JD Vance: vice-presidente dos EUA visita a Groenlândia agita o clima político entre os partidos políticos do território (Angela Weiss/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 28 de março de 2025 às 14h40.
Última atualização em 28 de março de 2025 às 15h01.
Horas antes da chegada do vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, à base militar americana de Pituffik nesta sexta-feira, partidos políticos da Groenlândia anunciaram um acordo de coalizão para formar um novo governo, em resposta à crescente pressão da Casa Branca e às ameaças do presidente Donald Trump de anexar o território autônomo da Dinamarca.
O Força Aérea 2, que transportou a delegação dos EUA, pousou por volta de 13h na Base Espacial de Pituffik. No entanto, o vice americano apenas acenou para as câmeras e não falou com os repórteres, mas fez um pronunciamento diante dos militares americanos.
— Temos algum interesse na Groenlândia por parte do governo Trump — afirmou o vice americano. Sobre a segurança no Ártico, Vance disse que "essa é uma grande questão, e só vai ficar maior nas próximas décadas". — É um grande problema. Trump está realmente interessado na segurança do Ártico.
De acordo com o gabinete de Vance, a visita à base permitirá que o vice “seja informado sobre questões relacionadas à segurança do Ártico” e se reúna com tropas americanas. A presença de Usha Vance foi mantida, ainda que limitada à instalação militar. A delegação dos EUA também é composta pelo secretário de Energia, Chris Wright, o conselheiro de Segurança Nacional, Michael Waltz, e o senador republicano Mike Lee.
A formação do novo governo ocorreu momentos antes da polêmica visita. No início da semana, a Casa Branca anunciou a viagem como uma iniciativa da segunda-dama, Usha Vance, para conhecer a tradicional corrida de trenós puxados por cães em Sisimiut. Porém, após forte pressão de autoridades dinamarquesas e groenlandesas, o itinerário da delegação americana mudou. A visita foi redirecionada exclusivamente para a base militar de Pituffik, localizada na remota costa noroeste da ilha, com a presença do vice-presidente.
O novo governo será liderado por Jens-Frederik Nielsen, do partido Demokraatit, que venceu as eleições gerais realizadas no início do ano. A aliança governamental une quatro partidos em um esforço diante das investidas dos EUA.
— É um momento em que nós, como população, estamos sob pressão — declarou Nielsen durante uma coletiva de imprensa. — Peço a todos que deixem de lado suas diferenças e formem uma coalizão para mostrar unidade enquanto o presidente dos EUA faz campanha para anexar o território. A Groenlândia deve falar com uma só voz.
A visita elevou ainda mais as tensões, após o presidente Trump reafirmar, na quarta,-feira sua intenção de adquirir a Groenlândia.
— Precisamos da Groenlândia para a segurança internacional. Ela tem de ser nossa. Detesto dizer isto, mas vamos ter de tomar posse deste vasto território ártico — afirmou o republicano.
Enquanto isso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, descreveu a ambição de Trump sobre a Groenlândia como um projeto “sério” e alertou que o Ártico poderia se tornar “um trampolim para possíveis conflitos”.
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, chamou a visita da delegação americana de "pressão inaceitável". O ministro das Relações Exteriores, Lars Løkke Rasmussen, afirmou que nenhum representante do governo dinamarquês encontrará a comitiva dos EUA.
— Isto é sobre um vice-presidente americano que vai visitar sua própria instalação militar na Groenlândia. Não tem nada a ver conosco — declarou Rasmussen.
Autoridades groenlandesas também criticaram duramente a visita. Múte Egede, líder do governo local, classificou a presença de Vance como “altamente agressiva”. Já Rasmus Jarlov, presidente do comitê de Defesa, foi enfático em entrevista à CNN.
— Não podemos entregar 57 mil dos nossos cidadãos para se tornarem americanos contra a vontade deles. Não vamos recuar. Não vamos entregar a Groenlândia, independentemente do tipo de pressão que nos seja aplicada — disse Jarlov.
A base de Pituffik, que abriga atualmente uma instalação da Força Espacial dos EUA, é considerada estratégica pelo Pentágono por estar localizada na rota mais curta entre a Rússia e os Estados Unidos para mísseis balísticos.
Ela também serve como ponto de monitoramento do Hemisfério Norte. O governo americano alega que a Dinamarca tem negligenciado a segurança da ilha, acusação reforçada por J.D. Vance em fevereiro, quando afirmou que o país europeu “não está sendo um bom aliado”.
Em resposta, o governo dinamarquês anunciou em janeiro um investimento de US$ 2 bilhões para fortalecer sua presença militar no Ártico e no Atlântico Norte.