Redação Exame
Publicado em 4 de julho de 2025 às 16h55.
Última atualização em 4 de julho de 2025 às 17h15.
O grupo palestino Hamas enviou uma resposta positiva à proposta de cessar-fogo para a Faixa de Gaza, liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O acordo prevê uma trégua de 60 dias, a liberação de reféns ainda mantidos no território e o retorno da ajuda humanitária.
O papel de Trump, como garantidor do cessar-fogo e das futuras conversas sobre o fim do conflito, foi um elemento crucial para o avanço das negociações.
"Entregamos aos mediadores, Catar e Egito, nossa resposta à proposta de cessar-fogo", afirmou uma autoridade do Hamas, em entrevista à Reuters. "A resposta do Hamas é positiva e acredito que deve ajudar e facilitar a obtenção de um acordo", completou o oficial palestino.
De acordo com o jornal al-Araby, do Catar, o Hamas concordou com os "pontos principais" do plano, mas solicitou algumas modificações na linguagem do texto antes de sua aprovação final. O grupo indicou que daria uma resposta definitiva sobre o plano ainda nesta sexta-feira.
O plano proposto, que é semelhante a negociações anteriores mediadas pelos EUA, Catar e Egito, estabelece uma primeira etapa de cessar-fogo de 60 dias, durante a qual ambas as partes devem cumprir a trégua sem violações. O Hamas se comprometeu a libertar dez dos aproximadamente 20 reféns israelenses ainda vivos em Gaza e a entregar os restos mortais de 18 reféns mortos no cativeiro. Em troca, Israel liberaria um número ainda não especificado de prisioneiros palestinos.
Além disso, o plano prevê a retomada da entrada de ajuda humanitária por meio de canais tradicionais, como as Nações Unidas, em vez de depender exclusivamente da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada pelos EUA e Israel, mas questionada pela ONU. A retirada das tropas israelenses, um ponto controverso, também está contemplada: elas devem se retirar de pontos acordados no norte de Gaza no primeiro dia de cessar-fogo e do sul após a troca de reféns.
Um dos aspectos mais destacados das negociações foi o compromisso assumido por Trump em garantir não apenas o cessar-fogo, mas também que os termos do plano, incluindo as futuras negociações sobre o fim definitivo da guerra e a libertação de todos os reféns, sejam cumpridos.
Em março, após um impasse sobre a segunda fase de um cessar-fogo, Israel retomou os ataques contra Gaza, alegando a necessidade de uma operação preventiva contra o Hamas. Agora, Trump se comprometeu a assegurar que Israel não viole a trégua e que as partes cumpram suas obrigações.
Na terça-feira, Israel concordou com o plano, que será discutido pelo Gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que viajará para os EUA na próxima semana. Trump, em sua rede social, Truth Social, expressou esperança de que o Hamas aceite o acordo, alertando que, caso contrário, a situação só piorará. "Espero, para o bem do Oriente Médio, que o Hamas aceite este acordo", escreveu o presidente dos EUA.
Apesar dos avanços nas negociações, questões importantes permanecem em aberto. Em março, Netanyahu havia proposto um plano para assumir o controle de Gaza e realocar a população, uma medida amplamente criticada pela comunidade internacional. Além disso, não está claro se Israel manterá alguma presença militar em Gaza após um eventual acordo final. Netanyahu já afirmou que não abriria mão de manter zonas de segurança ao longo das fronteiras com Israel e o Egito, enquanto alguns aliados de seu governo defendem uma ocupação permanente de Gaza e o desarmamento completo do Hamas.
A situação humanitária também continua sendo uma grande preocupação. De acordo com a UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos, 85% do território de Gaza está sob controle militar israelense ou sob ordens de retirada forçada. Desde março, quando o último cessar-fogo foi rompido, cerca de 714 mil civis foram deslocados internamente. A insegurança em relação ao retorno dos civis às suas casas e a falta de uma estratégia clara para a movimentação segura da população continuam a ser desafios enormes.
Nas horas que antecederam o anúncio do cessar-fogo, Israel intensificou seus ataques a Gaza, resultando em mais de 100 mortos entre quinta e sexta-feira, incluindo em áreas próximas a pontos de distribuição de alimentos. As autoridades israelenses limitaram a movimentação e o abastecimento, criando um novo método militarizado de distribuição de alimentos, o que tem gerado críticas internacionais.
De acordo com a ONU, desde maio, 613 pessoas foram mortas perto de postos de ajuda em Gaza, sendo 509 em áreas controladas pela GHF. A porta-voz do Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, afirmou que as informações continuam chegando e que a situação é inaceitável.
"Essa carnificina precisa parar agora", afirmou Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador de emergências da ONG Médicos Sem Fronteiras, alertando para a crise humanitária que afeta a população de Gaza.