Agência de notícias
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 10h05.
Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 10h26.
Os super-ricos devem pagar mais impostos? O novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, parece disposto a romper este tabu consolidado no mandato do presidente Emmanuel Macron, entre pedidos de "justiça fiscal".
Lecornu poderia dar este passo em seu plano orçamentário para 2026, que começou a debater nesta quarta-feira, 17, para evitar que o Parlamento derrube seu governo, como aconteceu com seus dois antecessores.
Para alcançar uma maioria estável, o político de centro-direita busca o apoio da oposição socialista, que exige várias medidas, como a implementação da "taxa Zucman".
A medida taxaria em 2% ao ano os patrimônios superiores a € 100 milhões (R$ 626 milhões), o que afetaria 0,01% dos contribuintes, segundo seu promotor, o economista francês Gabriel Zucman.
A medida permitiria arrecadar € 20 bilhões (R$ 125 bilhões anuais), segundo o economista de 38 anos. Uma receita importante quando o governo, sob pressão, busca reduzir o déficit (5,8% do PIB em 2024) e a dívida pública (114%).
Este valor representaria quase metade da economia que o antecessor de Lecornu, François Bayrou, propôs em seu plano orçamentário para 2026, que incluiu cortes sociais e a eliminação de dois feriados. O Parlamento rejeitou.
"Estamos diante de um bloqueio orçamentário, político, pela recusa em abordar seriamente o problema da não tributação dos super-ricos", disse Zucman à rádio France Inter.
As demandas por "justiça fiscal" estiveram presentes durante os protestos de 10 de setembro, assim como na greve convocada pelos sindicatos para quinta-feira. "O orçamento será decidido nas ruas", garantiu a líder do CGT, Sophie Binet.
As autoridades preveem 400 mil manifestantes, o dobro da anterior.
Segundo uma pesquisa da Ifop, contratada pelos socialistas e divulgada na terça-feira, 86% dos franceses são favoráveis à "taxa Zucman" e 79% apoiam a redução dos subsídios às grandes empresas.
O novo primeiro-ministro prometeu "rupturas" com seus antecessores. Entre seus primeiros anúncios está a renúncia à supressão de feriados e o fim dos benefícios "vitalícios" para ex-membros do governo.
Embora tenha se declarado "disposto" a trabalhar por "justiça fiscal", fechou as portas para a taxa Zucman. Seus aliados republicanos (direita) no governo a rejeitam, assim como a oposição de extrema direita de Marine Le Pen.
A federação patronal Medef também ameaçou com uma "grande mobilização" dos grandes empresários, caso os impostos sejam aumentados, e qualificou a taxa Zucman como "forma de expropriação".
Este aviso é inédito durante o mandato de Macron, que, desde sua chegada ao poder em 2017, reduziu os impostos às empresas e grandes fortunas em nome da competitividade e da atratividade da segunda maior economia da União Europeia.
Os subsídios públicos para as grandes empresas representaram pelo menos € 211 bilhões (R$ 1,32 trilhão) em 2023, alertou em julho o Senado, que pediu um maior controle.