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Ministro da Fazenda, Fernando Haddad participa de eventos preparatórios que podem definir sucesso do Brasil na mobilização de US$ 1,3 trilhão para países em desenvolvimento. (Diogo Zacarias/MF)
Editora ESG
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 12h57.
Última atualização em 31 de outubro de 2025 às 13h05.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assume nos próximos dias uma das agendas mais estratégicas da reta final pré-abertura oficial da COP30, com participações em eventos que podem contribuir de forma significativa para o sucesso do Brasil como anfitrião da conferência climática.
Entre 3 e 4 de novembro, ele participa de eventos preparatórios em São Paulo, em negociações para avançar em iniciativas que vão da mobilização do setor privado à formalização de instrumentos financeiros inovadores. No dia 6, já em Belém, participa da Cúpula de Líderes da COP30.
A sequência de compromissos começa na segunda-feira, 3, em encontros organizados pela Bloomberg sobre finanças climáticas.
No primeiro, às 13h30, o ministro divide mesa com seu assessor especial, Marcos Marquezini, para debater como atender de forma sustentável as necessidades energéticas da inteligência artificial - tema que conecta a reforma tributária brasileira ao Plano de Transformação Ecológica.
Às 14h30, Haddad se reúne bilateralmente com Teresa Ribera, vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pela transição limpa, justa e competitiva.
O encontro ocorre em momento delicado para as negociações entre Mercosul e União Europeia, mas deve concentrar-se nas convergências climáticas entre os dois blocos.
A expectativa é de que a conversa prepare o terreno para a sessão seguinte, o Diálogo de Alto Nível que começa às 15h30 e apresentará as recomendações do Círculo de Ministros de Finanças - iniciativa inédita proposta pela presidência brasileira da COP30 para discutir mecanismos financeiros voltados ao clima.
O documento consensualizado em Washington por cerca de 30 países será agora submetido ao debate com representantes do setor privado, organizações internacionais e filantropias, em formato dinâmico que privilegia a interação direta.
Um dos destaques da reunião será a apresentação da Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono, uma declaração que deve ser assinada por Brasil, União Europeia e outros países, estabelecendo diretrizes para harmonização e interoperabilidade dos mercados regulados.
Na terça-feira, 4, Haddad participa de café da manhã privado com empresários e representantes da sociedade civil brasileira. O objetivo é engajar esses atores em torno do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e discutir estratégias de desenvolvimento da iniciativa após a Cúpula de novembro.
O encontro contará com a participação do professor Winston Fritsch, autoridade nacional que tem colaborado ativamente no desenvolvimento do TFFF junto à presidência da COP30.
O fundo propõe um modelo inovador baseado em investimento perpétuo, não apenas em doações, para remunerar diretamente a conservação florestal.
Às 9h, o ministro deve participar da sessão de abertura do Bloomberg Green Summit, em evento aberto ao público. Embora ainda não confirmado oficialmente, há expectativa de que Luiz Mercadante, presidente do BNDES, também participe da abertura, reforçando o alinhamento institucional brasileiro nas finanças climáticas.
Na quarta-feira, 5, à noite, Haddad participa no Rio de Janeiro do Earthshot Prize (iniciativa do príncipe William que reconhece soluções inovadoras para desafios ambientais), ao lado de outras autoridades brasileiras.
No dia seguinte, 6 de novembro, o ministro se junta aos chefes de Estado e demais autoridades internacionais em Belém para a Cúpula de Líderes.
Ainda não há confirmação sobre sua participação em outros dias da COP30, que se estende de 10 a 21 de novembro.
De acordo como a comunicação do Ministério da Fazenda, a agenda ainda está em avaliação, considerando como conciliar com compromissos domésticos.
A centralidade de Haddad nos eventos preparatórios reflete o protagonismo que o Brasil conquistou ao propor o Círculo de Ministros de Finanças.
Desde abril, a iniciativa funcionou como uma plataforma estruturada de consultas regulares, envolvendo representantes de ao menos 35 ministérios da Fazenda ou Economia, bancos multilaterais, sociedade civil, setor privado e organismos internacionais.
Conforme apresentado pelo ministro na Pré-COP de Brasília, em 13 de outubro, foram realizadas mais de 25 consultas formais ao longo de 2025, apoiadas por três grupos consultivos que ofereceram orientação técnica e asseguraram a inclusão de diferentes perspectivas na governança do financiamento climático.
O relatório final do Círculo, que consolida mais de 1.200 contribuições de países e instituições, estabelece cinco prioridades estratégicas para ampliar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento.
Entre elas, destaca-se a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento, tornando-os mais ágeis, integrados e capazes de catalisar capital privado.
A agenda de Haddad ocorre em momento delicado no contexto de compromissos climáticos globais.
Apenas pouco mais de 60 dos 197 países signatários da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) entregaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2035, com prazo original vencido em fevereiro e prorrogado até esta semana.
A União Europeia, por exemplo, chegou à Pré-COP apenas com uma "carta de intenções", após França e Alemanha se juntarem a Polônia e Itália para adiar decisões climáticas.
A ausência dos Estados Unidos também ilustra dificuldades estruturais que podem comprometer o próprio sistema de governança climática global.
As articulações costuradas previamente em São Paulo são fundamentais para caminhar com os acordos que darão continuidade ao Roteiro Baku-Belém, compromisso definido na COP29 para mobilizar o esperado volume de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático anual para países em desenvolvimento até 2035.