julho de 2024, aterrissou em companhia de Ismael "El Mayo" Zambada — cofundador do Cartel de Sinaloa junto com seu pai — em um aeródromo no Texas.
Zambada afirmou que foi vítima de um sequestro por parte de seu afilhado em troca de benefícios com a Justiça dos Estados Unidos. Dezessete familiares de Ovidio Guzmán entraram nos Estados Unidos como parte do acordo, lembrou Vigil.
Ovidio Guzmán López ganhou notoriedade ao ser detido no México em outubro de 2019 e posteriormente libertado pelo então presidente Andrés Manuel López Obrador, em meio a uma ofensiva armada conhecida como o "Culiacanazo".
O ex-presidente defendeu essa decisão com o argumento de que se evitou um banho de sangue, uma vez que contingentes militares ficaram praticamente cercados por pistoleiros com armas de grosso calibre. Em janeiro de 2023, quando López Obrador ainda estava no poder, Ovidio Guzmán foi novamente capturado e depois extraditado para os Estados Unidos.
O governo Trump anunciou no mês passado novas sanções contra "Los Chapitos" pelo tráfico de fentanil e aumentou para US$ 10 milhões (R$ 55,7 milhões) a recompensa pelos dois irmãos ainda foragidos.
A administração americana culpa a liderança de Archivaldo Iván Guzmán pela onda de violência que sacode "México e Estados Unidos contra civis, forças de segurança e membros de cartéis rivais".
Após a detenção de "El Mayo" Zambada, a violenta luta interna entre seus herdeiros e os filhos de "El Chapo" deixou mais de 1.200 mortos e 1.400 desaparecidos no estado de Sinaloa, segundo dados oficiais.