Agência de notícias
Publicado em 2 de junho de 2025 às 21h06.
O governo de Donald Trump disse nesta segunda-feira, 2, que planeja eliminar as proteções federais em milhões de hectares de áreas selvagens do Alasca, uma medida que permitiria a perfuração e a mineração em algumas das últimas áreas selvagens intocadas do país. Segundo o secretário do Interior, Doug Burgum, o governo de Joe Biden excedeu sua autoridade no ano passado quando proibiu a perfuração de petróleo e gás em mais da metade da área de 9,3 milhões de hectares, conhecida como Reserva Nacional de Petróleo do Alasca.
A revogação proposta faz parte da agenda agressiva do presidente Trump de "perfurar, perfurar, perfurar", que exige maior extração de petróleo e gás em terras públicas e a revogação de praticamente todas as proteções climáticas e ambientais.
"Estamos restaurando o equilíbrio e colocando nosso futuro energético de volta nos trilhos", disse Burgum em um comunicado.
A Reserva Nacional de Petróleo do Alasca é uma área ecologicamente sensível a cerca de 960 quilômetros ao norte de Anchorage, delimitada pelo Mar de Chukchi a oeste e pelo Mar de Beaufort ao norte. É a maior área de terras públicas dos Estados Unidos. Abrange um habitat crucial para ursos-cinzentos, ursos-polares, renas, milhares de aves migratórias e outros animais selvagens.
Criadas no início dos anos 1900, as reservas foram originalmente concebidas como um suprimento de combustível para a Marinha em tempos de emergência. Mas, em 1976, o Congresso autorizou o desenvolvimento comercial completo das terras federais e ordenou que o governo equilibrasse a perfuração de petróleo com a conservação e a proteção da vida selvagem.
Burgum acusou o governo Biden de priorizar "a obstrução em detrimento da produção e minar nossa capacidade de aproveitar os recursos nacionais em um momento em que a independência energética americana nunca foi tão crítica".
O anúncio foi feito durante a viagem de Burgum ao Alasca, acompanhado por Lee Zeldin, administrador da Agência de Proteção Ambiental (EPA), e Chris Wright, secretário do Departamento de Energia. A expectativa era que os três incentivassem empresas a perfurar em áreas sensíveis, como o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, e apoiassem a construção de um gasoduto de gás natural liquefeito no estado.
O plano para permitir a perfuração na reserva de petróleo recebeu elogios da indústria petrolífera.
As emissões da queima de combustíveis fósseis são o principal fator das mudanças climáticas, que estão aquecendo o planeta e criando novos padrões climáticos perigosos. O Alasca está aquecendo a uma taxa de duas a três vezes mais rápida que a média global, resultando no degelo do permafrost e no derretimento do gelo marinho. Isso também está interrompendo as práticas de caça, pesca e coleta de alimentos das comunidades indígenas.
Grupos nativos do Alasca estão divididos sobre os planos do governo Trump para a região.
— Muitas vezes, decisões federais que afetam nossas terras são tomadas sem o envolvimento dos Inupiat da Encosta Norte, as pessoas mais afetadas por essas decisões — disse Nagruk Harcharek, presidente da Voice of the Arctic Inupiat, que representa organizações de liderança Inupiat na Encosta Norte e apoia projetos de petróleo e gás.
O grupo apoia a autorização de projetos de petróleo e gás na região, e Harcharek disse que a visita de Burgum e outros "mostra que o governo federal vê nossas comunidades e pessoas como parceiros, não como um exercício de cumprimento de obrigações".
Outros disseram que a abertura da reserva ameaçava destruir o habitat das renas e de milhares de aves migratórias, além de colocar em risco as comunidades que dependem da caça de subsistência.
— Isso é muito preocupante para nós — disse Rosemary Ahtuangaruak, ex-prefeita da cidade de Nuiqsut, predominantemente Inupiaq.
Matt Jackson, gerente sênior da Alaska State na The Wilderness Society, um grupo ambientalista, chamou a revogação das proteções ambientais de um ultraje.
— Essa medida vai acelerar a crise climática em um momento em que o solo sob as comunidades do Alasca está literalmente derretendo e os alimentos de subsistência estão em declínio — disse Jackson.
Grupos ambientalistas e a indústria de combustíveis fósseis lutam há décadas pelos lugares mais remotos e intocados do Alasca, que muitas vezes ficam sobre depósitos significativos de petróleo, gás e minerais.
Em seu primeiro dia de mandato, o presidente Trump assinou um decreto abrindo o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico — lar de renas migratórias, ursos-polares, bois-almiscarados, milhões de pássaros e outros animais selvagens — para perfuração. Mas uma venda de arrendamento realizada no local em janeiro fracassou, terminando sem um único licitante.